“Seria absurdo negar a existência de tendências sectárias em nosso seio. As discussões e cisões as colocaram a nu. Como poderia deixar de haver um elemento de sectarismo em um movimento ideológico irreconciliavelmente oposto a todas as organizações dominantes na classe operária, submetido a perseguições monstruosas? (…)Ainda que nomeie Marx em cada frase, o sectário é a negação direta do materialismo dialético, que sempre toma a experiência como ponto de partida (…)O sectário não compreende a ação e reação dialética entre um programa acabado e a luta viva – isto é imperfeita e não acabada – das massas (…)O sectário vive em um mundo de fórmulas pre-fabricadas.”
Leon Trotsky

Um aspecto secundário, mas extravagante, do processo de reorganização sindical e política da esquerda brasileira aberto pela experiência em curso com a CUT e o PT, depois da eleição de Lula em 2002, foi o surgimento de uma constelação de quase uma dezena de pequenos agrupamentos de ultra-esquerda. Um pouco esdrúxulo, talvez, porque a vaga latino-americana de mobilizações revolucionárias, que já derrubou vários governos na Bolívia, Equador e Argentina, e derrotou um golpe de Estado na Venezuela, ainda não chegou ao Brasil. O recente Congresso do Conlutas foi uma oportunidade para a nova geração de ativistas poder realizar o seu próprio julgamento destes círculos políticos que não possuem implantação nacional e, portanto, são desconhecidos fora de São Paulo ou Rio de Janeiro e, curiosamente, Fortaleza.

O ultra-esquerdismo como fenômeno reativo
Uma explicação político-histórica mais geral para o aparecimento desta nova geração de militantes atraídos por posições de ultra-esquerda remete à impressionante degeneração do PT e de suas correntes internas, atreladas ao Governo Lula e às pressões do regime democrático-eleitoral, e sua espantosa adaptação às pressões do imperialismo. A irritação com o Governo Lula – e a repulsa que o PT do “mensalão” provoca – deixou uma parcela da vanguarda, muito justamente, encolerizada. Foi Lênin quem cunhou a famosa frase: “o anarquismo foi, com freqüência, uma espécie de expiação dos pecados oportunistas do movimento operário”. Não por acaso, portanto, são tantos, entre os melhores militantes socialistas, aqueles que estão inclinados pelo voto nulo em 2006. A tática abstencionista, contudo, desconsidera a experiência das amplas massas, e responde a anseios legítimos que, hoje por hoje, são minoritários.

Um fenômeno semelhante, respeitadas as respectivas proporções, já tinha acontecido no Brasil nos anos sessenta, quando a contra-revolução em 1964 enterrou, politicamente, a estratégia de colaboração de classes do velho PCB diante do Governo Jango, e o impacto da vitória da revolução cubana, inspirou variadas rupturas guerrilheiristas no velho Partidão. Assim como um PCB esquálido – capaz da suprema infâmia de até expulsar Prestes – manteve-se até o final dos anos oitenta, mas como um cadáver político insepulto, o PT de Lula se articula, febrilmente, para as eleições de 2006, mas sua ruína política é irreparável. A estratégia reformista de colaboração de classes não demonstrou viabilidade no Brasil: mais uma vez se confirmou que as classes proprietárias não têm disposição para concessões, a não ser quando acossadas pelo perigo da revolução.

A história, mais uma vez, se repetiu, mas no lugar da tragédia histórica de 1964 com seus mortos, presos e exilados, e mais de vinte anos de situação reacionária sobre as massas, temos a comédia burlesca de 2005, com seus Delúbio’s, Palocci’s e Silvinhos’s, e a desmoralização da geração militante dos anos oitenta. A capitulação de uns à burguesia, potencializa a ultra-esquerda. Os dois movimentos são simétricos. Acontece que desta vez, felizmente, não aconteceu, apesar dos desencantos que o Governo Lula deixa como rastro, uma derrota histórica. As lutas decisivas da revolução brasileira estão por vir.

Quatro peculiaridades estranhas
O fenômeno dos grupos de ultra-esquerda, alguns com denominações pomposas, se considerada sua implantação ainda raquítica –o Partido Operário Revolucionário, POR; o Partido Operário Marxista, POM; a Liga Bolchevique Internacionalista, LBI; a Fração Trotskista, FT – possui quatro características peculiares, ou até esquisitas. Primeiro, a evolução estranha da Causa Operária, a veterana entre as organizações da ultra-esquerda brasileira, mas que, surpreendentemente, nesta conjuntura de ruptura de grande parte da vanguarda e de setores de massas com a CUT e o PT, defende a opinião de que a CUT permaneceria o espaço privilegiado para construir a frente única de resistência ao neoliberalismo. A trajetória da Causa Operária nos últimos anos já era inquietante: nas eleições municipais de 2004, em várias cidades, foram apresentadas candidaturas que, para dizer o mínimo, não tinham qualquer pertencimento aos movimentos sociais.

A bizarra defesa da CUT por parte da Causa Operária e, também, da LOI, Liga Operária Internacionalista, um pequeno núcleo que rompeu com a antiga Convergência Socialista em 1994, porque não concordou com a sua dissolução para a fundação do PSTU, isolou ainda mais estas tendências do processo de reorganização. Afinal, grupos que insistiram em ganhar notoriedade pelas exaltadas críticas que dispararam durante anos, indiferenciadamente, tanto à Articulação, quanto às oposições de esquerda que resistiam na CUT, decidiram fazer a defesa da Central, justamente agora, quando ela perdeu completamente sua independência face ao Estado. Uma posição próxima a esta – construir a Conlutas como uma fração dentro da CUT – embora tenham participado do Conlutas, foi a da LER – Liga da Estratégia Revolucionária – vinculada ao PTS da Argentina.

Em segundo lugar, a pulverização da ultra-esquerda em muitos pequenos grupos incipientes, ao ponto, em sua maioria, de serem incapazes de publicar uma imprensa regular. Em terceiro lugar, algumas destes núcleos parecem estar realizando uma fusão teórico-programática, em proporções variadas, de marxismo e anarquismo, como o CPR – Coletivo do Pensamento Radical – o Espaço Socialista, a FOS – Frente Operária Socialista, num amálgama que ainda não parece muito claro. Por último, muitas delas têm presença, sobretudo, no movimento sindical de professores de São Paulo.

Por quê os grupos ultras desrespeitam seus adversários na luta política?
A militância sindical e popular que assistiu ao congresso do Conlutas ficou perplexa com a violência oral dos grupos ultras, em especial, contra o PSTU. A volúpia desmedida dos ataques ambicionava um apoio nas desconfianças que a maioria da vanguarda alimenta em relação à organização em partidos. Estas reservas são grandes, depois da terrível experiência com o PT. Na primeira sessão plenária do Conat, os líderes das correntes ultras esperavam um sucesso fácil com discursos anti-partido de inspiração anarco-sindicalista. Não hesitaram em fuzilar a mesa dos trabalhos e a comissão organizadora, mesmo tendo se mantido à margem das tarefas de organização do Congresso, como burocratas. Desprezaram todas as dificuldades, do credenciamento à garantia do alojamento, da produção de relatórios ao serviço de tradução, que foram superadas, exclusivamente, por trabalho voluntário. A aversão com o destempero oral e irresponsabilidade política dos grupos ultras, deixou a maioria do Congresso, que os desconhecia, espantada e merece uma explicação.

O movimento operário e sindical brasileiro, assim como todos os outros movimentos sociais, agrários ou populares, tem os seus costumes, construiu uma tradição inspirada numa história e numa cultura. Não existiu nunca um movimento imaginário ou ideal, em que cada uma das tendências teria coerência interna entre teoria e prática, entre programa e política, entre princípios e métodos. Todas as correntes estiveram submetidas a pressões sociais favoráveis e hostis. Os revolucionários se apóiam na disposição de luta dos setores mais conscientes, e os reformistas nas mais atrasadas. A história das organizações revolucionárias foi a história da sua capacidade de correção de seus erros oportunistas e ultra-esquerdistas. A massa dos trabalhadores aspira, ardentemente, à unidade para lutar, mas não gostam de direções monolíticas. Apreciam o debate, desde que seja objetivo, claro e respeitoso: querem poder ouvir os argumentos e ter o direito de decisão sobre suas lutas e lideranças. Querem democracia para poder construir a unidade na luta.

As organizações revolucionárias tiveram que lutar arduamente pela defesa das liberdades democráticas nos sindicatos, inclusive, nos que se reconstruíram, a partir dos anos oitenta, nos marcos da CUT. As críticas, todavia, exigem adjetivos para serem contundentes, e os mais comuns na história das organizações de esquerda foram as caracterizações recíprocas de fatalistas e voluntaristas, ou oportunistas e esquerdistas, quando o nível não cai. Sendo opiniões políticas, não deveriam ofender. Quando em uma polêmica alguém afirma que tal posição seria, grosso modo, oportunista ou esquerdista, não se afronta o caráter de ninguém, portanto, não se ofende a pessoa.

A acusação de burocrata, no entanto, é de outro quilate, é uma injúria, é uma afronta. As palavras têm gravidade. A burocracia sindical sempre foi uma casta privilegiada com interesses próprios, exterior ao proletariado. Retira seus benefícios do controle das organizações dos trabalhadores. A burocracia sindical é alimentada pelos patrões e pelo Estado. Interessa à burguesia que as lideranças que nascem em cada luta sejam corrompidas pelas pequenas vantagens pessoais. Os burocratas sindicais passam a ter um modo de vida de classe média alta, e os mais poderosos aspiram a ser burgueses. Mas, os ultra-esquerdistas que não estão entre os mais ponderados na escolha das palavras quando dirigem críticas aos outros, são infantilmente sensíveis às críticas que recebem. Manipulam a legítima desconfiança dos ativistas mais críticos, se entrincheiram nos sentimentos democráticos, porque ambicionam uma repercussão que sua política não pode conquistar.

Os milhares de ativistas que responderam ao apelo de fundação do Conlutas se uniram porque viveram a experiência prática do esgotamento da CUT e seus métodos. São conscientes que a CUT se transformou num apêndice do Ministério do Trabalho do Governo do PT. Descobriram que o aparelho de Estado é tão poderoso que “estatizou” a CUT e manda no PT. A grande maioria dos que compareceram ao congresso da Conlutas desejam construir um pólo de resistência, mas têm o temor de serem usados. Aprenderam, como militantes amadurecidos, que devem estar vigilantes no controle de suas organizações. Admitem que os militantes organizados em partidos são abnegados e têm muita iniciativa, mas querem decidir por si mesmos os seus destinos. Os grupos ultras tiveram como centro de sua tática se apoiar nessa justa atitude crítica, para fomentar a desconfiança na Conlutas, denunciando que ela seria o braço sindical do PSTU, como a CUT foi o braço sindical do PT.

No seu afã fracional, os grupos ultras se esqueceram que o anti-partidarismo é uma ideologia reacionária. A rivalidade política é legítima, mas não deve ser feita sem limites. È a burguesia que envenena os trabalhadores e o povo contra a influência da política dentro do sindicalismo e dos movimentos sociais. Mas, ensina a história, se os trabalhadores renunciarem à política, ou seja, à luta por um programa para a revolucionarização da vida social, perdem o instinto de poder. A experiência política dos trabalhadores não se desenvolveu nunca, em país algum, sem um processo intenso de disputa da direção nas organizações em que se constrói a frente única. A polêmica política e a luta ideológica são parte inseparável do processo de seleção dos dirigentes das lutas operárias e populares. Em sociedades urbanizadas e industrializadas, onde se constituiu o moderno movimento operário e sindical, a luta entre partidos foi a forma mais democrática e madura do processo de escolhas políticas das massas, e de triagem para os que pretendem a sua representação.

Entretanto, um Congresso sindical e popular, como o da Conlutas, é um espaço no qual os militantes dos distintos partidos intervêm na condição de ativistas sindicais, ou seja, no exercício de um mandato de sua base, não de seu partido. A palavra e os tempos são divididos nas Plenárias, que precisam ter espaço para o debate e tempo para concluir votações, em função do apoio maior ou menor que as propostas receberam nos grupos – pelo regimento aprovado, aliás, hiper-democrático, um mínimo de 10% – não em função de da filiação partidária de quem as apresentou. Que uma proposta tenha sido apresentada nos grupos por militantes de um partido, exercendo um mandato popular, não garantia que seria discutida na Plenária. Por uma razão simples: porque nenhum Partido tinha mandato de representação. Muito ofendidos, porque desejavam um ilimitado tempo de palavra que não correspondia às possibilidades do Congresso, os grupos ultras se dedicaram a tentar desmoralizar a própria Conlutas, cegos pelo ódio contra o PSTU. Ironia da vida: depois de incontáveis intervenções insuflando o anti-partidarismo, esse desempenho expressou um nefasto descompromisso com o mandato que receberam em suas organizações de base, ou seja, foram vítimas da partidarização que pretendiam combater.

O renascimento do ultra-esquerdismo e seus limites
Nos últimos 15 anos, as idéias socialistas viram seu peso diminuir na sociedade, e as idéias revolucionárias perderam influência na esquerda mundial. Ainda assim, o primeiro processo não teve a mesma proporção do segundo. A simpatia pelo igualitarismo renasce entre os trabalhadores em cada luta de resistência, como parte de uma experiência com o fiasco dos ajustes neoliberais. No entanto, a maioria das organizações inspiradas no marxismo, e delimitadas da socialdemocracia e dos PC’s pró-Moscou, erguidas sob o impacto da vaga revolucionário pós-1968, continuaram se adaptando às pressões dos regimes democrático-liberais, mesmo quando as políticas neoliberais se esgotavam.

Ao mesmo tempo em que as pressões eleitoralistas devastavam as fileiras das organizações da esquerda revolucionária, uma nova geração despertou para a luta com simpatia pelo projeto da revolução, mas sofrendo importante influência do anarquismo. Esses dois processos não devem ser compreendidos isoladamente: a degeneração oportunista das organizações da esquerda mundial, em especial do PT brasileiro, onde a maioria dos dirigentes de grande parte das correntes internas, inclusive daquelas que reivindicavam o programa da revolução social, teve conseqüências desmoralizadores sobre os lutadores da geração formada nos anos oitenta, e explica a desconfiança extremada nos ativistas mais jovens, que se inclinam por políticas sectárias. A direitização despudorada dos velhos dirigentes ajuda a compreender a esquerdização dos novos militantes.

O vocabulário dos esquerdismos contemporâneos é muito variado, mas pouco consistente. Procura inspiração, às vezes, em alguma tradição marxista, especialmente, no trotskismo. As pressões da marginalidade social se manifestam em táticas sindicais ultras, que insistem em ações que não correspondem à disposição de luta da massa; políticas ultimatistas que ignoram as opiniões predominantes dos trabalhadores; e concepções sectárias que obstaculizam a frente única em torno a campanhas, e qualquer unidade na ação. No Congresso do Conlutas, este repertório de ultra-esquerda se expressou, por exemplo, na defesa que alguns grupos, como a LBI, fizeram da greve geral – quando a construção de campanhas salariais unificadas até no funcionalismo público, já se demonstra um desafio complexo; na recusa insensata, por outros, como a LER, da campanha pela auditoria das dívidas interna e externa – quando a luta para ganhar a maioria da classe trabalhadora contra o pagamento das dívidas é uma batalha ideológica inteiramente por construir, e a auditoria tem uma evidente função educativa de demonstração de que a dívida já foi paga; e, finalmente, na proposta extravagante dos mais entusiasmados, do POM, que influencia a Associação de moradores Oeste de Diadema, de que a Conlutas, um embrião, hoje por hoje, minoritário de uma Central de sindicatos e movimentos populares, se afirmasse como uma organização de tipo soviético, mesmo se ainda não há uma situação revolucionária no Brasil.

Alguns grupos ultra-esquerdistas, como a LER, nos recordam, solenemente, que a Conlutas é ainda muito minoritária; que agrupa, sobretudo, sindicatos do funcionalismo público; que a maioria das correntes da esquerda da CUT que estão considerando a ruptura com a CUT não compareceram ao Congresso; mas silenciam com toda a modéstia que, entre os 2.729 delegados e 235 observadores, eleitos em assembléias que foram, em sua maioria, maiores que as que estão elegendo delegados para o Congresso da CUT, suas posições, somados todas as correntes, não somavam sequer 100 delegados, ou seja, menos de 5%. Contrariados com a pequena receptividade de suas posições, uma parcela da ultra-esquerda, em especial a LBI e o POM, se uniram em arrebatados discursos contra o que denunciaram como condução arbitrária da mesa do Congresso – inconsoláveis com sua incapacidade de se fazer entender – exigindo mais defesas para as suas propostas, fusilando o Congresso com sucessivas questões de ordem, e exaurindo a paciência dos delegados com histéricas declarações de voto.

A luta pela organização independente é uma luta contra a influência que as idéias burguesas dominantes têm sobre o conjunto da sociedade, portanto sobre os próprios trabalhadores. Os ultimatistas não compreendem ou não aceitam que as ações de massas são o terreno da experiência e, por isso, a melhor proposta não é, necessariamente, a mais avançada ou mais esquerdista, mas aquela que mobiliza as massas.

Todas as correntes revolucionárias da história sofreram pressões ultimatistas
Um programa é a forma de traduzir a defesa de interesses. A primeira responsabilidade de um agrupamento socialista é procurar expressar a defesa dos interesses dos trabalhadores. Se os trabalhadores ou a juventude, ou qualquer outro segmento social duvida das suas forças, o esforço de uma política marxista é levantar o programa e a palavra de ordem para ação que melhor corresponda aos seus interesses, mas, ao mesmo tempo, que corresponda ao seu estado de espírito e à sua disposição de luta: a proposta mais revolucionária não é aquela “mais à esquerda”, mas aquela que coloca as massas em movimento.

Evidentemente não se deve concluir que tudo que mobiliza é progressivo, e muito menos, revolucionário. Ao contrário, as massas podem se mobilizar por palavras de ordem reacionárias. A consciência dos trabalhadores oscila sempre como expressão da luta entre as idéias da classe dominante, e as lições duras de suas experiências práticas de vida. Só para relembrarmos um exemplo, a mobilização de apoio ao Papa João Paulo II no estádio do Morumbi, no início dos anos oitenta, foi uma mobilização muito popular – Lula fez questão, nas cerimônias fúnebres do Papa polonês, de lembrar que esteve presente – porém ultra-reacionária e, com razão, a maioria da esquerda brasileira de então não caiu na armadilha. Quando Tancredo faleceu em 1985 ocorreram grandes manifestações em São Paulo e as massas comovidas saíram aos milhares para saudá-lo, também em Minas – muitos se perguntavam se não teria sido assassinado – mas foram ações dos setores mais atrasados e confusos.

No entanto, um passo em frente na direção da defesa dos interesses dos trabalhadores é uma escola de aprendizagem que supera muitos panfletos. Toda a tática política marxista consiste em descobrir uma via para a mobilização na direção da ruptura anticapitalista. Rosa Luxemburgo lutou toda a sua vida contra as pressões ultimatistas, e é uma das ironias amargas da história que tenha sido derrotada pelas posições sectárias no congresso de fundação do KPD: umas das resoluções desse Congresso foi o abstencionismo eleitoral. Rosa tinha sido inimiga histórica do eleitoralismo do SPD, mas não confundia forma e conteúdo: sabia que a presença em processos eleitorais não era nem um mal, nem um bem em si mesmo, mas uma tática que não podia depender das preferências dos socialistas, mas da experiência concreta de milhões de trabalhadores. Sendo, em geral, politicamente inofensivo em situações de refluxo, a influência do ultra-esquerdismo pode ser nociva em uma situação revolucionária e fatal, diretamente, em uma crise revolucionária, quando toda a sociedade gira à esquerda e a audiência para a política revolucionária aumenta.

NOTAS
[1] Leon Trotsky, Sectarismo, Centrismo e a Quarta Internacional, in Escritos, Tomo VII, Volume 1, Bogotá, Pluma, p.229/230/231.
[2] LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov, O Esquerdismo, a enfermidade infantil do comunismo, in Obras Escojidas, tomo III, Moscou, Editorial Progresso, 1966, p.367. Tradução nossa.