A crise econômica de 2007-2009 abalou fortemente a ideologia da supremacia do capitalismo. A grande campanha da “morte do socialismo”, difundida após a restauração do capitalismo no Leste Europeu, foi golpeada por uma crise econômica que colocou o planeta à beira de uma depressão semelhante à de 1929.

A gigantesca operação de contenção da crise feita pelos governos imperialistas, que injetaram 24 trilhões de dólares de dinheiro público para salvar as grandes empresas, conseguiu bloquear a queda livre da economia. Uma recuperação parcial se efetivou em 2009 sem resolver nenhum das contradições geradoras da crise. Ao contrário, seguiu a superprodução assim como uma enorme quantidade de títulos especulativos em mãos das grandes empresas. E se agravou ainda mais a situação, ao se gerar outra bolha financeira (a maior de todas), com o dinheiro dado pelos governos para as empresas transformado em mais capital especulativo.

Agora a crise europeia começa a derrubar mais uma ideologia do capital, de que a “crise acabou”. A grande bolha financeira começou a vir abaixo na Grécia, que está à beira da moratória, devendo arrastar também Portugal e Espanha. Junto com isso, o proletariado europeu (de maior tradição de lutas em todo o mundo) começou a se colocar em movimento, enfrentando os brutais planos de austeridade impostos pelo FMI.

O novo episódio da crise econômica, assim como a reação do proletariado europeu, reafirma a atualidade do socialismo. Não existe saída para crises econômicas do capital sem a expropriação das grandes empresas e a ruptura com o imperialismo.
Não existe possibilidade de lutar pelo socialismo sem que o proletariado se coloque decididamente em ação. Mesmo com o bloqueio das direções burocráticas, as greves gerais na Grécia e as mobilizações na Espanha e em Portugal indicam uma nova disposição para a luta e uma grande fermentação política na Europa.

Os trabalhadores e jovens no Brasil acreditam em sua maioria no governo, e acham que a crise não chegará ao Brasil. Estão enganados, e terão que fazer sua própria experiência para comprovar isto. É preciso levantar com força as bandeiras da luta dos trabalhadores e do socialismo para o Brasil de agora.

Existe uma parcela importante dos ativistas sindicais, estudantis e populares que entendem os sinais que nos chegam da Europa. Uma parcela importante deles estará reunida nos congressos da Conlutas e no Conclat. Estes congressos preparam o que pode ser a maior vitória do movimento de massas nesses dois mandatos de Lula: a criação de uma nova central unificada.

Essa nova central já nascerá sob as perspectivas abertas pelo novo episódio da crise econômica europeia. Terá de encaminhar um plano de lutas que se enfrente com suas consequências imediatas no Brasil, como o arrocho salarial do funcionalismo, a dureza do governo contra os aposentados, o corte nos gastos públicos.

E se preparar para grandes lutas quando a crise impactar de forma mais direta o país, com uma nova recessão que deve ocorrer durante o mandato do novo governo eleito em outubro. O enfrentamento da crise com as lutas diretas dos trabalhadores será muito mais fácil com a criação da nova central unificada a ser fundada em junho.

Essa é uma batalha fundamental, mas não a única. As eleições de outubro estão polarizadas entre duas propostas burguesas – Dilma e Serra – que defendem a continuidade do mesmo plano neoliberal do país. A “terceira via” de Marina Silva é, na verdade, mais uma alternativa do capitalismo.

Essas alternativas burguesas querem simplesmente enganar os trabalhadores. Dilma propõe “erradicar a pobreza até 2014”. Isso seria irrealizável sob o capitalismo, mesmo se não houvesse crise econômica. A desigualdade é a marca do capital, e basta ver a situação dos trabalhadores nos EUA, cada vez com maior pobreza, para entender a dimensão do engano defendido pelo governo Lula e sua candidata. Com a crise europeia, a proposta de Dilma aparece como mais uma das promessas eleitorais típicas das enganações da política burguesa. Serra, por seu lado, busca fazer esquecer o governo FHC, e aparecer como a “continuidade de Lula”. Marina quer aparecer como “algo novo” defendendo a política econômica dos governos FHC e Lula.

É necessário construir uma alternativa dos trabalhadores, claramente distinta dessas três propostas enganosas da burguesia. É possível afirmar uma alternativa socialista que dialogue com os trabalhadores e aponte o futuro, apostando na experiência inevitável com o novo governo eleito em outubro, seja Dilma ou Serra.
A pré-candidatura a presidente de Zé Maria expressa esse desafio. Apresenta um operário oposto à Lula e sua candidata. Isso concretiza um compromisso classista, em oposição a todos os acordos políticos e financeiros com a burguesia, seus representantes e partidos.

Tem a audácia de propor com clareza um programa socialista, que defende a estatização sob controle dos trabalhadores dos bancos e das grandes empresas multinacionais e nacionais. Defende a ruptura com o imperialismo e o não pagamento das dívidas externa e interna.

Infelizmente não foi possível construir uma candidatura unificada da oposição de esquerda, pelas diferenças programáticas existentes. Nessa situação, a candidatura de Zé Maria se propõe a expressar esse conteúdo programático classista e socialista, mais amplo que as fileiras do PSTU. Chamamos todos aqueles lutadores que estejam de acordo com a defesa aberta e clara de um programa socialista a se somar conosco e ajudar a construir essa campanha.
Post author Editorial do Opinião Socialista nº 405
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