Próximo da fronteira, moradores da Faixa de Gaza escutam os motores de carros de combate e tanques avançando no território palestino. Em Israel, a notícia do início da operação por terra chega pela TV – os principais canais interrompem a programação para mostrar o avanço dos blindados e milhares de soldados e reservistas.

Após sete dias despejando bombas sobre os moradores da Faixa de Gaza, o exército de Israel iniciou mais uma capítulo nesse ataque criminoso, o pior em 40 anos. O ataque por terra, que já provoca mais mortes entre a população, foi anunciado como uma “operação inevitável” por militares israelenses, devendo durar “alguns dias”.

Nos últimos dias, representantes de países se reuniram mais uma vez na ONU, pateticamente. Alguns dos países, como os EUA, de Bush e Obama, reconheceram o direito de Israel “se defender” e acusaram o grupo Hamas. Enquanto os países reconheciam o massacre, Israel preparava as condições para entrar em Gaza.

“Yes, We Can”
O caminho estava aberto para a fase seguinte. Na sexta, dia 2, Israel usou pela primeira vez tiros de artilharia, com precisão ainda menos “cirúrgica” do que a das bombas que despeja de seus aviões. No dia seguinte, pouco antes da invasão, mais de 45 aviões bombardearam alvos em toda a Faixa de Gaza. Apesar de alegar que os alvos eram militares, o bombardeio chegou a destruir até mesmo uma escola.

As tropas de Israel isolaram Gaza e praticamente dividiram a Faixa de Gaza, impedindo a circulação entre a parte norte e a parte sul. Enquanto isso, o número de mortos não pára de crescer e todas as fontes reconhecem que já são mais de 500 mortos. Representantes do Ministério da Saúde acreditam que o número total de mortos e de feridos é bem maior, mas impossível de ser medido em meio ao caos em que a região foi jogada.

Entre os mortos, mais de 100 são crianças, segundo a agência de notícias palestina Ma´na. Os ataques terrestres só tem feito esse número aumentar. A artilharia atingiu um mercado, matando pelo menos cinco civis e ferindo mais de 40. Em um campo de refugiados, outros 16 morreram em uma mesquita. No caso mais emblemático, uma mãe e quatro filhos morreram, após uma bomba cair sobre sua casa. O Ministério da Saúde da Palestina calcula que em torno de 65% dos mortos levados aos hospitais não estavam envolvidos em combates. A ONU estima que um terço dos mortos sejam civis. Ainda assim, a ministra do Exterior israelense, Tzipi Livni, chegou ao cúmulo de afirmar que “ocasionalmente os civis também têm de pagar”.

A ministra também se nega a reconhecer a crise humanitária em Gaza, provocada pelo longo bloqueio. A crise faz com que analistas já a comparem com o Gueto de Varsóvia, onde judeus sobreviviam sob o nazismo. Os nove dias de ataques fizeram com que a água e a comida começassem a escassear. A eletricidade – antes restrita a algumas horas do dia – entrou em colapso, assim como a rede de telefonia.

Nos hospitais é onde a situação é mais caótica. A Cruz Vermelha afirma que os médicos trabalham acima do limite, e sem condições mínimas, de equipamentos e material para tratar dos feridos que já aproximam-se de três mil.

Israel continua mantendo fechada as fronteiras e impedindo que qualquer ajuda chegue aos palestinos. Cerca de 30 caminhões carregados de alimentos e remédios esperam no lado egípcio. Revoltado, Azmi Bishara, um conhecido intelectual palestino, chegou a chamar o povo egípcio a invadir a fronteira.

Combates e protestos
Israel dividiu Gaza e a resistência está enfrentando o exército sionista em quatro frentes. Os combates mais intensos ocorreram durante a manhã deste domingo nas localidades de Beit Hanun, Bait Lahiya, Jabalya e nos bairros de Zaitun, At Toufah e Ash Shujayya, de Gaza. A ala militar do movimento Hamas, as Brigadas do Qassam, anunciou que lançou dois foguetes tipo Grad contra a base militar Tseelem, na região Sul, a maior base sionista. Israel confirmou o ataque. Ao todo, Israel reconhece ter sido alvo de 40 foguetes, em bases e cidades próximas. Um militar israelense, ferido em combate, morreu neste domingo, sendo a primeira baixa nas tropas invasoras.

Junto com a resistência armada, a invasão fez aumentar a quantidade e a força dos protestos pelo mundo e na região. Houve enfrentamentos entre manifestantes e a polícia no Egito, na Mauritânia e em Beirute, no Líbano. O Marrocos foi marcado por um mega-protesto contra o ataque. Houve protestos importantes em Londres, Paris e Madrid. Na capital de Israel, Tel Aviv, após os primeiros atos, um grande protesto reuniu 10 mil judeus contrários à invasão da Faixa de Gaza.

A outra parte da Palestina, a Cisjordânia, governada pelo Fatah, de Abbas, também foi marcada por protestos contra o ataque. Milhares de manifestantes cercaram o muro que Israel constrói ao sudeste de Kalkilia, em um ato contra a invasão. Soldados israelenses abriram fogo contra os manifestantes e o jovem Mufid Saleh Walwil, de 20 anos, foi morto. Seu corpo foi levado pelos manifestantes em uma grande marcha contra Israel. Também houve protestos em Ramalah, com cerca de 2 mil palestinos.

Paz dos cemitérios
Com seus ataques, Israel pretende forçar o Hamas, que governa a Faixa de Gaza, a aceitar um acordo de paz rebaixado. Apoiado na desculpa da defesa dos disparos do Hamas, o governo sionista tenta avançar ao máximo, fragilizando a população palestina e aproveitando-se da troca de comando em seu principal apoiador, os Estados Unidos.

O governo também tem motivações internas para o genocídio. A menos de dois meses das eleições, os partidos que governam Israel (Trabalhista e Kadima) apareciam nas pesquisas atrás do Likud, do ex-premiê Binyamin Netanyahu. Após os ataques, o apoio ao partido trabalhista, do ministro da Defesa, Ehud Barak, teve um crescimento significativo, suficiente para manter a maioria no parlamento para a coalizão.

Mas nada garante que estes objetivos sejam alcançados. A guerra sem fim de Israel provocou a revolta em todo o mundo, inclusive em Israel e nos Estados Unidos, onde jovens e trabalhadores cobram uma posição de Barack Obama. Por todo o lado, as imagens da matança em Gaza chocam e chegam a levantar comparações com o horror nazista. Os protestos pelo mundo e a resistência dos palestinos de Gaza e da Csijordânia podem fazer com que os planos de Israel não sejam alcançados.

Os ativistas do Brasil e de todo o mundo devem levantar-se contra a invasão da Faixa de Gaza e pelo fim do estado militar de Israel, mantido pelos Estados Unidos há 60 anos. É preciso ir às ruas, em atos como os do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, e exigir de Lula que se posicione ao lado do povo palestino, rompendo relações com o estado assassino de Israel. Não basta apenas anunciar o envio de alimentos e remédios e propor reuniões, enquanto as tropas israelenses bombardeiam crianças e sequer permitem que a ajuda chegue ao povo palestino.