Como já era previsto, o 8º Concut esteve cruzado pelo fato de que o PT, partido majoritário na classe trabalhadora, governa o Brasil.

A Articulação Sindical tinha uma única tarefa neste congresso, que pode ser resumida no seguinte: a central sindical mais importante do país, que foi construída na luta dos trabalhadores, para defender e ampliar seus direitos, agora deve convencer os trabalhadores a abrir mão de suas conquistas.

A inevitável politização do congresso, refletia a postura de cada uma das organizações e correntes em relação ao governo Lula. A contradição do bloco governista, e suas diferentes matizes, se expressava a partir do seguinte: a reforma da Previdência, ponto mais importante do congresso, retirava direitos. O que fazer diante disto?

A CUT, que nasceu para defender os direitos dos trabalhadores, deveria fazer o óbvio, lutar contra a reforma. Mas, como disse um dos oradores da Articulação “o problema é mais complexo”. O problema é que, justo quando o partido majoritário da classe trabalhadora chega ao governo, decide governar com a burguesia e atender as exigências do FMI.

A estratégia com que a direção da Articulação entrou no congresso era clara: transformar a CUT num braço sindical do governo.
Enquanto exigia sacrifício dos funcionários públicos, agora justificado porque este é o “nosso governo”, retirava da central a histórica bandeira do Não pagamento da Dívida Externa.

Mas, se a direção da Articulação tinha uma estratégia clara a outra parte do bloco governista tinha que trabalhar com a contradição do seu próprio discurso. Por um lado,“O governo do Lula é o nosso governo…”, e por outro, “é necessário lutar contra a reforma da Previdência…”.

Crises e contradições em praticamente todas as correntes

A defesa incondicional do governo não se fez sem crises e contradições.
Dentro da própria Articulação Sindical houve uma plenária muita tensa, na qual delegados advindos de setores do funcionalismo forçaram mudanças na proposta original da corrente sobre a reforma da previdência. Eles acabaram afirmando diferenças pontuais com a proposta do governo, preservando a essência dela: uma manobra enganosa com a sua própria bancada.

O Concut refletiu a contradição do discurso da maioria das correntes, expresso na gritante diferença entre o que se diz e o que se faz.
Neste sentido coube papéis lamentáveis à Corrente Sindical Classista e à Democracia Socialista.

Uma das mais duras intervenções contra a reforma da previdência foi de um representante da CSC, que, em seguida, cerrou fileiras com a chapa governista e dividiu a votação sobre a reforma, facilitando a aprovação da posição da Articulação.

A existência do governo Lula, coloca todas as organizações da classe trabalhadora à prova: diante da manutenção das reivindicações históricas dos trabalhadores ou da fidelidade ao governo, se estreitam todas as margens de manobra, mesmo num congresso. Esta margem fica ainda menor no terreno da luta concreta.

A esquerda da CUT diante de um novo desafio

Se o governo saiu vitorioso com a eleição de Marinho, não conseguiu seu segundo objetivo: excluir o MTS e o bloco “Unir a esquerda da CUT” da direção da Central.
Ao final, se expressou toda a tensão que atravessou o congresso e seguirá na luta de classes. De um lado, Marinho dizia: “votadas as resoluções, todos terão que aplicá-las” e, de outro, Zé Maria afirmava: “a luta da classe trabalhadora não abandonará as bandeiras que este congresso se recusou a votar”.
Marinho tentará impor à CUT a mesma “disciplina política” que Dirceu/Genoíno estão impondo ao PT.

A esquerda da central estará diante de um enorme desafio, que nenhuma das correntes poderá cumprir de forma isolada: a defesa dos interesses históricos e imediatos dos trabalhadores terá que ser construída diretamente no movimento.

Neste sentido, recai sobre os companheiros do “Fortalecer a CUT” uma enorme responsabilidade política. Pois, não seria demais dizer, que a luta pela unidade da esquerda foi uma batalha incansável dos delegados do” Unir a esquerda na CUT”.
A constituição da chapa 2 foi uma grande vitória. Mas, ela não se deu com a clareza política que em nosso entendimento seria necessária para enfrentar os desafios que nos esperam.

Se a defesa conjunta da retirada da PEC-40 criou as bases políticas para a chapa, a construção de uma intervenção comum na luta de classes será decisiva.
A responsabilidade dos companheiros do “Fortalecer a CUT” nisto é grande, pois, em seu interior também se refletiram as contradições deste congresso, por isso resistiram até o último momento a formar a chapa conjunta.

Também o MTS, depois da unidade construída com os companheiros que formaram o “Unir a esquerda da CUT”, não seguirá sendo o mesmo. Novas tarefas necessitam de novos instrumentos.

Post author Américo Gomes,
de São Paulo
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