Passagem de ônibus, trem e metrô de São Paulo sobe para R$ 2,30, anunciando o que deve ocorrer em outras capitaisPassadas as eleições, prefeitos e governadores aproveitam o final de ano para aumentarem as tarifas do transporte público urbano. Utilizando sempre o velho argumento de um suposto rombo nas contas públicas e das empresas de transporte, políticos e empresários planejam uma nova extorsão sobre a população trabalhadora e os estudantes.

No começo de novembro, a tarifa do ônibus na região metropolitana de Salvador subiu 12,20%. Já na capital paulista, o transporte público fica ainda mais caro a partir do dia 30 de novembro. As tarifas de ônibus, trens e o metrô sofrerão de conjunto aumento de 15%, valor superior ao triplo da inflação no período, de 4,68%, passando a valer, cada um, R$ 2,30. Nos últimos 12 anos, a tarifa aumentou 400%. Valendo-se de um humor mórbido que não foi capaz de utilizar durante a recente crise do PCC, o governador Cláudio Lembo (PFL) saiu-se com essa durante o anúncio do aumento: “Tudo R$ 2,30, agora ficou fácil”.

O aumento em São Paulo se dá através de uma negociação entre prefeitura, governo do estado e as empresas de transporte. A prefeitura afirma que o subsídio garantido ao sistema de integração causa um rombo de R$ 85 milhões nas contas públicas. Em audiência pública sobre o reajuste, o chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Transportes, José Roberto Generoso, foi taxativo: “Alguém tem que pagar essa conta”, afirmou. Esse alguém, claro, é a população pobre. Com o aumento, um trabalhador ou estudante que depende do transporte público vai gastar ao final do mês, só contando os dias úteis, cerca de R$ 101.

Ou seja, um trabalhador vai gastar quase 30% de um salário mínimo no mês só com transporte. Como se isso não bastasse, o valor das tarifas é proporcional à degradação e sucateamento do transporte. Frota sucateada e, sobretudo, insuficiente transforma o cotidiano da população num verdadeiro inferno.

Caixa preta do transporte
Para quem realmente depende do transporte público, é difícil acreditar que exista alguma possibilidade do setor causar prejuízo. Ônibus e trens superlotados nos horários de picos é um fenômeno nacional. Cada vez mais fica evidente a roubalheira que ocorre nos subterrâneos das contas do setor.

Ainda em São Paulo, vários vereadores da Comissão de Trânsito, Transporte e Atividade Econômica da Câmara denunciaram inúmeras irregularidades nas planilhas apresentadas pela prefeitura para embasar o aumento da tarifa. Além de informações truncadas e desencontradas, há indícios de superfaturamento. Pelas contas da prefeitura, houve um aumento de nada menos que 47,7% na renovação da frota de ônibus, passando de R$ 19 milhões em 2005 para R$ 28 milhões este ano. O usuário, no entanto, não notou nenhuma diferença nesse período.

Redução das tarifas e Passe-Livre Já!
Trabalhadores e estudantes não deixarão passar o aumento sem luta. Assim como ocorreu em Salvador, Florianópolis e Espírito Santo, a resistência encabeçada pelos estudantes se articula para barrar mais esse ataque. Na capital paulista, a Frente de Luta Contra o Aumento, composta por vários movimentos e entidades da juventude, realizou um ato no dia 24. A manifestação foi duramente reprimida pela polícia quando os estudantes promoviam um “roletaço” em um terminal de ônibus.
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