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Secretaria de Comunicação comandada por investigado pela Polícia Federal ataca diretora de “Democracia em Vertigem”

O governo Bolsonaro declarou guerra à cineasta Petra Costa, diretora de “Democracia em Vertigem”, indicado ao Oscar de melhor documentário este ano. Para isso, mobilizou o aparato do Estado através da Secretaria de Comunicação (Secom), comandada pelo corrupto Fábio Wajngarten, investigado pela Polícia Federal a pedido do Ministério Público e o Tribunal de Contas da União (TCU) por contratos firmados pelo órgão e empresas privadas do qual é sócio.

Através das redes sociais, a Secom atacou Petra por conta de uma entrevista concedida pela diretora à emissora norte-americana PBS. Na entrevista, a cineasta denuncia, entre outras coisas, o aumento da violência policial durante o atual governo, o genocídio da população negra e a campanha massiva de fake news utilizada por Bolsonaro durante as eleições. Ao contrário de seu documentário, fatos facilmente comprováveis por qualquer pessoa minimamente informada ou por quem vive na pele essa realidade.

Ao melhor estilo “Brasil: ame-o ou deixe-o” da Ditadura Militar, o governo Bolsonaro realiza uma campanha contra Petra, chamando-a de “militante anti-Brasil” e denunciando que a cineasta “prejudica a imagem do país no exterior”. Ou seja, para o governo, não é a destruição da floresta pelo agronegócio, o ataque reiterado às populações indígenas, a escalada de mortes pela polícia, passando por temas mais pitorescos como a campanha nacional pela abstinência sexual ou a recente nomeação de um criacionista para um órgão público de pesquisa, que prejudicam a imagem do Brasil lá fora. Não. É uma cineasta.

Com esse expediente, o governo Bolsonaro veste a carapuça da própria denúncia que Petra fez ao canal gringo, exibindo seu autoritarismo contra qualquer tipo de oposição. Autoritarismo que não se restringe às caças às bruxas e censura que realiza nos órgãos federais, mas a qualquer um que ouse denunciar seu governo.

Ao mesmo tempo, é importante salientar também os ataques massivos desferidos a Petra Costa pela direita e extrema-direita, não raro partindo para o machismo mais explícito. Ataques como o de Pedro Bial, que declarou que a diretora é “uma menina querendo dizer para a mamãe dela que ela fez tudo direitinho“. Cabe perguntar ao ex-apresentador do BBB: você iria se referir assim se Petra fosse homem?

As redes sociais, de certa forma, vêm reproduzindo a falsa polarização que Petra tentou expressar no documentário. São defensores do PT contra bolsonaristas, um torcendo a favor e o outro contra o filme no Oscar. A verdade é que “Democracia em Vertigem” é sim um filme que tece uma narrativa sobre a queda do governo Dilma falseando vários fatos para encaixá-lo na versão do PT. Da idealização do governo petista à utilização descarada de imagens de um protesto contra a reforma trabalhista de Temer, já em 2017, inserido num contexto para que pareça em defesa de Dilma em pleno processo de impeachment (leia mais aqui).

Como documentário, pode e deve sim ser criticado, como qualquer outra obra. Principalmente sob um ponto de vista de classe. E qualquer ataque à liberdade de expressão, como vem fazendo o governo Bolsonaro contra a diretora, assim como qualquer outro ataque a qualquer liberdade democrática, deve ser fortemente repudiado. Simples assim.