Delegações de todo o país chegavam ao ginásio Divino Braga na manhã desse dia 3, a poucos momentos da abertura oficial do I Congresso da Conlutas. No rosto dos ativistas, a alegria de reencontrar antigos companheiros. E também o cansaço de muitas horas de viagem.

Uma viagem muitas vezes longa, paga com o esforço dos próprios trabalhadores. “Fizemos rifas, festa junina, vendemos doces, chaveiros, foi bem legal”, explica o operário Diego Pacheco, de Curitiba (PR). A delegação paranaense contou também com estudantes, servidores e ativistas de movimentos populares, que enfrentaram uma cansativa viagem de 17 horas.

Viagem longa, mas não tão longa quanto as horas que os operários da construção civil de Fortaleza (CE) enfrentaram na estrada. Foram nada menos que 48 horas de viagem que os 38 delegados realizaram. “Saímos de Fortaleza na segunda-feira, às 8 horas da manhã e chegamos hoje, quinta-feira, às 9 horas, para a abertura do congresso”, conta Magela, presidente do sindicato da categoria. Para custear a caravana, os operários realizaram sorteios de TV, som e outros produtos eletrônicos.

Apesar do cansaço, a expectativa dos operários era grande. “O pessoal está bastante animado, viemos discutindo os principais temas do congresso no ônibus”, conta Magela. Ao todo, três ônibus saíram da capital cearense rumo a Betim.

Animada foi também a entrada dos ativistas do movimento negro no plenário. “Eô, eô, eô, abram alas minha gente, que o quilombo chegou”, cantavam os integrantes do Afoxé Filhos de Gandhi, do Rio de Janeiro. Apesar das quase 10 horas de viagem, mostravam uma disposição invejável, batendo tambores e diversos instrumentos de percussão.

O movimento, convidado ao congresso, tem 57 anos de existência e promove a arte e cultura negra. “Temos apenas um ano de existência a menos que os Filhos de Gandhi da Bahia, com a diferença de que, ao mesmo tempo em que lá não é permitida a participação de mulheres, aqui a mulher é o coração”, conta Regina Bezerra, diretora da entidade.

Fogo!
A viagem das delegações teve também seus momentos de aventura. O ônibus de estudantes que saiu do Rio de Janeiro rumo a Minas pegou fogo no meio da estrada. “Começou a sair fumaça do ônibus quando chegávamos em Juiz de Fora, tivemos que parar e sair correndo dele”, conta Mariana Menezes, estudante de história da UFRJ.

O ônibus, pago através de rifas vendidas pelos estudantes, não podia contar com muito luxo. “Um pedaço do chão do ônibus estava quebrado e a porta do banheiro não fechava”, conta Mariana. Os estudantes ficaram no frio esperando, de madrugada, que a empresa enviasse outro ônibus.

Apesar das horas de viagens, dos ônibus precários que muitas vezes quebravam no caminho e os poucos recursos, o clima é de muita expectativa e disposição. O fato de ser um evento totalmente financiado pelos próprios trabalhadores é motivo de orgulho aos milhares de delegados. Independência política e financeira que foi e deve seguir sendo princípio da Conlutas.