No dia 23 de junho assistimos a mais um caso de opressão, a violência sofrida pela trabalhadora doméstica Sirley Dias Carvalho, no Rio de Janeiro. Mulher pobre e negra, ela esperava um ônibus de madrugada quando foi espancada por cinco jovens de classe média. Dias depois, “boyzinhos” do seriado global Malhação agrediram e roubaram uma garota de programa. Enquanto os assassinados nos morros pela polícia são “bandidos”, estes agressores são chamados de “jovens” pela imprensa.

A violência atinge em cheio os trabalhadores, mas é preciso identificar que a agressão à mulher é muito maior. Diariamente mulheres são espancadas pelos pais, namorados e maridos. O machismo está incrustado em nossa sociedade de tal forma que a violência é caracterizada como algo natural e banal, inclusive por seu grande número de vítimas e pela cultura de inferiorização da mulher. Foi assim que o capitalismo pôde melhor explorar as mulheres, criando mão-de-obra mais barata e uma nova mercadoria, o corpo feminino.

A primeira desculpa usada pelos agressores de Sirley foi a de que pensaram se tratar de uma prostituta. Como se o fato de uma mulher vender o seu corpo – a pior forma de submissão e mais atroz violência – desse o direito aos homens de agredi-la e assassiná-la. A resposta a esses casos é sempre a impunidade e a humilhação das vítimas, vistas como as que provocaram seu próprio martírio. Não podemos esquecer perguntas como “com que roupa você estava?” ou “isso é hora de mulher andar na rua?”, dirigidas às vítimas femininas sempre que sofrem violência. É como se as meninas do Nordeste brasileiro fossem as responsáveis pelo turismo sexual e não o governo, que não dá qualquer perspectiva a elas, oferecendo-as num pacote turístico.
Dados de ONGs e do próprio governo são alarmantes, apesar de muitas mulheres não denunciarem a violência por medo de represálias. A quase totalidade das vítimas é de mulheres trabalhadoras, pobres e negras. Infelizmente, não há uma política conseqüente para resolver tais questões. Delegacias especiais não bastam. É necessário que as mulheres possam ter casas-abrigos para elas e para seus filhos e que, antes de tudo, possam ter emprego e serem independentes financeiramente para não ficarem reféns de seus agressores.

Não basta combater apenas a violência doméstica. É preciso lutar contra todo tipo de violência sexual e o machismo em todas as esferas. É preciso dar à mulher liberdade sobre seu corpo, descriminalizar o aborto e colocar a saúde da mulher como dever do Estado de fato. Além de acabar com a pior das violências: a miséria que joga as mulheres na prostituição e sustenta todos os outros tipos de agressão às mulheres.
Post author Secretaria de Mulheres do PSTU do Rio de Janeiro
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