As eleições estão terminando. As pesquisas confirmam o favoritismo de Dilma Rousseff. É quase simbólico que as eleições no Brasil estejam terminando em um momento de graves conflitos sociais na Europa. Em plena crise econômica, governos de direita como o francês e de “esquerda” como o grego tentam impor ataques duros aos trabalhadores, incluindo o aumento na idade da aposentadoria.

Os ativistas dos movimentos sindical, popular e estudantil deveriam observar esses fatos e tirar conclusões sobre o Brasil. Os governos europeus são expressões da grande burguesia, sejam os da social-democracia, sejam os de partidos da direita.
Os partidos da social-democracia europeia, assim como o PT no Brasil, governam para as multinacionais. Durante a crise, abriram os cofres dos governos para investir uma grande soma de dinheiro público nas grandes empresas. Agora que chegou a hora de pagar a conta, esses governos querem que os trabalhadores mais explorados sejam os responsáveis pela fatura, na prática abrindo mão de sua aposentadoria.

A grande novidade é que o proletariado europeu – o de maior tradição em toda a história – se colocou em movimento. Ao ser atacado duramente, começa a se rebelar, colocando em xeque os governos que tentam aplicar esses planos.

Quais são as conclusões para o Brasil? Se a crise europeia se estender ao resto do mundo, o Brasil não ficará fora de suas consequências. Ao contrário das pequenas concessões (Bolsa Família, reajuste do salário mínimo), possíveis em épocas de crescimento econômico, virão os ataques aos trabalhadores. Tanto Dilma como José Serra já declararam que vão fazer uma nova reforma da Previdência.

Aqui entra em cena a importância do voto nulo no segundo turno. A ampliação do voto nulo agora enfraqueceria o novo governo, seja Dilma ou Serra. Qualquer um deles teria menos força para atacar os trabalhadores depois das eleições. Por outro lado, a pressão nestas últimas semanas de campanha é pelo voto útil em Dilma por parte da CUT, da UNE e do MST, ao redor do lema “impedir a volta da direita”.

Uma parcela importante da vanguarda das lutas sindicais, populares e estudantis votou nos candidatos dos partidos de oposição de esquerda no primeiro turno. Outro setor mais amplo, desencantado com Dilma e Serra, votou em Marina Silva, refletindo, ainda que de forma distorcida, também uma experiência negativa com partidos como o PT. Como se sabe, a votação de Marina teve um componente de esquerda e outro de direita.

Caso tivéssemos um repúdio a Dilma e Serra por meio de um voto nulo que incluísse o voto da oposição de esquerda e uma parte do voto em Marina, teríamos um fato político de importância neste segundo turno.

A pressão pelo voto “útil” em Dilma caminha no sentido oposto, o de abortar a tentativa de construção de um polo independente. Infelizmente, a posição das direções do PSOL e do PCB pelo “voto contra Serra” (na prática um voto em Dilma) segue esse sentido equivocado.

Neste momento, é muito importante discutir as batalhas em curso na Europa e tirar conclusões sobre o Brasil.

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