O trabalho escravo contemporâneo é a face mais degradante do capitalismo. Estimativas da Organização Internacional do Trabalho e da Comissão Pastoral da Terra apontam que existem entre 25 e 40 mil escravos, apenas nas áreas ruraisDiferentemente do que existia até o final do século 19, a escravidão contemporânea não é incompatível com a existência do capitalismo mais moderno. Segundo levantamento publicado pelo jornal Folha de S.Paulo no dia 18 de julho, o trabalho escravo atual está presente principalmente no que conhecemos como agro-negócio. As imensas fazendas e empreendimentos agrícolas voltados para a exportação utilizam o que existe de mais avançado em termos de tecnologia, ao mesmo tempo em que submetem trabalhadores a condições desumanas de trabalho.

A forma de trabalho forçado mais comum é conhecida como peonagem. O trabalhador é aliciado por um gato, uma espécie de recrutador de mão-de-obra, que promete trabalho digno e bem-remunerado. Atraído, o trabalhador chega ao local e se depara com alojamentos precários e alimentação vendida em sistema de extorsão (por exemplo, o quilo do arroz chega a ser vendido a R$ 5). Com isso, vários trabalhadores não recebem nada, pois têm suas “dívidas” contraídas permanentemente descontadas nos seus salários.

A barbárie da escravidão contemporânea é extremamente lucrativa. O custo é praticamente zero para os latifundiários. No máximo é pago o transporte e alguma pequena dívida do trabalhador em algum hotel ou no comércio. Após ser recrutado, o trabalhador é mantido sob coerção e ameaças de morte. Muitos são assassinados por jagunços ao tentar fugir.

Pará: “Expresso da Escravidão”

O Sul do Pará é a região onde existem os maiores números de denúncias de trabalho escravo. As primeiras foram feitas nos anos 70 e ficaram mundialmente conhecidas por envolverem propriedades de grandes multinacionais, como a Volkswagen. Hoje a principal rota de mão-de-obra escrava é a linha ferroviária entre São Luís e Carajás, conhecida como “Expresso da Escravidão”. Por ela, desempregados do Maranhão acabam se tornando escravos no Pará. Em 9 anos, o Pará registrou 5.224 casos de resgate de trabalhadores rurais por agentes do Ministério do Trabalho, quase a metade dos resgates do país no período, que somam 11.969 trabalhadores.

São Paulo: as senzalas bolivianas

Bairros centrais da capital paulista, como o Brás e o Bom Retiro, abrigam milhares de imigrantes bolivianos, que fogem da miséria e do desemprego de regiões inteiras da Bolívia. Ao chegar no Brasil, de forma irregular, os imigrantes acabam sendo recrutados para trabalhos degradantes em pequenas indústrias de confecção, onde recebem, em média, R$ 0,50 por peça produzida. Além disso, cumprem jornadas de 14 a 16 horas diárias e são descontados com despesas em moradia e alimentação. Os patrões ainda ameaçam denunciar os empregados à Polícia Federal.

Assim se estabelece uma relação de semi-escravidão, já que o trabalhador boliviano é obrigado a trabalhar por muitos anos até saldar suas dívidas. Voluntário da Pastoral do Migrante Latino-Americano, o boliviano Jorge Meruvia declarou ao Opinião Socialista, que muitos trabalhadores dormem na própria fábrica. “Um caso que me chocou bastante, foi o de uma mulher que estava grávida e não podia sair nem para fazer o pré-natal, acabou tendo a criança no banheiro daquela maldita oficina”, disse indignado Meruvia.

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