Nicolas Sarkozy foi eleito com 53% dos votos contra 47% de Ségolène Royal, com uma taxa de participação alta (84%). A eleição demonstra a radicalização e a mobilização massiva do eleitorado burguês e pequeno-burguês em prol de Sarkozy. Frente a esses dois candidatos que representavam a continuidade burguesa, frente a essa não escolha, muitos preferiram o modelo original (Sarkozy) à sua copia (Royal). O resultado da eleição indica uma certa desorientação do setor operário e camponês, já que as campanhas dos dois candidatos tentaram diluir as fronteiras de classe… Nesse sentido, o chamado da Liga Comunista Revolucionária (LCR-Secretariado Unificado) e de Lutte Ouvrière (Arlette Laguiller) para votar na candidata Royal só contribuiu para reforçar a confusão.

O “modelo original” defendeu uma política claramente de direita, retomando por sua própria conta as reivindicações do patronato e tentando unificar todos os setores da direita, até então divididos, para poder conduzir a classe operária até a derrota. Sarkozy usou os temas da extrema-direita, sobre a imigração e sobre a falta de segurança, e tentou dividir sistematicamente os trabalhadores, opondo os do setor privado aos do setor público e opondo, também, os que “levantam cedo” aos que “não trabalham”.

Ele ocupou o terreno tradicional da extrema-direita, que defende a seguinte lógica: o adversário do operário não é o patrão, mas o outro operário, o imigrante, o desempregado. Por isso, o discurso de Saint-Étienne, no dia 9 de novembro de 2006, exibindo um Sarkozy de perfil “social”, constitui uma referência explicita ao discurso do Maréchal Pétain, que, em 1941, nessa mesma cidade, tinha apresentado sua “carta trabalhista”, um projeto corporativista, que associava trabalho e capital. Sarkozy tentou embaralhar as cartas, quando começou a multiplicar as referências a Léon Blum ou a Jean Jaurès nos seus atos públicos. De seu lado, “a cópia” defendeu em palavras ambíguas uma política de direita, na continuidade da política aplicada há anos, em nome do respeito dos tratados capitalistas, o de Maastrich, por exemplo. Royal ocupou o terreno de Sarkozy. Assim, em relação às expulsões dos sem-documentos, ela contestou o comportamento da polícia somente no plano da moral: a prisão de um avô – para ser expulso – não constitui um problema para ela, desde que não seja na frente de uma escola aonde são escolarizados os netos desse avô.

A “cópia” se pronunciou também pelo enquadramento da juventude… Em centros fechados, dirigidos pelo exército, quando Sarkozy propunha que fossem dirigidos pela polícia. Pretendendo reconciliar a França com as empresas, ela anuncia sua determinação a reformar os regimes especiais de aposentadoria, e apresenta um CPE de “esquerda”: o seu famoso “primeira sorte”; Royal quer reformar a carta escolar e Sarkozy quer que cada um possa escolher a escola para sua criança, etc. Poderíamos desenvolver todos os temas de sua campanha, até o circo feito em torno à identidade nacional. Nada foi poupado aos trabalhadores e aos jovens.

A confusão foi ao seu cúmulo quando o PS começou uma operação de aproximação com a UDF de François Bayrou, cujos representantes políticos aderiram em massa ao voto Sarkozy! No Primeiro de Maio, foi o cúmulo, no estádio Charléty, quando ela chegou a declarar: “Ouvi os candidatos da esquerda antiliberal. Sim, a vida vale mais do que os lucros! Sim, ouvi o ideal dos militantes anti-globalização; sim, outro mundo é possível! Sim, ouvi o recado dos eleitores do centro e de todos os republicanos do progresso e digo para eles: nada será feito sem o amor à democracia, para uma Europa que funcione e, sobretudo, para um Estado imparcial”.

Ségolène Royal, antiliberal, anti-globalização e favorável ao tratado da constituição européia. Ela “deu de beber e comer a todos”, até que no final ninguém se reconheceu no seu programa.

De fato, a campanha entre os dois turnos só fez ampliar o que tínhamos declarado depois do 22 de Abril: Os que dizem que Sarkozy quer impor uma derrota à classe operaria tem razão, mas temos também razão quando afirmamos que S. Royal e o PS querem impor uma derrota sem lutas aos trabalhadores. Entre a política do big stick do pequeno fürher das Carpatas (Sarkozy), e a política de Pétain de integração dos sindicatos ao aparelho de Estado de Royal, não temos que escolher. Escolher entre esses dois candidatos da UMP e do Medef (patronal), seria aceitar as suas políticas e aceitar ser comido ao seu molho. Persistimos e assinamos.

Além da eleição presidencial e das legislativas que se aproximam, os dirigentes do PS e da UMP tem preocupações em comum. Vimos que os dois candidatos tinham a mesma postura em relação às reformas: não regularização dos sem documentos, ordem moral para a juventude, destruição das conquistas sociais (regimes específicos de aposentadoria, serviço mínimo contra o direito de greve, generalização da precariedade, etc.) integração das organizações sindicais ao Estado.

Entretanto, o PS e a UMP vêem mais longe. Estão de acordo para tentar salvar as instituições: apoiando-se no qüinqüenal e no bipartidarismo institucional, eles querem acentuar o caráter bonapartista do regime. De imediato, esse movimento pela direita se traduziu pela eleição de Sarkozy.

O voto útil é uma fatalidade?
A desorientação e a confusão criadas a propósito pelos dois candidatos de direita (Sarkozy e Royal) e as forças que eles representam, são desmentidas todo os dias pela luta de classe. Prova disso, são as greves que se desenvolveram durante o período eleitoral, como a greve da Airbus, que durou 115 dias, apesar das direções sindicais. Há aqui um verdadeira contradição entre o desenvolvimento real da luta de classe e seu resultado no terreno destorcido das eleições.

Neste contexto, a decisão de LO e da LCR a chamar a votar em Ségolène Royal contribuiu para desorientar a classe operaria e objetivamente diluir as fronteiras de classe.

Durante anos, no terreno destorcido das eleições, os trabalhadores rejeitaram todos os governos de direita como de esquerda, já que todos têm aplicado medidas anti-operárias, ditadas pelos tratados europeus. Durante anos, os trabalhadores demonstraram sua vontade de resistir com métodos clássicos da luta de classe.

Nesse contexto, para os marxistas revolucionários, não há fatalidade no voto útil ou qualquer coisa do gênero. De fato, um partido determinado, verdadeiramente operário e internacionalista, um partido anti-capitalista e para o socialismo, com um programa e palavras-de-ordem apropriados, teria rejeitado a tática do voto útil para transformá-lo em movimento para reforçar o partido revolucionário e a mobilização da classe operaria. Não foi isso que LO e a LCR tentaram fazer durante essa campanha.

E agora?
Hoje Sarkozy anuncia sua intenção de acelerar a aplicação do seu programa. O PS, que continua com as brigas internas, persiste no seu projeto pró-capitalista. Sua renovação ou refundação o conduz a procurar um acordo, uma convergência, com o novo movimento democrata, a ex-UDF, de François Bayrou. Assim François Hollande, primeiro secretario do PS, declarou no dia 13 de Maio, no canal de televisão France 3: “Não há via sem saída, há que inventar uma nova estratégia, a invenção dessa estratégia, é um grande partido socialista que vai da esquerda, sem ir até a extrema-esquerda, é até o centro-esquerdo ou até o centro”. Do seu lado, o PCF chama o “sobressalto dos progressistas”… Na perspectiva das legislativas!

Neste intervalo, a classe operária e a juventude continuam a mostrar sua determinação para defender seus interesses, suas conquistas e seu futuro, pela greve e pelas manifestações, pelos métodos tradicionais da luta de classe, isso apesar das burocracias sindicais que querem integrar-se ao Estado a acompanhar a aplicação dos projetos do MEDEF.

Aos que recusaram a armadilha da confusão e da colaboração de classe, o interesse histórico da classe operaria exige que se juntem e travem o combate para a única ruptura possível, a ruptura com a ordem estabelecida, a ruptura com o capitalismo, para o socialismo.

Esse 6 de Maio, ao contrário de LO a da LCR, militantes, correntes, setores que reivindicam a classe operária, fizeram, como o GSI, a escolha de rejeitar os dois candidatos da burguesia.

Agora, são esses militantes que tem de defender um sindicalismo de classe, independente do Estado e do patronato, no país e na União Européia, rompendo com a Confederação Européia dos Sindicatos (CES) e a Confederação Sindical Internacional (CSI). Para isso, precisamos construir, em todos os sindicatos tendências de luta de classe, que trabalharão para a unidade da classe operária, fieis aos seus interesses históricos, na perspectiva de uma CUT, central unificada dos trabalhadores sem burocratas.

Através da discussão e da procura de uma ação comum, esses militantes tem que fazer de tudo para abrir uma alternativa revolucionaria, e construir a ferramenta que a classe operaria necessita: um partido operário internacionalista, anti-capitalista, para o socialismo.

França, 14 de maio de 2007