A manifestação, unitária, foi uma vitória dos que a compuseram, mas nela também se manifestaram importantes diferenças políticasHouve toda uma polêmica desde a preparação da marcha, na medida em que a esquerda da CUT e do PT se recusava a assumir um claro enfrentamento com o governo e com a CUT e a UNE. Esses setores mantêm a posição de criticar o governo, mas sem romper com ele, centrando seu ataque na política econômica. Além disso, são contrários a romper com a CUT ou com a UNE, prosseguindo nessas entidades. No final das contas, não assinaram a convocatória unitária da marcha, mas estiveram presentes.

O P-SOL tentou, de todas as maneiras, ceder espaço à esquerda da CUT e da UNE, na preparação do protesto. Apesar de não apoiar o governo, o P-SOL está completamente dividido em relação à CUT, com um setor a favor da ruptura e outro contrário.

Na marcha, essas diferenças se manifestaram no episódio da vaia por um pequeno número de manifestantes ao deputado federal Chico Alencar (PT-RJ). Nem a direção do PSTU nem a da Conlutas estimularam essas vaias, mas entendemos a revolta dos companheiros. Afinal, Alencar foi um dos deputados petistas que votaram a favor da reforma da Previdência, tendo sua foto estampada em cartazes do funcionalismo federal denunciando-o como traidor.

Jorginho, da esquerda da CUT, se equivocou ao atacar o conjunto da marcha como “sectário”, para defender Alencar. Chegou a tentar responsabilizar a Conlutas e o PSTU, dizendo que era por isso que o MST não estava presente. Passava por cima dos fatos, ou seja, do apoio da direção do MST a Lula, base real da divisão (reconhecida até pela direção do MST).

Mas a resposta à política da esquerda do PT e da CUT foi a própria manifestação, que acabou sendo, incontestavelmente, uma marcha contra o governo como um todo e não só contra uma parte dele. Não eram os participantes da marcha os sectários, mas os que ainda carregam as bandeiras do PT e da CUT que estão contra a corrente.

Marcha marca a vitória do plebiscito com a entrega do resultado

O plebiscito sobre a reforma Universitária foi proposto pelo Conlute na plenária que convocou a marcha. A esquerda petista e o P-SOL foram contra, usando todo tipo de argumento. Diziam que seria impossível fazê-lo e convocar a marcha ao mesmo tempo. No fundo eram contra o plebiscito porque significava uma ação na base, independentemente da UNE, que no final das contas, defendem.

Mas o plebiscito foi uma vitória, apesar do boicote da esquerda desses setores. A Conlute conseguiu mais de 50 mil participantes em 17 estados, transformando o plebiscito numa ferramenta importante contra a reforma. Dos participantes, 94% votaram contra a reforma e contra a atuação da UNE. Além disso, a Conlute tinha, incontestavelmente, a maior coluna da juventude, derrubando a tese de que o plebiscito prejudicaria a convocação da marcha.

Na preparação da marcha, tanto a esquerda do PT como o P-SOL estiveram contra a entrega do resultado do plebiscito, durante a marcha, em frente ao MEC. No entanto, a entrega foi feita pelos representantes da Conlute e da juventude do PSTU, e com grande êxito.

Feliz 2006 de novo?

A deputada Luciana Genro, do P-SOL, em sua fala no ato, apontou como saída as eleições de 2006, afirmando: “Em 2006, nós não vamos deixar que a polarização fique entre os irmãos siameses (o PT e o PSDB). Vamos estar lá, em 2006, e vamos apresentar uma alternativa dos trabalhadores”. Não somos contra apresentar alternativas dos trabalhadores nos processos eleitorais, no entanto, mais uma vez somos obrigados a chamar a atenção para o fato dos companheiros do P-SOL procurarem conduzir a luta dos trabalhadores para um campo que não é o deles: as cartas marcadas das eleições. Além de distante no tempo, 2006 não é uma alternativa de direção para os trabalhadores. A única solução possível é aquela que está se construindo em atos como o de Brasília.

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