No dia 22 de março foi assassinado Ahmed Yassin, líder político e religioso da organização islamita Hamas. De acordo com o Comitê Palestino pelos Direitos Humanos-PCHR, um helicóptero israelense lançou três mísseis contra Yassin, quando saía de uma mesquita no centro de Gaza. Yassin estava em sua cadeira de rodas quando um dos mísseis o atingiu diretamente. Os mísseis mataram mais quatro palestinos e deixaram 17 feridos. A população foi às ruas, reagindo com greve geral, atos e demonstrações que pararam por dias os territórios ocupados da Palestina.

Segundo informações veiculadas pela mídia israelense, o assassinato foi aprovado pelo governo israelense e a operação militar foi supervisionada pelo próprio Ariel Sharon.

Não há porquê se surpreender. O caráter claramente nazi-sionista do Estado de Israel e seus respectivos governos se materializa dessa forma: não existe legalidade/ilegalidade possível quando se trata de limpeza étnica. A legalidade ou não desses assassinatos, do ponto de vista da ordem burguesa e do malfadado “Direito Internacional”, para Israel, tem um critério único: o apoio dos EUA.

“Efeito Aznar”para o caso Bush-Sharon

Muitas são as crises do governo israelense: os escândalos de corrupção envolvendo Sharon, a construção do muro do “apartheid”, a crise da imigração e questionamentos dentro dos altos escalões do exército israelense.

O sionismo está preocupado em ter que recuar dos territórios ocupados até hoje. A Faixa de Gaza é um exemplo. Israel se recusa a desocupar, mas é cada vez mais difícil enfrentar a resistência da população, proporcional ao descontrole da Autoridade Palestina sobre essa luta. Sharon, ao matar Yassin, está dizendo que pode ser forçado a desocupar uma parte de Gaza, mas sai inundado de sangue de seus opositores.

Tudo indica que Israel sofreu um “efeito Aznar”: apostou que o assassinato poderia favorecer seu partido, o Likud, e seus compromissos em Washington. Contudo, assim como Aznar não mediu que a culpa dos ataques terroristas de Madri recairia sobre seu governo e seu partido, Sharon não mediu ao certo as devidas conseqüências do assassinato, o desgaste de seu governo e a crise de Israel.

Internacionalmente, a “crise diplomática” gerada pelo apoio incondicional dos EUA a Israel – hoje em nome da “guerra contra o terror” – e as declarações que foi um “ato de autodefesa” escandalizaram até os mais moderados, até mesmo organizações como a ONU (Organização das Nações Unidas) e países europeus que são reféns da política norte-americana. Fica claro que único aliado incondicional de Israel são os EUA, e vice-versa.

Os “planos de paz”

Enquanto seguem os mais diversos e brutais ataques de Israel aos palestinos, os dirigentes árabes adiaram indefinidamente a reunião da Liga Árabe que debateria uma “nova proposta de paz” para o conflito israelense.

Assim como os governos latino-americanos, os dirigentes árabes não se constrangem em demonstrar o quanto rastejam aos pés do imperialismo. Alguns chegaram a declarar que “temiam que as decisões sobre a ocupação do Iraque e o conflito israelo-palestino não atendessem às expectativas de suas populações”.

Não é apenas a Liga Árabe que está apavorada com o levante dos povos. O fracasso desastroso dos últimos acordos entre EUA, Israel e Autoridade Palestina é um reflexo persistência da Intifada, fortalecida pela resistência iraquiana, combinados a atual situação mundial.

No caso da Autoridade Palestina, a não realização da reunião da Liga Árabe e a impossibilidade hoje de novas perspectivas de acordos com Israel faz com que o ciclo de troca de cadeiras na AP, para cumprir as exigências dos EUA e de Israel, siga ad infinitum. Nem as recentes declarações do general israelense Moshe Yaalon de que Yasser Arafat é o próximo na lista a ser assassinado faz a Autoridade Nacional Palestina (ANP) mudar de política e, aceitar a existência do Estado de Israel, a faz trair cada dia mais a luta das massas árabes.

Por uma estratégia rumo à revolução socialista

As lições da resistência iraquiana de que só a luta das massas árabes pode derrotar o imperialismo, o sionismo e seus colaboradores estão impulsionando a Intifada. Entretanto, o triunfo desta luta histórica tem como condição o resgate das bandeiras que foram base do programa da OLP (Organização pela Libertação da Palestina) – por uma Palestina laica, democrática e não-racista, com um único Estado para judeus não-sionistas e árabes.

A radicalização anti-sionista do Hamas e o crescente apoio entre as massas palestinas contrastam com a estratégia defendida por essa organização: são vistos por um setor do povo palestino como os mais intransigentes contra Israel, diferentes, portanto, da ANP. Entretanto, por mirarem somente o sionismo, sem denunciar o imperialismo, mantém sua estratégia de Estado fundamentalista, ou seja, não-classista, não laico e sem antagonismo com o imperialismo capitalista.

Resgatar as bandeiras históricas na Palestina é buscar nessa luta nacional a unificação com a luta no Iraque, assim como a luta dos povos do Oriente Médio na perspectiva de uma Federação de Repúblicas Socialistas, que liberte as massas árabes do sionismo e da opressão imperialista e capitalista.

Post author Kênia Cardoso,
do Comitê Catarinense em Solidariedade ao Povo Palestino
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