Entrevistamos José Maria de Almeida, integrante da Conlutas, sobre
a campanha pela anulação do leilão da Vale do Rio Doce. A Assembléia Popular em que foi definida esta campanha, é dirigida pelas pastorais da Igreja Católica, e dela também participa o Movimento dos Sem Terras. A Conlutas foi convidada e participou dessa assembléia.

Opinião Socialista – Qual é a importância dessa campanha pela anulação do leilão da Vale?

Zé Maria – A luta contra a privatização do Estado é muito importante e talvez a principal manifestação dela no país seja justamente a luta contra as privatizações.

Foram entregues empresas fundamentais para a nossa soberania para o capital privado, na sua maioria estrangeiro. Isso levou o Brasil a perder o controle de todo o seu sistema de telecomunicação, de distribuição de energia elétrica, do parque siderúrgico nacional e o controle da empresa que detém praticamente todas as reservas de produção mineral do país. A luta pela anulação do leilão da Vale se insere no marco do combate à privatização e da defesa da nossa soberania.

O tema da Vale do Rio Doce foi tomado como ponta de lança dessa campanha, pela simbologia que carrega. Esta empresa é hoje uma das maiores do mundo. De longe é a maior empresa de mineração de toda a América Latina e que tem um valor patrimonial imenso. Só as reservas de minérios de ferro das quais a Vale é proprietária no estado do Pará oferecem uma perspectiva de 480 anos de exploração.

Isso mostra que de fato a empresa foi doada e junto com ela foram as reservas que ela possuía. Essa é a razão que explica porque essa luta foi retomada.
Esse combate é também parte da luta contra a privatização dos serviços públicos, do combate às Parcerias Público-Privadas e aos leilões das reservas de petróleo.

Qual é a relação dessa luta com as reformas neoliberais defendidas pelo governo?

Zé – Nós fizemos esse debate, inclusive, com os companheiros que estão desenvolvendo a campanha pela anulação do leilão da Vale. A Conlutas vai participar ativamente dessa campanha. Aliás, os sindicatos que representam os trabalhadores da Vale em Minas Gerais são, majoritariamente, parte da Conlutas e estarão nessa campanha. Mas achamos que essa campanha é parte de uma luta mais global contra o neoliberalismo. Portanto, ela deve ser movida, simultaneamente, com o enfrentamento às reformas. Além disso nós, do PSTU, defendemos a reestatização sob o controle dos trabalhadores.

O modelo econômico que Lula implementa é voltado para atender os interesses do grande capital, principalmente do sistema financeiro, e isso ocorre por diversas formas. Uma delas são as privatizações, transferindo nossas riquezas diretamente para o capital privado. A outra forma são as reformas neoliberais. A da Previdência, por exemplo, visa reduzir os gastos do Estado com a Previdência pública para aumentar o volume de recurso que o Estado repassa para o capital privado, seja por meio das isenções fiscais, seja pelo pagamento da dívida pública.

A reforma sindical e trabalhista visa permitir a redução do custo do trabalho para aumentar a rentabilidade das empresas. Todas essa políticas, as privatizações as reformas neoliberais, têm o mesmo endereço que é aumentar a rentabilidade do capital, empobrecendo o povo e comprometendo o futuro do país. Achamos que essas lutas devem ser travadas juntas.

Como vai se desenvolver a campanha no próximo ano?

Zé – Vamos ver em que medida as entidades que participaram dessa Assembléia Popular se dispõem realmente a desenvolver essa mobilização, na medida em que implica em luta contra o governo Lula, apoiado por várias delas.

A campanha poderia ser muito positiva e já existem várias iniciativas em curso. Há abaixo-assinados pela anulação do leilão, cobrando do governo uma atitude concreta nesse sentido. Existem iniciativas de levar esse debate para várias comunidades no país inteiro. Essas atividades deveriam culminar num plebiscito nacional pela anulação do leilão, que ocorreria de 1° a 7 de setembro de 2007, na semana da pátria.
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