A mais grave crise política desde a redemocratização do Brasil não é simples de entender. Há um grande debate nas universidades e escolas sobre qual a saída para ela. É bem possível mesmo que os historiadores tenham dificuldade de explicar tudo isso no futuro, como diz no meme do Facebook…

O certo é que não dá para ficar parado. Entender o que se passa é o primeiro passo para agir corretamente, sem ajudar o impopular governo do PT, nem a oposição de direita. A Juventude do PSTU tem defendido “Fora Todos Eles! Eleições Gerais Já!” nas assembleias, ocupações, greves e manifestações de que participamos. Por que, em nossa opinião essa, é a saída para a crise?

O PT é indefensável
O partido de Lula nasceu das grandes greves metalúrgicas do ABC paulista nos anos 80. Foi parte do amplo movimento que derrubou a ditadura. Mas aos poucos o PT virou um partido cada vez mais parecido com os demais. Não é por outra razão que Lula afirmou em seu discurso no ato governista do dia 18 de março que ele conseguiu unir explorados e exploradores. Isso deveria ser motivo de vergonha, mas para o petismo causa orgulho. 

Além de defender a conciliação de classes, raiz das relações corruptas com as grandes construtoras, o PT foi simultaneamente priorizando a eleição como via para a mudança social.  Sem defender até o fim os interesses dos trabalhadores, o que inevitavelmente leva a choques com os interesses dos ricos, o único caminho para mudar o país seria fazer o maior esforço possível para eleger vereadores, deputados, senadores e, objetivo maior, o presidente do Brasil.

É esse legado que Dilma defende até hoje, mesmo com os ataques do PSDB, do PMDB e da Globo. Depois de todas as mentiras que contou, os acordos com a direita que está dentro de seu governo, sem falar do ajuste fiscal, o PT não tem mais como chamar os setores mais pobres às ruas para defendê-lo.

Sabendo disso, para buscar mobilizar outras parcelas da sociedade a seu favor, é que o petismo defende a tese de que a democracia está em risco.   

Ficar ao lado da democracia dos ricos contra o golpe?
Um golpe, em termos políticos, tem sempre o objetivo de fortalecer a dominação dos ricos sobre os trabalhadores. Nas condições de crise social, as burguesias brasileira e internacional realmente precisam fazer isso. É intolerável para elas, por exemplo, que os operários tomem a Mabe e os secundas ocupem e administrem suas escolas melhor que Pezão e Alckmin juntos.

Medidas repressivas são importantes para dar respaldo legal à perseguição aos movimentos sociais. E quem deu a maior contribuição dos últimos anos para isso? Justamente Dilma, com sua Lei Antiterrorismo. No capitalismo, o principal direito que temos é o de lutar por nossas condições de vida. Ele foi atacado justamente pelo governo do PT.

Esse partido não tem compromisso com os direitos democráticos da classe trabalhadora. Mas tem todo o cuidado de garanti-los quando são da burguesia e seus partidos, que o diga o pagamento da dívida pública.

Na democracia atual, a maioria trabalha duro e a minoria vive muito bem quase sem esforço. Só somos chamados a dar opinião sobre a política nacional quando precisam dos nossos votos, em eleições controladas totalmente pelo poder econômico.  Poucas famílias controlam os grandes jornais. A PM assassina negros e negras nas favelas e quebradas. A “Justiça” ajuda a aumentar ainda mais a 4º maior população carcerária do mundo, amplamente composta por jovens negros, e os indígenas e líderes camponeses são chacinados por pistoleiros no interior do país.

Ou seja, só tem direitos de verdade quem tem poder econômico. 

Nem com a velha direita, nem com Moro
Mas o impeachment não é um golpe? Trata-se de um recurso absolutamente legal, não sendo em si antidemocrático. Porém, saber somente isso não responde à pergunta porque, como já vimos, não existe democracia e legalidade em geral, e sim um regime controlado por uma minoria rica. 

Para responder à pergunta, é bom lembrar o que ocorreu com Collor em 1992. Naquele período, tudo o que a burguesia precisava era um governo que pudesse pôr o país na rota das reformas neoliberais e legitimasse a recente democracia. Por diversas razões, o presidente não podia cumprir essa tarefa e, envolvido em escândalos de corrupção, acabou com a massa na rua pedindo sua cabeça. Antes de ser propriamente cassado, Collor renunciou. Mais recentemente, o STF o inocentou de todas as acusações feitas na época. Hoje o ex-presidente voltou a ser ligado a práticas ilícitas pela Lava-Jato. Como todo político burguês, certamente tem o que esconder.

É uma contradição o PT hoje afirmar que “tirar um presidente eleito é golpe”, quando naquele momento foi um dos defensores da queda de Collor nessas condições. Esse caso mostra como, no final das contas, tudo foi definido pela luta política, não pelos tribunais e pelo Congresso simplesmente. Forças como o PSDB e o MBL sabem disso. Falam dos crimes da presidente somente para justificar sua proposta de tirar Dilma. Tentar resolver a crise assim, como já se vê pelos seus defensores, é jogar nas mãos do Congresso Nacional corrupto essa responsabilidade. É muita cara de pau!

Além disso, com o decorrer da Lava-Jato, foi ficando cada vez mais evidente que o Judiciário e a Polícia Federal dão tratamentos diferentes às denúncias contra o PT e contra o PSDB. Que Moro e seus colegas não são neutros, muito menos defensores dos interesses dos trabalhadores que gostariam de ver todos os corruptos presos por seus crimes, não só alguns. Até o “Japonês da Federal”, que chegou a virar símbolo de combate à corrupção foi condenado por esquemas ilícitos. Não dá para confiar nessa turma.

Ao mesmo tempo, não há um sinal de igual entre ser contra o impeachment e se alinhar ao governo. Nós somos contra essa medida porque troca seis por meia dúzia, mas isso não nos leva a ficar junto ao governismo no discurso e/ou em manifestações, como faz parte do PSOL, o PCB, o MRT e a Frente Povo Sem Medo. De diferentes modos, alimentam a ideia do golpe e contribuem para atrasar a construção de uma alternativa independente do PT. Os dois primeiros partidos deveriam mudar de posição e vir construir somente o campo dos trabalhadores, sem o governismo, a exemplo do Espaço Unidade de Ação e a CSP-Conlutas. O terceiro precisa urgentemente parar de fazer coro com o petismo e afirmar uma posição independente do governo.   

Greve geral para botar todos eles pra fora
Nenhum dos principais políticos nos representa. Brigam entre si, mas sempre se unem contra nós. Por essa razão, o PSTU defende que é preciso derrubar Dilma, mas também o próximo governo que atacar direitos, como é óbvio que farão Temer, Aécio, Marina ou outro que hoje esteja por aí. Por isso defender Fora Todos Eles! é totalmente diferente de propor o impeachment de Dilma e Temer.

São os trabalhadores, construindo uma grande greve geral, que devem botar para correr os governos dos ricos. A grande barreira para parar o país hoje são justamente as organizações governistas, como CUT, Força Sindical, UNE, UBES e MST, que ainda controlam grande parte dos movimentos sociais.

Nós, ao contrário, em todo lugar que atuamos estamos a serviço das lutas da juventude e dos trabalhadores para construir essa grande mobilização, o que só começou a ocorrer. Por isso achamos tão importante iniciativas como as manifestações do último dia 1º de abril, que botaram o bloco dos trabalhadores nas ruas contra todos e furou o bloqueio da mídia, aparecendo na televisão e nos jornais. A juventude das universidades e escolas precisa estar ao lado dos trabalhadores e do povo pobre na construção deste projeto. É um convite a ter coragem e construir um campo que não se confunda nem um pouco com o PT e o PSBD. 

Sem deixar de acordar de madrugada para panfletar nas portas de fábrica, apoiar greves, fazer a luta real nas escolas e universidades, nossa juventude defende que essa paralisação geral deve impor novas eleições para presidente, deputados e senadores, trocando todos. Não propomos isso por acreditar que eleição muda a vida. Se fosse assim, depois de votarmos em tanta gente nesses anos, alguma coisa teria mudado. 

Muita gente acha isso também. Por isso se perguntam: se tem eleições gerais não vão se escolhidos os mesmos de sempre? Sim, é o mais provável. Mesmo considerando que pelo desgaste dos partidos é impossível saber quem ganharia de fato. As pesquisas existentes mostram que neste momento a vantagem está com Marina Silva, não com Bolsonaro como se escuta por aí. Os ricos hoje não tem uma candidatura com garantias de vitória e força social para continuar aplicando o ajuste fiscal do PT.

É nesse sentido que nessas novas eleições, não podem valer as regras de sempre. O domínio do poder econômico nas campanhas é uma enorme barreira às candidaturas dos trabalhadores.  As candidaturas populares têm que poder competir igualmente com as dos patrões e por isso defendemos, por exemplo, que não haja financiamento privado de campanha, os corruptos não podem participar como se nada tivessem feito, entre outras coisas.

Há também quem pergunte se com essa proposta esperamos que Zé Maria vença. Obviamente não. Mesmo com regras mais justas, o jogo continuará sendo controlado pela burguesia, como sempre foi. Além do mais, diferentemente de todos os partidos, até mesmo da oposição de esquerda como o PSOL, não cremos que é virando administrador do Estado que se muda o país. A história do PT está aí para provar isso. É aí que entra o último elemento desse debate.

Democracia de verdade só com um governo socialista dos trabalhadores, sem patrões
Precisamos de uma outra sociedade, na qual os trabalhadores possam decidir o que vai ser feito com o dinheiro do governo, uma sociedade socialista. Para que esses recursos de fato atendam as necessidades da maioria do povo, não dá pra deixar na mão dos que nunca andam de ônibus e trem, nunca foram numa UPA, nunca tiveram problema pra pagar as melhores escolas pros filhos. Eles nem sabem como a gente vive!

Por isso, defendemos o governo dos trabalhadores, sem patrões e corruptos. Uma das primeiras coisas que esse governo terá que fazer é parar o ajuste fiscal e usar o dinheiro público e a riqueza da sociedade para melhorar a vida da população. Isso só vai acontecer com muita luta da classe trabalhadora e da juventude, que precisam fazer uma revolução.

Se democracia é o governo da maioria, esse será o governo mais democrático da História do Brasil porque terá a cara da maioria do povo. Ou seja, diferentemente do Congresso Nacional que só há empresários e fazendeiros, teremos só operários, professores, motoristas, domésticas, agricultores. Entre eles, mulheres, negros e negras, LGBT’s. A reunião desses representantes é que chamamos de conselhos populares, que até poderão se reunir como no Congresso de hoje, mas só terão trabalhadores eleitos por trabalhadores e governarão o país no lugar das antigas instituições.

Lute com a Juventude do PSTU!
O debate sobre os rumos do país certamente não se encerra aqui. Queremos aprofundar o tema com cada estudante, mas principalmente queremos convidar você a lutar junto com os trabalhadores e trabalhadoras para mudar o país de verdade, a partir do que apresentamos acima. O que vida quer da gente é coragem!