Lula e a secretária de Estado norte-americana que visitou o Brasil recentemente
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As pesquisas apontam índices recordes na popularidade do governo. É um fato político que, após seis anos de mandato, Lula siga com índices de aprovação nas alturas.

Isso acontece, em primeiro lugar, por estar apoiado num dos maiores enganos da história brasileira: um governo representante dos interesses das grandes empresas multinacionais e dos banqueiros com a face da maior liderança operária que o país já teve.

A maioria das pessoas acredita realmente que Lula “se preocupa com os trabalhadores”. Enquanto isso, o governo Bush declara, através de sua representante Condoleezza Rice, que Lula é um bom aliado. E Bush não está falando apenas do papel de Lula no Brasil, onde assegura a continuidade dos planos econômicos iniciados por FHC. Está se referindo também ao papel dele na ocupação militar do Haiti, na crise venezuelana e a um longo etc.

Existe um segundo motivo pelo qual o governo de Lula segue sendo apoiado pela maioria dos trabalhadores. O papel das direções da CUT e da UNE tem uma enorme importância. As direções dessas centrais não apenas apóiam o governo, mas travam todas as mobilizações dos trabalhadores. É inegável que, em muitas e muitas vezes, os sindicatos dirigidos por direções cutistas tiveram suas greves traídas para evitar criar problemas com a patronal e o governo. A CTB, dirigida pelo PCdoB e que, recentemente, rompeu com a CUT, vai no mesmo caminho por seguir apoiando o governo. O MST, apesar de manter várias lutas no campo, ao não romper com o governo termina jogando água no mesmo moinho da CUT e da UNE.

E existe um terceiro motivo, a continuidade do crescimento econômico que é capitalizado pelo governo. Isso tem uma enorme importância porque é parte de um fenômeno internacional: a maioria absoluta dos governos atuais da América Latina, sejam de centro-esquerda (como o do Brasil, Chile, Uruguai ou mesmo Bolívia), sejam de direita (como o de Uribe, na Colômbia) têm grandes níveis de popularidade, semelhantes aos de Lula. Estes governos têm, por trás, a mesma política, aplicando planos econômicos neoliberais adicionados a “políticas sociais compensatórias” como o Bolsa Família no Brasil, que não mudam em nada a miséria reinante, mas rendem bons resultados eleitorais.

Essa fórmula é também aplicada pelos governos da Venezuela e da Bolívia, que apesar dos discursos antiimperialistas, mantêm planos econômicos apoiados nas grandes empresas multinacionais e em políticas compensatórias. Nesses países, algumas medidas de atrito limitado com o imperialismo foram aplicadas, como o controle do gás boliviano, mesmo assim sem romper com nenhuma das multinacionais que explorando as riquezas do país.

No entanto, uma nova crise econômica internacional cíclica chegou ao coração da economia internacional: os EUA. E vai alcançar, inevitavelmente, o Brasil, assim como restante da América Latina e todo o mundo.

Lula, assim como outros governantes latino-americanos, terá de atravessar uma nova realidade política, bem diferente da que viveu até agora. Os trabalhadores sofrerão com o peso da crise que será lançada sobre seus ombros não só pelas empresas multinacionais, mas diretamente pelo governo. Estará em questão uma mudança qualitativa da vida, porque o desemprego vai aumentar de forma brutal e os salários diminuirão. Uma nova rodada de reformas neoliberais estará em discussão pelo governo Lula, para “dar garantias” aos grandes capitalistas.

É aí que será testada verdadeiramente a popularidade de Lula, assim como o peso da CUT e da UNE.

Quando nós afirmamos que a crise econômica internacional chegará ao Brasil com muita força e com duríssimas conseqüências para os trabalhadores, estamos querendo fazer um chamado à luta. Será preciso defender nossos salários e nossos empregos. Será necessário nos defender contra as propostas de reformas neoliberais que o governo vai tentar impor.

As lutas que já estão se iniciando agora, antes da crise, em defesa de reajustes salariais e por melhores condições de trabalho são batalhas preliminares, enfrentamentos iniciais muito importantes. A luta dos metalúrgicos da GM de São José dos Campos (SP) já liga as questões atuais com as que todos os trabalhadores enfrentarão no futuro: a GM, para aumentar os lucros que precisa enviar para a matriz em crise, está exigindo que baixem os salários e seja aceito o banco de horas, mesmo num momento em que ainda existe um crescimento econômico do país.

O nosso chamado à luta se completa com a preparação do congresso da Conlutas. Seja para as lutas de agora, seja para as que devem ocorrer com a crise econômica, temos de ter uma nova direção para o movimento de massas, em alternativa aos pelegos da CUT e da UNE. As discussões de preparação do congresso já se iniciaram nas bases de todo o país.

Comecemos já a preparar uma nova direção para o movimento de massas, para ter uma alternativa para as mobilizações de agora, mas, também, para os momentos de crise que estão por vir.

Post author Editorial do Opinião Socialista nº 333
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