Economista chefe do FMI, Simon Johnson, divulga o relatório
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Fundo orienta países periféricos a “apertar a política” e aponta biocombustíveis como causa da alta de alimentos no mundoO então cauteloso Fundo Monetário Internacional está sendo obrigado a adequar seu discurso à já dura realidade da economia norte-americana. Recessão nos EUA, crescimento reduzido com risco de recessão no mundo e aumento ainda maior no preço dos alimentos são algumas das perspectivas apontadas pelo fundo.

No relatório semestral publicado pelo FMI, intitulado “Estabilidade Financeira Global”, o fundo estima que a crise financeira já resultou num prejuízo de US$ 954 bilhões. A instituição reconhece que a crise, originada no chamado mercado “subprime” nos EUA, de hipoteca de risco, “transbordou” e atingiu outros setores da economia, prejudicando outros tipos de crédito e afetando o consumo e bancos fora do mercado norte-americano.

Já o documento divulgado nesta quarta, dia 9, Perspectiva Econômica Mundial (World Economic Outlook), aponta para uma recessão nos EUA e um crescimento mundial menor, havendo risco de uma recessão mundial. É o primeiro documento oficial do FMI que aponta explicitamente a perspectiva de recessão.

Graves sinais
O relatório prevê que a economia norte-americana crescerá 0,5% em 2008. Já a perspectiva de crescimento mundial é de 3,7%, 0,5% menor do que se previa em janeiro deste ano. O fundo estima em 25% as chances desse crescimento ser de 3% ou menos, em 2008 e 2009, o “equivalente a uma recessão global”. “A expansão mundial está perdendo ímpeto frente a uma grave crise financeira”, aponta o relatório.

Além da redução do crescimento, outro problema apontado pelo relatório é a inflação nos alimentos, que deve crescer ainda mais. “A demanda de biocombustíveis encareceu importantes cultivos alimentícios. Aparentemente, este aumento dos preços dos produtos básicos se deve também, ao menos em parte, a fatores financeiros, já que os produtos básicos estão se perfilando como mais uma alternativa entre as classes de ativos de investimento”, afirma o relatório, reconhecendo que a inflação nos alimentos é impulsionada pelo aumento de terras agricultáveis destinadas aos biocombustíveis e a especulação financeira.

A Europa também não escaparia dessa tendência de crise. O fundo prevê uma “redução da atividade muito abaixo do potencial por causa dos desdobramentos comerciais, as tensões financeiras e um ciclo negativo da habitação em alguns países”.

Endurecer a política
Para as “economias emergentes”, o fundo prevê uma “ligeira moderação” na rota de crescimento. Porém, o FMI recomenda que os países em desenvolvimento estejam “preparados para responder a uma redução do crescimento e a novas dificuldades de financiamento se as condições externas piorarem drasticamente”. Ou seja, ao mesmo tempo em que tenta manter a tranqüilidade nos mercados periféricos, alerta os governos para a possibilidade da crise.

Mais do que isso, o recado do FMI para os governos dos países periféricos é claro. Segundo o relatório “é necessário endurecer mais a política monetária para manter controlada a inflação”. Ou seja, mais aperto fiscal. “Com a finalidade de manter a confiança, algumas economias emergentes e em desenvolvimento com profundos déficits em conta corrente e outros focos de vulnerabilidade e que dependem das entradas de capitais devem responder endurecendo as políticas sem demora”, avisa.

Tal orientação está sendo seguida à risca no Brasil. A divulgação do relatório se deu menos de 48 horas depois de o governo Lula ter anunciado um corte recorde no Orçamento, de R$ 19,4 bilhões, a fim de manter o superávit primário, a economia para pagar juros da dívida. Contando com o que foi já foi bloqueado pelo Congresso, durante a aprovação do Orçamento de 2008, os cortes chegam a quase R$ 32 billhões.

  • Leia o resumo do Relatório Perspectiva Econômica Mundial (em espanhol)