Monarquias aliadas do imperialismo no Bahrein, Arábia Saudita, Omã e Iêmen veem-se na alça de mira da renovação árabeCom a fase de reorganização dos movimentos no Egito e Tunísia e o impasse da contrarrevolução sangrenta de Kadafi na Líbia, as lutas árabes contra seus monarcas se intensificam no Golfo Pérsico.

Longe de ser um alívio aos interesses imperialistas de países europeus e EUA, o novo momento da revolução árabe é ainda mais preocupante. É nos países do Golfo que se encontram as maiores reservas de petróleo e os países mais dedicados à sustentação da matriz do petróleo, bem como da falida ofensiva norte-americana a organizações “terroristas”.


Imagem de TV mostra tropas sauditas invadindo o Bahrein

Invasão saudita no Bahrein
O monarca saudita Abdullah bin Abdul Aziz já vinha manifestando a necessidade de um pacote de bondades para tentar conter as revoltas, tanto em seu território como no do Bahrein – ao qual forneceu verbas para tal. Com a continuidade dos protestos, resolveu cortar a diplomacia e enviar tropas. No domingo, foi noticiada a chegada de blindados e caminhões carregando 1000 soldados sauditas e 500 policiais dos Emirados na pequena ilha de 1,6 milhão de habitantes, governada há 300 anos pela mesma dinastia sunita contra 70% de súditos xiitas. A informação foi confirmada pelo ministro de Relações Exteriores dos Emirados, em coletiva de imprensa ao lado de Hillary Clinton.

A oposição ao rei bahreinita denunciou o deslocamento como “ocupação aberta do reino do Bahrein e uma conspiração contra o povo desarmado”, além de denunciar que mais tropas sauditas já se encontravam no país. A pequena ilha é também a sede da 5ª Frota norte-americana, cujos objetivos são a proteção dos cargueiros que transitam por ali, o que inclui os do Iraque e Kuwait, e a dissuasão militar do Irã. Assim, parece pouco provável definir o Bahrein como um país dotado de qualquer soberania.

Concentrados na praça Pérola, onde instalaram barricadas e tendas à maneira da praça Tahrir do Egito, o movimento bahreinita também vem espalhando atos pela capital. Manifestantes fecharam as ruas que dão acesso ao distrito financeiro e fizeram diversas passeatas na principal universidade. A direção do movimento é dividida entre os republicanos e os que defendem uma monarquia constitucional, mas conforme a repressão do governo se aprofunda e as vítimas fatais vão acumulando-se, a reivindicação pela liquidação da monarquia parece a única via possível.

No Iêmen, universidade de Sanaa é a fortaleza dos protestos
No Iêmen, o país mais pobre do Golfo e cuja ditadura apoiava-se em dinheiro americano em troca de combater a Al-Qaeda presente nas montanhas de seu território, tentativas de concessão do governo esbarram no mesmo fator: o número de mártires. Empregando gangues e violência policial, o ditador Ali Abdullah Saleh, no poder desde 1978, tem ficado cada vez mais isolado de sua base social, perdendo inclusive o apoio de tribos de áreas importantes onde estão as poucas reservas de petróleo iemenita. Em uma delas, um ancião discursava: “Sr. Saleh, não trate seu povo como Kadafi! Dê-lhes o direito de escolher seu futuro!”.

Na mesma província, manifestantes conseguiram responder à ofensiva policial esfaqueando o governador. No entanto, o governo de Saleh tem feito inúmeros feridos e mais de 30 mortos entre os manifestantes, além de proibir a entrada de jornalistas estrangeiros no país, coibir os que lá estão, aprisionar e deportar alguns.

Com o desemprego em 35%, e 42% da população abaixo da linha da pobreza, no Iêmen “futuro” é realmente uma palavra nebulosa. Sob tamanha pressão da miséria e da opressão policial, a população iemenita só fez apoiar e engrossar o movimento iniciado entre jovens e universitários. No auge da mobilização, a ocupação diante da Universidade de Sanaa chegou a 10 mil manifestantes.

*Luiz Gustavo esteve no Egito durante a revolução que derrubou Mubarak, como enviado especial do Opinião Socialista, o jornal do PSTU