Guarani Kaiowá retomam fazenda onde jovem indígena foi assassinado

O clima na região retomada é de extrema tensãoNão bastassem os incêndios criminosos e as ameaças de morte sofridas pelas lideranças Kaiowá-Guarani no último período, no dia 16 de fevereiro, os indígenas da aldeia Tey’ikue, localizada na área indígena de Caarapó (MS), são surpreendidos com mais uma tragédia. Denilson Quevedo Barbosa, de 15 anos, foi torturado e assassinado com três tiros na cabeça enquanto pescava na reserva de Caarapó (MS). O corpo foi encontrado dia 17, em uma estrada próxima. O crime foi cometido por Orlandino Carneiro Gonçalvez, arrendatário da fazenda, tendo como comparsas seu filho e jagunços.

Como resposta ao assassinato de Denilson Barbosa, bem como manifestação da indignação que toma todo o povo Kaiowá-Guarani, foi feita uma retomada por parte nos indígenas do território onde o jovem foi enterrado, local do crime. Esta área compõe parte do antigo tekoha (território sagrado) Pondoty, ocupado por fazendeiros para a criação de gado e cultivo de soja. É direito inalienável que os Guarani-Kaiowá permaneçam nestas terras. No entanto, não apenas a conquista, mas a garantia de direitos por parte dos povos indígenas não passará sem a resistência das classes dominantes, que historicamente se beneficiam da parcialidade do sistema judiciário.

Retomada repercute e gera clima de tensão
Segundo relato de Valdelice Verón, liderança da etnia Guarani-Kaiowá, o clima na área onde foi feita a retomada é de extrema tensão. Há tentativas constantes, por parte do fazendeiro e seus jagunços, de coibir os indígenas, instaurando o medo e a insegurança. Muitos carros desconhecidos circundam a região; Adriano, genro do fazendeiro Orlandino Carneiro Gonçalvez, lança tiros em disparada todo o tempo, preocupando as famílias, principalmente quanto a segurança das crianças. Houve, até mesmo, confronto entre a Polícia Militar, Polícia Civil e pistoleiros contra os indígenas, na tentativa de retirá-los do local. De acordo com relatos, houve disparo, durante o confronto, por parte da polícia e dos jagunços. Diante desde cenário, a Força Nacional enviou apenas um carro contra dez dos fazendeiros. Já a FUNAI, mantêm-se ausente.

A despeito de todo este descaso, os Guarani-Kaiowá seguem resistindo. Estão se mobilizando em torno da defesa do território retomado e contra os ataques dos latifundiários a cada vez mais aldeias. O povo Guarani – Kaiowá da aldeia de Tey’ikue não estão sozinhos, nem no Mato Grosso do Sul, nem no restante do país.

Governo Dilma deve tomar uma providência!
Ao passo em que parcela expressiva da população brasileira tem acompanhado e se comovido com a situação dos Guarani-Kaiowá, o governo Dilma sequer tem se pronunciado a respeito do tema. Sabemos que o que ocorre hoje é resultado de séculos de opressão, no entanto, o governo federal tem sua parcela de culpa ao seguir privilegiando o agronegócio exportador e os latifundiários, colocando o lucro de poucos acima da vida dos povos indígenas. Em poucas palavras, Valdelice demonstra muito bem qual é a lógica que faz com que os povos indígenas sejam ainda hoje tão subjulgados:

“O governo brasileiro, o capitalismo, não precisa matar índio um por um. Acho que o governo Dilma não vai gastar muito dinheiro se mandar o exército nacional matar todo o povo Guarani-Kaiowá. O que acontece é que hoje somos um ‘incômodo’ em nosso próprio país.”

É preciso que a presidenta Dilma mude sua política de privilégios ao agronegócio e atenda as reivindicações históricas das comunidades indígenas, que intervenha nas ameaças de despejo contra os Guarani-Kaiowá e, por fim, avance na demarcação e homologação das terras tradicionais, assumindo assim a responsabilidade que lhe compete. É possível evitar mais uma tragédia social.

“A presidente Dilma precisa olhar de verdade para o povo Kaiowá-Guarani. Falaram para esperarmos até abril para fazermos uma retomara de terras, mas isso é só para os americanos verem por causa da Copa, para dizer que está tudo bem, mas não tá. Precisamos de demarcação e homologação de nossas terras já!”, exige Valdelice Verón em nome do povo Guarani – Kaiowá.