Na semana passada, a temperatura da crise política voltou a aumentar. De um lado, o PT ameaça pedir a cassação de Eduardo Azeredo, ex- presidente do PSDB, que teve que renunciar ao ficar comprovada sua utilização do esquema de Marcos Valério no financiamento da campanha eleitoral de 1998. Do outro, a oposição repercute o escabroso assassinato de Celso Daniel e suas implicações no esquema de corrupção do PT em Santo André. Como parte do esquema do PFL, a revista Veja denunciou que a campanha de Lula teria recebido entre 1,4 e 3 milhões de dólares de Cuba. Tudo isso, no meio de três CPI’s, com novas denúncias surgindo.

Isso leva a uma pergunta importante: qual o objetivo da oposição de direita? É mesmo derrubar o governo, fazer um impeachment de Lula, como alguns de seus dirigentes defenderam? Os fatos apontam em sentido contrário.

Motivos não faltam
Motivos não faltariam para justificar medidas drásticas. A cassação da maioria absoluta dos parlamentares, por exemplo, seja da Câmara ou do Senado, do PT, PSDB, PFL, PMDB, PP etc. Bastaria levar a investigação do financiamentos das campanhas até o fim, que abarcam muito mais do que os 18 deputados indiciados.

Da mesma forma em relação à deposição de Lula. Existem hoje mais indícios e fatos contra o governo atual do que havia em relação a Collor. O depoimento de Duda Mendonça, por exemplo, indicou um fato gravíssimo: o pagamento do trabalho do publicitário na campanha de Lula com altas somas no exterior, pelo dinheiro da corrupção, sem nenhuma declaração fiscal, nenhum registro.

Ou ainda o caso Celso Daniel. Aqui existem todos os ingredientes de uma crise política explosiva: um assassinato (aparentemente seguido de outras seis mortes, para silenciar testemunhas); um esquema de corrupção com várias comprovações e testemunhas; e uma manobra ampla de abafamento do caso dirigida por José Dirceu e Gilberto Carvalho (até hoje chefe de gabinete de Lula), registrada em fitas que agora se tornam de conhecimento público.

Mas por trás dos panos…
Quem observar apenas as aparências, pode chegar à conclusão de que uma guerra foi declarada entre o PT e o PSDB-PFL, que essas investigações vão ser levadas adiante e a crise política vai se aprofundar cada vez mais.

Mas, por trás dos panos, existem muitos interesses comuns, que levam a que os atritos atuais não deflagrem nenhuma guerra. Segundo Jacques Wagner: “PT e PSDB têm ‘elementos de identidade’ e deveriam se entender em torno de ‘agenda comum’ para restaurar o ‘bom senso’ no Congresso”.

Quais são os “elementos de identidade”, citados por Wagner? O primeiro deles é a subserviência ao imperialismo, compartilhada tanto pelo governo Lula como por seu antecessor, FHC. Não é por acaso que Lula disse, ao visitar os EUA, que Bush é um “amigo do Brasil”. Não, não é do país, mas é amigo do próprio Lula e do PSDB-PFL. O plano econômico do governo, apoiado pela oposição segue rigidamente os ditados do FMI. Lula se esforça para ser reconhecido como um aluno aplicado que faz os deveres de casa, sempre com o objetivo de mostrar serviço aos donos da escola.

Agora, em apenas nove meses de 2005, conseguiu cumprir a meta de superávit primário prevista para todo o ano. Os juros continuam como os mais altos de todo o mundo, engordando ainda mais os lucros dos banqueiros. Dos mesmos banqueiros que sustentam o PSDB e PFL e que não querem o impeachment de Lula. O governo Bush também está contra desestabilizar Lula, em uma atitude oposta ao que já tentou fazer com Chavez.

Outro elemento que une esses dois blocos é o temor de que as investigações se aproximem das grandes empresas (e dos fundos de pensão como a PREVI) e dos outros políticos corruptos que ainda não estão na berlinda. Por exemplo, até agora, não se investigou a fundo as contas de Duda Mendonça no exterior, porque isso chegaria até as contas em paraísos fiscais tanto do PT como do PSDB.

Por último, tanto o PT como o PSDB-PFL querem canalizar essa crise para as eleições de 2006. Nem o PSDB-PFL quer o impeachment de Lula (e nem ilegalizar o PT), nem Lula quer detonar uma mobilização chavista no país. Nenhum deles quer que a crise brasileira desemboque em uma situação revolucionária como as que ocorreram na Bolívia, Equador e Argentina.

Fora todos!
E é isso que aponta a natureza da crise atual. Nenhum desses dois blocos burgueses vai apostar em um enfrentamento mais sério, porque Jacques Wagner tem razão: existem muitas “identidades”.

Pode ser que a crise escape ao controle dessas direções? Pode. Mas, só poderia desembocar em um processo mais sério, caso houvesse a intervenção de uma grande onda de ascenso, de grandes greves e manifestações (como no Fora Collor), que até agora não ocorreram.

A crise política continua, a temperatura aumentou. Mas, se depender das direções do PT e do PSDB-PFL, só vão servir para desgastar o bloco burguês oponente para as eleições do ano que vem. Vamos ver se realmente o PT vai apresentar a proposta de cassação de Eduardo Azeredo e se o PSDB-PFL vai pedir o impeachment de Lula.

Mas, se dependesse de nós, mobilizações de massas imporiam Fora Todos! Fora o governo, o Congresso, o PT, PSDB, PFL…
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