Redação

O Movimento ao Socialismo, da Argentina, foi um dos maiores partidos trotsquista do mundo

“Solidariedade Socialista será, como foi o Solidariedade (nome do periódico anterior da corrente morenista na Argentina), uma expressão de todos os anseios e desejos dos trabalhadores e dos setores populares argentinos, na busca incessante para alcançar melhores condições de vida e de liberdade humana. Pois, para nós e para milhões, só se pode alcançá-lo através do socialismo”.

Com estas palavras era lançado, no dia 10 de novembro de 1982, o primeiro número do Solidariedade, periódico do velho Movimento ao Socialismo (MAS) argentino, que naquele momento era o partido mais forte da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI), fundada no mesmo ano. A LIT-QI e o MAS, por sua vez, faziam parte da tradição da corrente trotskista orientada por Nahuel Moreno e que este ano faz 70 anos de existência.

Com o fim da guerra das Malvinas, abriu-se uma nova situação política no país, a qual rapidamente implicou na destruição, determinada pela nova mobilização do povo argentino, do sanguinário regime ditatorial que estava no poder desde 1976.

No terreno internacional, eram anos marcados pelo avanço do processo de revolução política na Polônia, cuja máxima expressão era a organização operária Solidariedade; o impacto da revolução centroamericana e o crescimento da opção pelo “socialismo”, que se expressava no crescimento de vários partidos socialdemocratas na Europa, especialmente com a vitória eleitoral do PSOE e de Felipe González na Espanha.

O antigo Partido Socialista dos Trabalhadores (PST), que havia lutado desde o primeiro dia contra a ditadura militar, com o preço de mais de 100 camaradas mortos e desaparecidos, saiu da clandestinidade com muita autoridade política e moral, e se lançou na disputa pelo espaço político aberto pela nova situação.

No calor desse processo nasce o MAS. O primeiro número do Solidariedade Socialista já anunciava a ousadia que caracterizava esse partido: “O MAS propõe abrir 200 sedes em 200 dias”.

Com enorme entusiasmo revolucionário, os cerca de 800 militantes do exPST, se lançaram na construção do novo partido. Em poucos meses suas fileiras foram se fortalecendo e o MAS foi se consolidando como uma alternativa classista, socialista e revolucionária frente aos governos neoliberais e entreguistas de Alfonsín e de Menem, e contra as direções burocráticas.

Com a campanha contra o pagamento da divída externa, contra as iniciativas de absolvição dos genocidas da ditadura, participando das lutas operárias e populares, e também apresentando candidatos com um programa socialista nas eleições, o MAS se transformou no maior partido trotskista  dos mundo, chegando a contar em suas fileiras entre sete e nove mil militantes. Isso se expressava diretamente na venda do Solidariedade Socialista, com uma média de 20.000 exemplares semanais, alcançando picos de 80.000 periódicos vendidos.

Em 1992, no entanto, ocorre uma primeira importante divisão no MAS, que abre um processo de profunda crise política interna, que finalmente desembocou na ruptura do MAS com a LIT-QI em 1997.

Com muita satisfação e orgulho, o Arquivo Leon Trotsky coloca à disposição de todos os militantes da LIT-QI, de todas as organizações de esquerda e democráticas, e de intelectuais e investigadores interessados, toda a coleção do Solidariedade Socialista, totalizando 571 periódicos publicados entre 1982 e 1998, completamente digitalizada e organizada cronologicamente.

Estamos convencidos da importância histórica dessa coleção, pois se trata de uma peça fundamental não apenas para compreender a história de uma experiência única de construção de um forte partido revolucionário, mas também para analisar as causas de sua posterior crise e sua destruição na década de 1990.

A história do velho MAS, independentemente dos balanços históricos de seu desenvolvimento e percurso, está intimamente ligada a uma parte da história do movimento operário argentino e latinoamericano, na qual, sem dúvidas, deixou marcas profundas em toda uma geração de lutadores e lutadoras sociais. Está, além disso, intrínsecamente ligada à história do trotskismo mundial.

Convidamos você a conhecê-la.

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