A greve de fome de 11 dias do bispo Dom Luiz Cappio colocou em pauta a questão do projeto de Transposição das Águas do Rio São Francisco, que estava sendo empurrado goela abaixo da população nordestina.

A transposição fará um desvio das águas, por meio de canais de concreto, estações de bombeamento e reservatórios, da Bahia para outros estados. No entanto, o projeto do governo corrupto de Lula e do PT irá beneficiar apenas as empreiteiras responsáveis pela obra e os grandes latifundiários do Nordeste, apesar da propaganda milionária de que vai acabar com a sede do povo pobre do sertão.

A primeira fase da obra custará R$ 4,5 bilhões para os cofres públicos, dinheiro que vai enriquecer os bolsos dos donos das mesmas empreiteiras que financiaram o caixa dois da campanha eleitoral de Lula e que agora cobram a fatura. Além disso, das águas que serão transpostas, 70% vão para os projetos de irrigação dos grandes latifundiários que produzem camarão e frutas para exportação, 25% para o abastecimento de grandes cidades do Nordeste e apenas 5% para a população difusa do semi-árido nordestino.

Alternativas
Há alternativas muito mais viáveis para se acabar com a falta de água para o povo do sertão, como cisternas de coleta de águas das chuvas e barragens de lençóis freáticos, além de outras estratégias de convivência com o semi-árido. E, além disso, é necessário fazer a reforma agrária na região.

Lula e os ministros Marina Silva (Meio Ambiente) e Ciro Gomes (Integração Nacional), contudo, priorizam enriquecer empreiteiros e latifundiários e usar a obra para fortalecer a estratégia petista de reeleger Lula em 2006, divulgando a mentira deslavada de que está acabando com a seca.

Hipocrisia
A oposição burguesa, depois da repercussão nacional da greve de fome do frei Luiz Cappio, tenta se colocar a favor do Velho Chico. Nada mais falso. Primeiro foi Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que foi até Cabrobó beijar a mão do frei, dizendo-se contra a transposição. Já Aécio Neves (PSDB), governador de Minas Gerais, anunciou que apoiaria a transposição, desde que seu estado recebesse R$ 300 milhões para cuidar do Rio São Francisco.

PSDB e PFL vêm utilizando o desgaste de Lula com a corrupção para tentar vencer as eleições. No caso da transposição, agem da mesma forma, colocando-se de mentirinha contra o projeto para barganhar verbas. Desde o governo FHC, PSDB e PFL tentam aprovar essa obra. Todos são iguais; são favoráveis à transposição e utilizam-se dos mesmos mecanismos que o PT passou a usar para financiar as campanhas eleitorais.

Lula não assumiu nenhum compromisso com Dom Luiz Cappio
A greve de fome do frei Dom Luiz Cappio foi um ato heróico na defesa do Velho Chico. Seu jejum foi muito importante, para tornar essa luta conhecida nacionalmente.

Dom Luiz terminou seu protesto no dia 6 de outubro, após um acordo selado com o ministro das Relações Institucionais, Jacques Wagner, do PT.

Acreditamos que Lula conseguiu realizar uma manobra política e terminou por não se comprometer com absolutamente nada. O acordo foi realizado sobre três pontos: o início imediato do plano de revitalização do Velho Chico, a liberação de R$ 6 bilhões em 20 anos para o mesmo e um encontro do frei com Lula. Em relação ao ponto mais importante, que é a própria transposição, afirmou que a obra seria realizada da mesma forma já planejada.

Isso é comprovado pela declaração do ministro Ciro Gomes que disse que o cronograma de obra não terá prejuízo: “Ainda não considero [o cronograma] prejudicado, mas isso depende de coisas que não estão na nossa governança”, afirmou o ministro, que anunciou o início das obras para novembro.

Ou seja, a situação não se modificou, já que a revitalização já estava anteriormente acordada. Por isso, não podemos depositar nenhuma confiança seja no governo ou nos partidos da oposição burguesa, e devemos manter nossa mobilização.

Frei Luiz Cappio, desconfiando das intenções do governo, já declarou que poderá retomar a greve de fome, caso o acordo não seja cumprido. Em vez de nos contentarmos, devemos todos aproveitar a repercussão que o gesto obteve para dar continuidade e avançar com as mobilizações. A única alternativa para derrotar o projeto da Transposição do Rio São Francisco é dizer Fora Todos! e organizar ampla campanha, com mobilizações unitárias e atos nacionais.

Conlutas participa de ato em Minas

O Rio São Francisco completou 504 anos de seu descobrimento no dia 4 de outubro. O povo ribeirinho tem pouco a comemorar e muito a se preocupar. Por outro lado, nessa data, ocorreram manifestações populares e bloqueios de rodovias em diversas cidades ribeirinhas, em defesa da revitalização total do Rio São Francisco, contra a Transposição e em solidariedade à greve de fome do frei Dom Luiz Cappio.

Uma das manifestações ocorreu na cidade de Pirapora, no Norte de Minas Gerais, e reuniu cerca de 1.500 pessoas. A concentração do ato foi pela manhã, ao lado da ponte Marechal Hermes, patrimônio histórico da cidade, onde aos poucos foram aglutinando-se metalúrgicos, sem-terra, servidores municipais, estudantes, ambientalistas e moradores.

Com faixas, cruzes e um caixão contendo uma réplica da espécie de peixe mais famosa da região – o surubim –, os manifestantes caminharam em direção à ponte que liga as cidades de Pirapora e Buritizeiro, onde interromperam a rodovia BR-365 por cerca de uma hora e meia. A manifestação denunciou também as grandes indústrias e latifundiários da região que poluem o rio, principalmente a Companhia Mineira de Metais (CMM), do Sr. Antonio Ermírio de Moraes, principal causadora da mortandade dos surubins, desde janeiro.

Essa manifestação contra a Transposição foi chamada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e foi organizada pelo Comitê de Luta do São Francisco, que conta com diversas entidades, sindicatos e movimentos sociais como MST, Colônia de Pescadores de Pirapora e Buritizeiro, além do Sindicato dos Metalúrgicos de Pirapora, filiado à Conlutas, um dos grandes impulsionadores do movimento. O ato teve também a participação de representantes de outras cidades, como a ONG Cáritas, pescadores de Barra do Guaicuí, sindicatos de metalúrgicos de Três Marias, Vespasiano e Itaúna, ligados à Federação Metalúrgica de Belo Horizonte e à Conlutas, e com militantes do PSTU.
Post author Ana Thé e Zé Andrade,de Pirapora (MG)
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