Em um artigo intitulado “Nos EUA, estudantes universitários perdem entusiasmo para lutar novamente por Obama”, publicado pelo “The New York Times”, (6/11/2011), Emma Guerrero, estudante da Universidade de Nevada, expressou o desencanto de muitos jovens que, como ela, atuaram intensamente pela eleição do presidente norte-americano: “Eu não creio que poderia fazer aquilo de novo (…) Ele não se preocupou de fato com os problemas enfrentados pelos jovens, e nós o ajudamos a se eleger”.
As razões da decepção não são poucas, a começar por sua juventude e sobrenome latino, que a colocam entre os que têm sido mais direta e fortemente atingidos pela crise econômica. Além disso, como é ressaltado pela reportagem, “poucas regiões dos Estados Unidos foram atingidas mais intensamente pela recessão”, como o estado de Nevada, onde o índice de desemprego é recorde (13,4%) e há uma “uma onda interminável de confiscos de imóveis por falta de pagamento de hipotecas e uma quantidade enorme de pessoas que não têm onde morar”.

Exemplar da profunda crise que sacode o coração do imperialismo, a situação de Emma e de seu estado está longe de ser um fato isolado e, muito menos, a decepção do eleitorado.

Da promessa de mudança a “mais do mesmo”
Os EUA entraram no século 21 “surfando” nos efeitos dos violentos ataques cometidos contra os trabalhadores no decorrer da década de 1990 e intensificados a partir dos ataques às Torres Gêmeas, em setembro de 2001.

Capitaneados pela nefasta figura de George Bush, estes ataques tiveram expressões econômicas, políticas e militares, como a invasão do Afeganistão e do Iraque e a tentativa de imposição de uma verdadeira política de “recolonização” de regiões inteiras do planeta.

Obama chegou ao poder, em 2008, já como expressão da crise aberta pela derrota de Bush que viu seus planos políticos e militares para o Oriente Médio naufragarem num verdadeiro pântano.

O “primeiro presidente negro” dos EUA foi apresentado com “sinal de mudança” e promessa de uma nova postura do imperialismo. Uma ilusão que, contudo, não resistiu aos primeiros sinais de agravamento da situação mundial e seu impacto cada vez maior no coração do imperialismo.

Uma crise que começou a ganhar contornos ainda mais “dramáticos” depois da crise econômica mundial a partir de 2007/2008, que aprofundou a situação revolucionária a nível mundial, tendo como elementos centrais uma crise política e econômica do imperialismo muito superior à de 2001, o ascenso no Oriente Médio com a revolução no Norte da África e Oriente Médio e a lutas na Europa.

De novo, mesmo, só a crise
Como todos devem lembrar, a “solução” de Obama para a crise foi herdada diretamente de Bush: a injeção de volumosas quantias de dólares no mercado financeiro. Para ser mais exato, foram cerca de US$ 13 trilhões (quase o valor do PIB anual do país) que foram transferidos para bancos, empresas e especuladores de todos os tipos. Ao mesmo tempo, Obama não mediu esforços para ajudar as grandes empresas a se “adequar” à crise, como ficou evidente no escandaloso acordo de reestruturação produtiva patrocinado pelo governo na General Motors.

Essas medidas possibilitaram que a economia tivesse um crescimento “anêmico” e, ainda, em declínio (1,9% no primeiro semestre de 2011 e 1,3%, no segundo), mas, acima de tudo, significaram uma enorme intensificação da exploração dos trabalhadores através de cortes de salários e direitos e uma piora generalizada nas condições de vida que fizeram com que os EUA chegassem ao final de 2011 com índices sociais alarmantes: 14 de milhões de desempregados (cerca de 9%, em termos nacionais), 10 milhões de subempregados e 40 milhões que dependem da ajuda do Estado para poder sobreviver.

Se os planos do governo norte-americano vingarem, esta situação só tende a se agravar. Basta lembra que, há alguns meses, foi aprovada uma lei que implica num corte, nos próximos dois anos, de nada menos do que US$ 900 bilhões nas mais variadas áreas sociais.

“No, we don’t want…”
Obama foi eleito sob o ufanista slogan “yes, we can”, ou seja, “sim, nós podemos”. Passados três anos, o que mais se ouve nos EUA é “no, we don’t want” (“não, nós não queremos…”). Não querem mais desemprego, nem cortes sociais, muito menos promessas vazias. Foi esta a mensagem que, de forma distorcida, o povo enviou nas últimas eleições legislativas, em 2010, ao impor uma fragorosa derrota ao partido de Obama, o Democrata.

De lá para cá, os problemas políticos do presidente só têm aumentado. As dificuldades de aprovar seus projetos econômicos e políticos no Congresso, principalmente em função da atuação da ala mais conservadora do Partido Republicano, o “Tea Party”, são só a ponta de um gigantesco iceberg que pode bloquear, de vez, as pretensões de reeleição do presidente.

Algo difícil de se prever no momento, fundamentalmente porque a crise política também tem atingido fortemente a oposição republicana que, não tem conseguido consolidar um candidato.

Evidentemente, não é o caso de se afirmar que o coração do império está à beira de um colapso. Contudo, é evidente que o Tio Sam está pra lá de enfraquecido.

A “síndrome do Iraque” (que reavivou o “fantasma do Vietnã), aliada à crise econômica e política, tem dificultado em muito a intervenção militar, e até mesmo política, dos EUA em qualquer outro canto do mundo. Vide, por exemplo, os problemas de Obama em intervir na “Primavera Árabe”.

Contudo, seria um absurdo insinuar que a hegemonia do imperialismo está questionada. Seu poderio econômico, político e militar; o papel que joga em organismos internacionais como a OTAN, a ONU e o FMI ainda lhe garante um papel de mando e destaque. Cada vez menos “confortável”, mas ainda sólido.
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