Arafat celebra os acordos de Oslo, sob o olhar de Clinton

Perante a ONU, o chefe Palestino Arafat exigiu a dissolução do Estado de Israel – membro da ONU – e recebeu estrondosos aplausos”. Assim se iniciava a descrição da revista Der Spiegel quando, em 1974, o já mundialmente conhecido Yasser Arafat, líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), discursou pela primeira vez na Organização das Nações Unidas (ONU), com um ramo de oliveira e uma pistola carregada na cintura.

Quando Arafat fundou em 1969 a OLP, surgia, aos olhos aterrorizados do imperialismo e do Estado de Israel, uma frente única de várias organizações em prol da luta palestina. O Fatah, a organização de Arafat, tornou-se a corrente majoritária dentro da OLP e defendia em seu programa o resgate da Palestina histórica sob um Estado unitário, ou seja, o Fatah e a OLP tinham como programa o desmantelamento do Estado colonial, racista e religioso de Israel e o estabelecimento de um Estado democrático palestino, não-racista e laico. Diferente de alguns movimentos islamitas, a OLP defendia claramente que “o movimento de libertação nacional palestino não luta contra os judeus enquanto comunidade étnica e religiosa. Luta contra Israel, expressão de uma colonização baseada em um sistema teocrático, racista e expansionista, expressão do sionismo e colonialismo”.

Esse programa dirigiu as ações que tornaram a OLP, o Fatah e Yasser Arafat mundialmente conhecidos. Durante as décadas de 1970 e 1980, a resistência palestina, dirigida pela OLP, lutou em armas contra o sionismo, e foi o principal elemento gerador de instabilidade aos planos imperialistas e sionistas para a região do Oriente Médio. Já no fim da década de 1980, no entanto, iniciou-se, cada vez mais claramente, um giro político da corrente de Arafat, que optou pelo caminho das negociações com o imperialismo e com Israel, culminando nos chamados “Acordos de Oslo”.

Oslo, o marco histórico da capitulação de Arafat

Os acordos de Oslo, em 1993 (que se iniciaram secretamente entre a direção da OLP, o governo de Israel e os EUA, em fins dos anos 1980), é o marco histórico da mudança política de Arafat e da OLP. A partir disso, serão abandonadas por Arafat as exigências do direito ao retorno dos refugiados palestinos – cerca de 55% da nacionalidade – e o controle sobre Jerusalém oriental. Na verdade, tais acordos coroaram um processo anterior que foi o reconhecimento, por parte da direção palestina, da existência do Estado de Israel que poderia “coexistir” com um “Estado” palestino, mesmo este não tendo as mínimas condições básicas, como água e agricultura, que continuaram sob o controle de Israel.

A traição de Arafat não se deu sem lutas do povo palestino. Em 1988, a primeira Intifada palestina obrigou Israel, com o apoio dos EUA, a negociar com a Al Fathat. Arafat pôs-se à frente das negociações com o imperialismo, traindo os combatentes palestinos.

Depois de Oslo, em vez de dirigir a luta palestina, Arafat torna-se dirigente de um “Estado” isolado e desagregado territorialmente, onde 50% da população só se alimenta uma vez ao dia e vive em guetos cercados por colonos e militares israelenses. A então formada Autoridade Nacional Palestina (ANP) inicia uma de suas principais funções: a repressão ao povo Palestino, incluindo assassinatos, torturas e perseguições de todos os opositores dos “processos de paz”. De líder guerrilheiro na luta pela autodeterminação da Palestina, Arafat tornou-se o chefe de uma máquina “estatal” corrupta, ameaçado de morte pelo terrorismo sionista e questionado por uma parcela de seu próprio povo. No entanto, as bandeiras históricas da causa Palestina revivem agora nas mãos de toda uma nova geração de líderes, gerados pela nova Intifada.

Saída de Arafat aumenta crise interna na Palestina

Com a saída de Arafat, abre-se um vazio na direção da ANP. Dirigentes ainda mais próximos do imperialismo, como Ahmed Korei e Mahmoud Abbas, já se colocam na disputa. Quorei e Abbas – que foram os principais negociadores em Oslo – não só são vistos com bons olhos pelos EUA, mas também têm como campanha central uma maior repressão aos líderes da Intifada e das organizações que estão em luta contra Israel. É necessário construir uma direção de luta, desde os comitês populares, que resgatem as bandeiras históricas por uma Palestina laica, democrática e não racista.

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