Pesquisa realizada no final de novembro revela que o governo Lula goza de uma taxa recorde de aprovação. Nada menos que 70% consideram seu governo bom ou ótimo. A maior aprovação entre os presidentes eleitos após a ditadura militar. Mas, o que estaria por trás disso?

Apesar de a crise econômica internacional já começar a afetar o Brasil, seus efeitos ainda não foram sentidos pela grande maioria da população. A percepção que os trabalhadores têm da conjuntura ainda reflete o período de crescimento econômico dos últimos anos. E, para os que já começam a sentir a crise, o discurso do governo é que ela é culpa de Bush e que não afetará muito o país. Desta forma, Lula pôde continuar surfando na onda do crescimento, apesar de sua política neoliberal.
O governo, por suas próprias características, como a origem de Lula e o fato de cooptar as organizações do movimento de massas, possui uma identificação com a maioria do povo. No entanto, o crescimento da economia é o que determina seu alto nível de popularidade.

Não é por outra razão que a maior parte dos que aprovam Lula, ou 17%, aponta a economia como o setor em que o governo melhor atua. A verdade, porém, é que o período de crescimento possibilitou o argumento de que a economia estaria “blindada” para a crise internacional, que não passaria de uma “marolinha”. Nos últimos meses e especialmente nas últimas semanas, a realidade se abateu de forma dura e o governo foi obrigado a mudar o discurso.

A crise do setor bancário fez secar o crédito. As vendas de veículos despencaram, colocando a indústria automobilística em xeque. Logo, começaram as férias coletivas e as primeiras demissões, principalmente no setor de autopeças. Mais recentemente, a mineradora privatizada Vale, ex-Vale do Rio Doce, anunciou a demissão de 1.300 funcionários. A crise chegou ao país, ainda que não tenha impactado a vida da maioria dos trabalhadores.

A resposta do governo
O governo, por sua vez, não demorou em dar sua resposta à crise. Primeiro, liberou algo como R$ 160 bilhões do compulsório aos bancos. O compulsório é parte dos depósitos que o Banco Central retém dos demais bancos. Liberando esses recursos, o governo afirmava que iria ter mais crédito na praça, tanto para as empresas como aos consumidores.

O que aconteceu, no entanto, foi que os bancos embolsaram esse dinheiro e lucraram com os juros estratosféricos dos títulos da dívida pública. O crédito continuou escasso e os juros ao consumidor subiram mais ainda. Se os bancos, porém, não dão dinheiro às empresas, o governo garante. Em novembro, o ministro Guido Mantega anunciou um pacote de incentivo econômico no valor de R$ 20 bilhões.

O pacote prevê R$ 4 bilhões do Banco do Brasil às montadoras. Além disso, foi anunciado R$ 5 bilhões do banco às pequenas e médias empresas, além de uma ajuda do BNDES o valor de R$ 10 bilhões às empresas exportadoras. Como se isso não bastasse, o governo atendeu a um pedido dos empresários e prorrogou em um mês o recebimento de impostos, como o PIS e Cofins, medida que, segundo o próprio governo, atrasa a entrada de mais R$ 20 bilhões nos cofres do orçamento.

Demissões: governo nada faz
Só para se ter uma comparação, o valor total destinado ao Bolsa Família em 2008 é de aproximadamente R$ 10 bilhões, a metade do que o governo oferece agora aos empresários para minimizar os efeitos da crise. Ou seja, o governo age e rápido para enfrentar a crise econômica. As medidas de Lula, porém, protegem apenas bancos e empresas.

Para os milhares de trabalhadores mandados para casa nas férias coletivas das grandes empresas, reina a incerteza de que voltarão ao trabalho. Ao mesmo tempo em que recebem recursos públicos, as empresas podem demitir como bem entenderem. A ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, chegou a afirmar que o governo não faria nada para conter as demissões. “Não podemos baixar uma medida provisória dizendo ‘fique o emprego como está´. Isso é muito complicado”, disse a ministra, cotada para suceder Lula em 2010. O governo pode, com uma canetada, liberar bilhões a bancos e empresas. Impedir as demissões, porém, “é muito complicado”.

A crise, contudo, avança a outros setores. Prevê-se retração na economia logo nos próximos trimestres. Ou seja, a recessão vai chegar ao país muito mais cedo do que se imaginava. A máscara vai cair, revelando os efeitos da política neoliberal adotada pelo governo: desemprego e crise. Lula corre o risco de ver sua popularidade passar como uma “marolinha”.

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