Os stalinistas se acostumaram a defender com unhas e dentes os governos burgueses “progressistas”. Agarram-se aos governos da burguesia, se utilizando de duas ideologias típicas. Quando esses governos estão em ascenso, eles defendem que eles “estão em disputa”, ou seja, que basta pressionar para eles irem para a esquerda, e por isso não se pode romper com eles.

Quando esses governos estão em crise aparece o fantasma do “golpe militar”. Assim, não se pode criticar e muito menos romper com esses governos, porque seria “se aliar à direita”.

O PCdoB faz isso no Brasil com o governo Lula. Não rompe com o governo porque “está em disputa”. A crise do mensalão de 2005 foi “uma tentativa de golpe contra o governo”.

A esquerda chavista repetiu a dose com o plebiscito. Isso inclui aqueles que, por sua estreita colaboração com o governo, difundem essas idéias. E também outro setor que, por puro impressionismo, reproduz essa história do golpe.

No primeiro bloco estão os velhos stalinistas, de distintas cores e formas e os ex-trotskistas convertidos ao chavismo. Entre eles, a corrente Marea Clasista y Socialista. No bloco dos impressionistas, estão intelectuais como Heinz Dietrich e Iztvan Mezaros.

O imperialismo já tentou um golpe militar na Venezuela em 2002, mas foi derrotado por uma heróica mobilização popular. Desde então mudou de política e busca pressionar o governo Chávez, desgastá-lo para derrotá-lo pela via eleitoral. Enquanto isso, as multinacionais petroleiras fazem excelentes negócios com Chávez, e a maior parte da grande burguesia venezuelana passou para o lado do governo, interessada nos negócios com o petróleo.

Não existe no momento uma política concreta de golpe militar pelo imperialismo. É possível que exista no futuro? Pode ser. Mas não agora. E se existisse, tampouco a política dos revolucionários seria a de apoio a um governo burguês como Chávez. Poderia haver uma frente única contra o golpe, mas com o chamado a uma mobilização independente do governo.

Agora, depois do plebiscito, vem a prova dos fatos: ao contrário do que diziam os chavistas (se ganha o “não”, vem o golpe), a oposição burguesa aposta na reconciliação com o governo.
“Bloco do ‘não’ aposta no início da via do diálogo e reconciliação”: essa é a manchete do influente jornal El Universal no dia seguinte ao plebiscito. Uma política que é adotada tanto pelo chavismo como pela oposição burguesa. Segundo a Agência Bolivariana de Notícias, Chávez fez um chamado à reconciliação. “Tomara que consigamos aprender a respeitar nossas diferenças e caminhar juntos debatendo e distanciando-nos dos caminhos da violência, das conspirações e dos planos subordinados ao imperialismo norte-americano”, declarou.

Entre os principais dirigentes da oposição burguesa houve as mesmas manifestações:
“Este é o momento para reencontrar-nos, todo o povo, e que podemos sentar com o presidente para ver qual é o projeto que o país quer para todos os venezuelanos”, disse Leopoldo Lopez, o ultradireitista prefeito de Chacao.

Manuel Rosales, candidato direitista a presidente nas últimas eleições, fez o mesmo discurso: “Convido Chávez para que iniciemos os caminhos do reencontro, da paz e do entendimento”.

Uma metodologia de falsificação stalinista
Entre todos esses setores, houve um acordo: atacar por todos os lados aqueles que não defenderam o voto pelo sim. As táticas foram diversas. Desde panfletos anônimos como o que circulava na Refinaria de Puerto La Cruz, aos ataques frontais.

O método stalinista é o de caluniar os opositores como “aliados da direita”. Foi assim com os processos de Moscou na década de 30, em que os trotskistas eram associados ao imperialismo.

Existiu uma luta democrática vitoriosa na Venezuela. Só existe uma explicação para que o imperialismo e a oposição de direita capitalizem internacionalmente a justa derrota de Chávez: a vergonhosa capitulação da esquerda latino-americana ao governo venezuelano. Capitulação tão vergonhosa que não se pronunciaram contra a repressão aos petroleiros, tampouco aos estudantes.

A única alternativa para os trabalhadores venezuelanos é que se construa um terceiro campo, independente tanto da oposição de direita como do governo Chávez. Caso a polarização política na Venezuela siga se dando ao redor destas duas alternativas, inevitavelmente os trabalhadores acabarão derrotados junto com Chávez e seu declínio.

A capitulação envergonhada
Existiram vários setores da esquerda que se recusaram a apoiar o “sim” chavista. Mas por uma postura completamente centrista, tampouco defenderam o “não”.

Esta foi a posição do PCO, que defendeu “nem sim, nem não”, ou seja, perante tal polarização política de importância para toda América Latina, o PCO não sabe se está a favor ou contra a reforma de Chávez.

Outras variantes com o mesmo conteúdo foram as posições da Liga Estratégia Revolucionária (LER), que defendeu o voto nulo. Ou ainda a corrente Socialismo ou Barbárie, do novo MAS argentino, que apoiou a abstenção.

Trata-se, na verdade, de uma capitulação envergonhada ao chavismo. Uma incapacidade de buscar explicar pacientemente aos trabalhadores que este não é nosso governo.

Agora, para fazer o balanço do resultado do referendum, essas correntes terão um sério problema: foi positivo ou negativo para o desenvolvimento da luta de classes a derrota de Chávez? Para ser coerentes teriam que dizer que não foi nem positivo nem negativo, ou se absterem dessa discussão.

Post author César Neto, de caracas
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