Enterro dos jovens assassinados pela polícia
Agência Brasil

Na noite deste sábado, 28 de novembro, cinco jovens foram brutalmente assassinados no carro em que estavam na comunidade do Largatixa, no Complexo da Pedreira, em Costa Barros, Zona Norte do Rio de Janeiro.

As vítimas foram metralhadas após voltarem de um passeio no Parque Madureira. Carlos Eduardo Esteves Domingos (20) estudante de curso técnico de administração, Wesley Castro Rodrigues (25) encarregado de obras, e também Cleiton Correa de Souza (18) e Roberto Souza Penha (16), que tinham acabado de ser admitidos no programa Jovem Aprendiz, foram executados com mais de 50 tiros disparados pela Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro.

No mesmo mês em 2014, Haissa Motta (22), foi também assassinada. Lucas de Jesus Paes de (17), em outubro último, também executado por carregar um suspensor hidráulico de automóvel que foi confundido com um fuzil. O menino Rafael de Jesus Ferreira, de apenas 10 anos, foi baleado pelas costas na cabeça na comunidade do Alemão. O menino estava indo comprar uma bola.

Esses brutais assassinatos têm em comum a mesma marca: morrem negros, pobres e da periferia. Poderia ser mais uma infeliz coincidência, mas não é! Os assassinos têm nome, os mortos também! Os assassinos têm farda, os mortos têm cor, seus familiares agora padecem de uma mesma dor.

Segundo o relatório do Desenvolvimento Humano (PNUD 2005), os registros do sistema de saúde, baseados nas declarações de óbito, não deixam dúvidas de que “ser preto, jovem, de sexo masculino e solteiro significa ser alvo preferencial da violência letal no Brasil”.

A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, é a mais letal do país. A cada 100 mil habitantes, morreram 3,5 pessoas por conta de alguma intervenção policial. As estatísticas não mentem, antes mesmo do fim de 2015 o Rio de Janeiro já é campeão em número de mortes pelos “autos de resistência” se comparado a todo o acumulado do ano de 2013 de acordo com o Instituto de Segurança Pública do Rio.

Você sabe o que são “Autos de Resistência”?
Funciona desta maneira: quando uma policial mata um suposto “suspeito”, declara sempre que foi por “legítima defesa” e que o suspeito reagiu colocando em risco a vida dos policiais e resistindo a prisão. Quando chega na delegacia o caso será registrado como “auto de resistência” e a testemunha do caso será o próprio policial que participou do assassinato. Isso dá por encerrado qualquer investigação e essas vítimas serão colocadas nas estatísticas como mais um número.

Este “auto de resistência”, apenas no estado do Rio de Janeiro, deixou mortos 481 pessoas entre 2013 e 2014, de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Apesar de não haver lei que o regulamente, ele é protegido pelo artigo 292 do Código Processual Penal, herança das mãos assassinas da ditadura empresarial-militar para as mãos assassinas da polícia militar no Brasil.

Matar pobre não pode ser comum, chega de genocídio!
Foi com essa desculpa esfarrapada do “auto de resistência” que os quatro policiais que disparam contra as vítimas chegaram à delegacia. Na ocasião ainda, forjaram uma arma de brinquedo (pasmem, de brinquedo!) para acusar os jovens de atentar contra os policiais e assim justificar os mais de 50 tiros disparados covardemente. Patética armação que foi desmentida pelas testemunhas e um simples exame de balística.

As declarações das autoridades foram as mais trágicas possíveis. O já cansado secretário de segurança do estado do Rio, José Mariano Beltrame, declarou que o episódio foi “trágico e indefensável”. Perguntado ainda sobre a conduta da polícia que ele comanda, disse descaradamente que, isto é questão de “desvio de caráter” e que a corporação não age por esses pressupostos. Cabe ao leitor julgar se essas palavras são coerentes com os dados de assassinatos que essa polícia tem nas costas.

Assim, sem pestanejar, o Governador do Estado Pezão (PMDB), em um encontro com empresários no Rio declarou que essa ação não tem nada de racismo. Disse ele: “Não é racismo, é erro, e erro a gente combate”, apontando para um projeto de “reciclagem” de policiais e aumento do número de contingente. Para essa declaração afirmamos: há racismo, há extermínio e há genocídio da juventude negra no Brasil!


Carro metralhado pela polícia no Rio

Imagina nas olimpíadas
Festejando o aquecimento econômico que as Olimpíadas trarão aos grandes empresários e aos bancos, Dilma (PT), Pezão (PMDB) e Paes (PMDB) têm um compromisso nítido: garantir de qualquer maneira a “paz e a segurança” para os jogos olímpicos, assegurando o lucro desses empresários, sob a ordem dos escândalos de corrupção e favorecimento de empreiteiras e partidos como PT, PMDB, PSDB entre tantos outros que são os reais bandidos deste país.

Não seria estranho imaginar que a área da comunidade do Largatixa, no Complexo da Pedreira, em Costa Barros na Zona Norte é um local estratégico para este evento. Lá foram colocados, no último trimestre, um maior contingente policial para oprimir com toda força qualquer expressão de violência. Não só lá, mas na Maré, por exemplo, o governo Pezão (PMDB) junto com Dilma (PT), intensificará o número de soldados do exército brasileiro para atacar seu povo. É isso mesmo! Para as olimpíadas serão disponibilizados soldados para a proteção dos jogos, leia-se, para proteger o lucro dos que se beneficiam com o evento. Além dos jovens negros serem proibidos de ir a Zona Centro Sul da cidade – onde existe em maior concentração as opções de lazer, esporte, cultura e etc. – foram também em suas comunidades acuados pela própria polícia e pelo crime organizado, seja o tráfico ou a milícia.

A criminalização da pobreza, causa primeira da morte dos jovens, é financiada pelos governos estaduais e federal. A militarização da polícia e da vida nas comunidades é o que movimenta essa engrenagem. Reciclá-la, aprimorá-la ou formá-la será para que façam cada vez melhor o que vem sendo feito: matar a juventude pobre que resiste nas comunidades! Por isso queremos a desmilitarização já! Pelo fim da polícia militar!

Não é o primeiro, mas podemos fazer ser o último
Para nós do PSTU este caso é mais um caso de racismo e de criminalização da pobreza. Se fosse na Lagoa, se fosse em Ipanema, se fosse na Vieira Souto, teríamos fotos coloridas nas redes sociais, teríamos hastag para homenageá-los. E o que tivemos? Justificativas e lamentações. Podemos fazer algo e é agora! Não há capitalismo sem racismo. As famílias desses jovens recolhem seu sangue escorrido nas sarjetas e protestam contra esse massacre.

Nós, jovens, negros, da periferia, podemos reverter esse quadro com a participação ativa da população e da classe trabalhadora em conjunto. Não se trata de utopia, mas de um objetivo de raça e de classe a ser alcançado. Devemos, acima de tudo, chorar de punhos cerrados, organizados em luta contra qualquer morte, não façamos dessa morte mais um Severino, façamos dessa morte nossa luta, como fizemos sempre, e venceremos!

“E se somos Severinos

Iguais em tudo na vida

Morreremos de morte igual,

Mesma morte Severina:

Que é morte que se morre de velhice antes dos trinta,

De emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia

De fraqueza e de doença é que a morte

Severina ataca em qualquer idade

E até gente não nascida”

João Cabral de Melo Neto – Morte e Vida Severina

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