Operários das fábricas ocupadas fazem passeata, em Buenos Aires

“O jeito Kirchner de negociar”, “a postura firme do presidente argentino”, “a atitude soberana diante do FMI”. Eis alguns dos adjetivos que vêm colados ao nome de Néstor Kirchner. De fato, quando foi eleito, ele despertou ilusões no povo argentino.Hoje a Argentina é um país atravessado por greves, mobilizações populares, marchas, cortes de rutas (estradas) pelos piqueteiros. Empregados e desempregados estão voltando às ruas para poder sobreviver. Com a economia direcionada a fazer superávit primário e pagar a dívida externa, Kirchner só tem a oferecer aos desempregados repressão policial, processos judiciais e prisão. A ironia não podia ser maior. Enquanto os genocidas da última ditadura militar e os responsáveis pelo saque e falência do país continuam livres, Kirchner persegue, julga e prende aqueles que lutam por trabalho, salário e comida. Cerca de 46% dos 37 milhões de argentinos vivem em estado de pobreza. Desse total, 16% são indigentes. A economia regrediu 20% entre 1998 e 2002, arrastando para o fundo do poço 60% da população.

Responsável pela miséria

Com uma lábia eficiente, Kirchner está usando essa situação e a dívida de cerca de US$ 14 bilhões para posar de durão com o FMI. Mas engana-se quem pensa que sua estratégia é romper com o imperialismo e deixar de pagar a dívida. Pelo contrário.
Ele acaba de renegociar um acordo garantindo que os argentinos entregarão 3% do Produto Interno Bruto aos credores como juros e que “a Argentina vai crescer para restaurar a capacidade de pagar a dívida”.

Quem sai ganhando são as empresas privatizadas, os monopólios estrangeiros, a oligarquia financeira. Quem perde são os trabalhadores e a enorme massa de desempregados. Para fazer superávit, numa economia em situação crítica, o governo deixa de investir em saúde, educação, moradia e na geração de empregos.

No Brasil, nós já vimos esse filme. E podemos dizer a nossos irmãos argentinos que não se deixem enganar e continuem lutando. Boa parte da esquerda confia em Kirchner, enganada por seu discurso agressivo contra o FMI. Mas o que ele está fazendo, de fato, é buscar uma negociação mais favorável com o Fundo justamente para continuar pagando a dívida e não o contrário.

Difícil esperar outra coisa. Quando governador, na época em que Carlos Menem entregou de mão beijada todas as mais lucrativas empresas ao capital privado, entre elas a YPF, estatal de petróleo, Kirchner deu sua benção, tornando-se assim co-responsável pela miséria e o desemprego que hoje assolam o país.
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