A Coordenação Nacional de Lutas, a Conlutas, está realizando, nesse fim de semana, a reunião de sua direção nacional, no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Pouco antes da instalação da primeira mesa de debates (sobre conjuntura política), conversamos com Atnágoras Lopes, trabalhador e dirigente sindical da construção civil de Belém, e membro da Executiva Nacional da Conlutas. Antes do início da reunião, já estavam presentes cerca de 60 das 80 entidades sindicais, estudantis e populares aguardadas. Atenágoras nos falou sobre as expectativas para esta reunião, que tem, entre seus principais temas a organização do Dia Nacional de Lutas e Paralisações, em 14 de agosto.

Qual é a importância desta reunião nacional da Conlutas, na atual conjuntura?
Atnágoras –
Esta reunião tem uma importância especial porque acontece pouco antes de 14 de agosto, o
Dia Nacional de Paralisação convocado por todas as centrais sindicais. Para as entidades que constroem a Conlutas, isto tem uma especificidade ainda maior, porque houve todo um debate que distingue nossa política para enfrentar a crise da apontada por outras centrais, inclusive no que diz respeito ao caráter do dia 14.

Quais são as principais diferenças?
Atnágoras – Nós, acertadamente, realizamos uma ação unificada no dia 30 de março, mas já ali disputamos o caráter da atividade. Nossa idéia era fazer paralisações, onde fosse possível, e outros tipos de ações diretas contra as políticas do governo, mas não houve acordo com os setores governistas. E esse debate se instalou, de novo, em relação ao dia 14. Isso foi um divisor de águas, que fez, inclusive, com que a Conlutas não assinasse a nota proposta pelas demais centrais. Isso não significa que nós rompemos a unidade. O problema é que a nota aprofundava ainda mais a omissão de críticas ao governo e ainda deixava transparecer que a proposta do governo Lula de dar “incentivos” às empresas é uma política correta.
Jamais poderíamos assinar a nota como estava porque acreditamos que, neste momento, mais do que nunca, disputar a consciência dos trabalhadores é fundamental. Não só no Brasil, mas no mundo inteiro, a agonia do capitalismo segue, de forma lenta, enquanto trilhões de dólares estão sendo despejados nas grandes empresas, ressuscitando, inclusive, verdadeiros “cadáveres”, como o caso da General Motors, uma empresa que faliu e é apresentada, agora, como uma nova empresa nascendo.

Como a Conlutas pretende levar este debate na organização do dia 14?
Atenágoras –
Nós queremos paralisações em alguns setores importantes no dia 14. Isto não é só necessário, mas possível! Já existem, agora, várias categorias em processo de mobilização devido a suas campanhas salariais, como bancários, petroleiros, trabalhadores dos correios, metalúrgicos…

Neste sentido, qual é a proposta que a Executiva da Conlutas apresentará nesta reunião?
Atenágoras –
Há uma proposta que já está sendo discutida e deliberada em várias das entidades de base da Conlutas há algum tempo. Por exemplo, os petroleiros (que acabaram de fundar uma nova organização nacional, a Federação Nacional de Petroleiros, a FNP, filiada à Conlutas), em seu congresso já votaram buscar paralisar a categoria no dia 14; os trabalhadores dos Correios também em seu congresso nacional, e sob a orientação da política da Conlutas (apesar da direção majoritária ser governista), aprovaram o dia 14 como dia nacional de paralisação e os bancários tiveram um encontro nacional na semana passada que também votou nossa proposta de tentar paralisar a categoria. Então, o que vamos tentar fazer aqui, na reunião nacional, é consolidar esta orientação, dando a ela um significado mais estratégico, que é a disputa sobre a consciência e a diferenciação com os setores governistas. Achamos que é possível e necessário. E a quantidade de entidades já presentes aqui dá uma dimensão da força que podemos ter. Uma força que, ainda que minoritária, é importante para disputar esta consciência.

Hoje, estamos praticamente a um ano do último congresso da Conlutas. O que você pode nos dizer sobre o processo de organização e consolidação da entidade, em termos nacionais, e o que vocês estão propondo para esta reunião?

Atenágoras – Estamos numa batalha, vitoriosa até o momento, que é a busca pela unificação com outros setores, como da Intersindical, do MTL, do MTST e demais setores da esquerda brasileira. Já foram feitos dois seminários nacionais e iremos realizar um terceiro, em breve, e também começaremos a reproduzir estes seminários em todos os estados do país. Nossa expectativa é que a gente consiga unificar toda a esquerda numa organização que seja superior à Conlutas.
Paralelo a isto, continuamos reafirmando a Conlutas, o acerto de termos construído a entidade que, hoje, tem uma expressiva representação sindical, popular e estudantil, e continuamos numa disputa política, extremamente saudável e democrática, para manter e aprofundar este caráter da entidade. E as coisas seguem acontecendo, a Conlutas é dinâmica e está sendo construída cotidianamente. Na semana passada, por exemplo, um sindicato do funcionalismo do interior do Ceará se filiou à entidade; outros tantos sindicatos estão no processo regularizando sua situação junto ao Ministério do Trabalho. Isso é fundamental para que a Conlutas continue aprofundando a batalha pela unificação com outros setores de luta e até mesmo para que haja uma vitória em relação ao caráter da entidade. O que queremos e precisamos é de uma forte entidade, que nos permita seguir juntos na luta direta e, também, organizativamente.

Uma das características fundamentais da Conlutas é exatamente seu caráter plural e democrático. Quais são as principais polêmicas esperadas para esta reunião?
Atenágoras –
Acredito que serão feitos debates em torno de temas como a política de unidade de ação com as demais centrais e a dinâmica da reorganização dos trabalhadores. Talvez, também, haja polêmica em torno da não-assinatura da nota conjunta, para o dia 14 de agosto. Mas, temos certeza que o debate no decorrer destes dois dias irá superar e esclarecer todos os pontos. O mais importante é que não temos polêmicas em torno de questões fundamentais, como o caráter da crise capitalista e as bases do programa e do plano de ação para enfrentá-la. Há muito mais unidade do que divergências e as polêmicas são tratadas de forma democrática e profunda.