A evolução da economia brasileira tem algumas especificidades que merecem ser explicadas. A primeira é que existe um mercado interno importante, com uma classe média e setores do proletariado num país de dimensão continental e grande população. Aqui também a crise se expressa de forma desigual: os setores mais voltados para o mercado interno vivem uma situação melhor que os ligados à exportação.

Em segundo lugar, o papel de submetrópole do imperialismo na América Latina ainda permite que o país se mantenha entre os locais em que as multinacionais planejam seguir investindo. Por último, o sistema bancário não vive uma crise semelhante à dos países imperialistas. Aparentemente, os bancos aqui não precisavam especular tanto com derivativos, porque o governo oferecia um negócio ainda mais lucrativo com a dívida pública.

A indústria automobilística reflete essa desigualdade. Enquanto as exportações desabaram, as vendas no mercado interno se recuperaram, fechando o semestre com vendas 3% maiores que no primeiro semestre de 2008, ainda que a produção tenha sido 13,6% menor.

O governo faz de tudo para atenuar a crise com a ampliação da isenção do IPI de automóveis para os eletrodomésticos e materiais de construção, a redução de impostos para bens de capital e o plano “Minha casa, minha vida”. A Bovespa se beneficiou da entrada de capitais especulativos nos últimos meses, mas já existe uma reversão.
A grande burguesia está em compasso de espera no país. Não ocorreu ainda uma segunda grande leva de demissões como a que se deu no final de 2008 e início deste ano.

Existe uma postura geral, até o momento, de esperar para ver a evolução da crise. O desemprego está crescendo, mas as demissões são picadas. Infelizmente, temos de alertar que uma onda de cortes deve vir mais dia menos dia. Porém, não se sabe quando.

Enquanto isso, nas empresas, a burguesia está impondo um ritmo febril para manter a produção, muitas vezes com menos trabalhadores. Os acidentes e doenças do trabalho se multiplicam. E os salários seguem arrochados.

Recessão segue
A divulgação da queda de 0,8% no PIB do primeiro trimestre confirmou a recessão, como afirmamos desde o final do ano passado. Apesar da propaganda do governo, a perspectiva é isso continue. Não existe a hipótese de uma evolução brasileira à margem da grande crise internacional. O mercado interno não pode determinar uma evolução num país completamente dominado pelas multinacionais.

No entanto, não está claro em que ritmo e intensidade isso se dará. Toda a expectativa do governo é adiar a crise para depois das eleições. Conseguirá? Ninguém pode neste momento responder a essa pergunta com certeza. O que sabemos é que a crise se aprofundará, mas nada está tão claro, e isso tem enorme importância política e eleitoral.

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