Paticia debilitada pela greve de fome
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Depois de 110 dias de greve de fome, Patrícia Troncoso Robles, ativista chilena mapuche, decidiu por fim a medida no último dia 28Patrícia foi condenada a 10 anos de prisão pela Lei Antiterrorista, em vigência no Chile desde a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). A militante foi acusada de provocar um incêndio em dezembro de 2001 numa propriedade da empresa florestal Minenco, no município de Ercilla. Ela já cumpriu cinco anos da pena.

O protesto buscava pressionar as autoridades por um novo julgamento, mas também reivindicava a liberdade de todos os presos políticos mapuches, além da desmilitarização da zona de La Araucária. Os mapuches são indígenas que vivem no centro-sul do Chile.

“Se minha morte serve para a liberdade de meus irmãos, eu não vou desistir”, chegou a escrever no momento que completava 74 dias de greve na prisão de Angol, ao sul do Chile. Nos últimos dias, seu estado de saúde se debilitou enormemente e a ativista foi levada para um hospital na região.

Patrícia terminou a greve depois que o governo de Michele Bachelet, do Partido Socialista, aceitou parte de suas reivindicações, que inclui alguns benefícios carcerários. A atitude extrema da ativista, porém, colocou em evidência a situação dos povos mapuches no país. Os mapuches são o maior grupo indígena do país e estão concentrados principalmente nas regiões centro-sul do Chile. Ao longo dos últimos anos travam uma heróica luta pela recuperação de territórios ocupados pela empresa Forestal Mininco – um dos maiores grupos econômicos do país que controla mais de um milhão de hectares com plantações de eucalipto e pinheiros para a produção de celulose. Dentre suas reivindicações estão a devolução de terras e autonomia para os seus territórios.

O governo chileno, por sua vez, trata o povo mapuche com terror e repressão. Sob os governos da Concentación (coligação formada pelo PS e pela Democracia Cristã), foram processados 400 indígenas pela Lei Antiterrorista e pela Lei de Segurança Interior. A repressão foi uma resposta ao ciclo de lutas aberto com as arbitrariedades da Mininco, em 1997.

Durante uma manifestação realizada no dia 2 janeiro, que reivindicava a devolução de terras pertencentes aos indígenas, um jovem mapuche foi assassinado pela polícia. Mesmo com tanta repressão, o governo não conseguiu isolar a greve de fome. Nos últimos quatro meses foram realizadas diversas mobilizações em várias cidades do Chile, inclusive em Santiago. Muitas personalidades denunciaram a criminalização da luta mapuche, entre eles o Premio Nacional de Historia, Gabriel Salazar.