A vitória eleitoral de Lula significa um fato inédito na história brasileira. Pela primeira vez um operário e um partido como o PT chega à presidência do país.
Os trabalhadores e o povo sofrido desse país profundamente desigual depositam no governo enormes esperanças e têm nele grandes ilusões.
O povo derrotou eleitoralmente o governo FHC e sente-se não apenas vitorioso, mas orgulhoso e confiante de ter colocado um verdadeiro representante seu na Presidência da República. A alegria, emoção e euforia destes dias – onde ficou cravada a frase: a esperança venceu o medo – é similar à da conquista da copa do mundo, quando Cafu antes de levantar a taça da vitória, simbolicamente, estampou na sua camiseta: 100% Jardim Irene.
Os operários nas linhas de montagem, os explorados e oprimidos, os trabalhadores do campo e da cidade comemoram e se comovem, cheios de esperança e expectativas de mudança.
Mas o FMI e a classe dominante brasileira – já antes mesmo da eleição e antes da posse – distorceram e surrupiaram essa vitória. Estão aplicando a velha máxima ou o velho truque de que “é preciso que algo mude, para que tudo continue igual”.

Os inimigos continuam no poder

Os banqueiros , a FIESP, o latifúndio e representantes dos partidos deles terão assento no governo Lula. E o FMI é quem segue dando as cartas na política econômica brasileira.
Lula e o PT, ao aceitarem o acordo com o FMI, a continuidade das negociações da ALCA e montarem governo de coalizão com a classe dominante e seus partidos – integrando pesos pesados da burguesia no ministério – vão atacar conquistas dos trabalhadores e do povo.
Lula tem dito que vai governar para todos: trabalhadores e explorados e também para banqueiros e exploradores e que todos vão se sacrificar e também todos vão ganhar . Isso não apenas não é verdade, como é impossível.
O Brasil está virando uma colônia: está injetando uma montanha de dinheiro para fora do país para remunerar os banqueiros internacionais e entregando patrimônio público e empresas brasileiras para as multinacionais, às custas do empobrecimento do povo e da entrega da soberania do país. Este processo de recolononização a que o Brasil está submetido é a raiz da crise brasileira.
E como a economia do império também está em crise, eles querem tirar ainda mais dinheiro, riquezas e patrimônio da América Latina e aqui do Brasil.
Alguém vai pagar o preço da crise e não é justo que a classe trabalhadora e a maioria explorada desse imenso país faça qualquer sacrifício mais. Os 1% mais ricos – banqueiros, grandes empresários e latifundiários – é que deveriam pagar.
Mas – pelo andar da carruagem – quem vai continuar pagando o pato é a classe trabalhadora.

Sem ruptura com a ALCA e o FMI não haverá mudança

Quando Lula aceita o acordo com o FMI e diz que honrará “os contratos” que Fernando Henrique fez, significa que os banqueiros não apenas não perderão nada, como arrancarão ainda mais o couro dos trabalhadores e do povo brasileiro.
Lula anunciou com estardalhaço o projeto “Fome Zero” para atender com cupons de alimentação, no primeiro ano de governo, cerca de 9 milhões dos 52 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha de pobreza.
Este projeto custará R$ 5 bilhões. Bem menos do que meia dúzia de banqueiros irão receber do governo.
Os banqueiros já levam anualmente mais de 60% de todo o orçamento, através dos juros que recebem do governo. O acordo com o FMI exige que, dos 40% que sobram no orçamento se “economize” mais R$ 31 bilhões para pagar juros a eles. Para garantir a “economia” que o FMI exige, Lula – com o aplauso da Rede Globo, da FIESP, da FEBRABAN, do Banco Mundial, da ONU e até de Bush – promete fazer as Reformas neoliberais que FHC não conseguiu fazer, como por exemplo taxar os aposentados do serviço público, flexibilizar a legislação trabalhista e diminuir os impostos para a burguesia.
De outro lado, o novo governo seguirá nas negociações da ALCA e assumirá, junto com os EUA a co-presidência desse processo. Uma negociação que – todos sabemos – nos conduzirá invariavelmente a uma situação de colônia dos EUA.

Os desafios da esquerda e da classe trabalhadora

O governo Lula vai gerir a crise do capitalismo e tentar superá-la sob a ótica dos capitalistas.
A esquerda socialista tem obrigação de dizer a verdade aos trabalhadores e se constituir como oposição a esse governo de unidade com a burguesia e de submissão ao FMI e estimular a mobilização. Evidentemente, não se trata de ser sectário e não levar em conta as ilusões das massas ao formular suas táticas políticas.
Porém, como orientava Lenin, a primeira tarefa dos revolucionários diante de governos como esse é explicar pacientemente às massas que esse governo não é seu governo, que é um governo dos capitalistas, denunciar e desmascarar cotidianamente suas medidas para libertar as massas desse engano.
A segunda tarefa, junto com isso, é apontar que governo os trabalhadores necessitam e que devem construir para colocar no lugar desse: um governo sem ministros dos banqueiros, da Fiesp e do FMI, que governe apoiado na mobilização dos trabalhadores e nas suas organizações.
A classe trabalhadora tem ilusões de que o governo Lula vai resolver seus problemas, mas tem também expectativas de emprego, aumento de salário, reforma agrária, fim da míséria.
Sentindo-se vitoriosa com a eleição de Lula, tende a ir à luta. A disposição de luta de categorias que têm data base agora, já começou a se fazer sentir, como é o caso dos metalúrgicos. Lula, entretanto, quer montar um “pacto social” e desmobilizar a luta dos trabalhadores. A FIESP aplaude o pacto e já disse o que quer: que os trabalhadores abram mão de aumentos reais e ,inclusive, da reposição integral da inflação.
O esquerda deve se opor veementemente ao pacto social e denunciá-lo perante as massas. Os socialistas não podem dar apoio – nem mesmo apoio crítico – a um governo de colaboração de classes e pró imperialista. É necessário dizer a verdade às massas.

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