Janaína e Domitila na Alemanha em 2008

Nesse mês de março, mês de luta das mulheres, as mulheres trabalhadoras de todo o mundo perderam uma de suas grandes expressões. Domitila Barrios, a dirigente do Comitê das Donas de casa da Mina Siglo XX, que derrotou Paz Estenssoro, a ditadura de Banzer e que organizou as mulheres para lutar ao lado dos mineiros bolivianos contra o capitalismo e o machismo.

Falar de Domitila é antes de mais nada falar de um exemplo de força e garra da mulher trabalhadora que, com todos os revezes da vida, se mostrou durante anos e anos um símbolo de superação e enfrentamento permanente aos grilhões impostos pela opressão e pela exploração.

Eduardo Galeano relata como era Domitila em um de seus textos: “Recordo-me de uma assembleia de trabalhadores, nas minas da Bolívia, já faz um tempinho, mais de 30 anos: uma mulher lançou-se entre os homens e perguntou qual é nosso inimigo principal. Escutaram se vozes que respondiam: ‘o imperialismo´, ‘a oligarquia´, ‘a burocracia´… E ela, Domitila Chungara, esclareceu: ‘Não, companheiros. Nosso inimigo principal é o medo, e o levamos dentro de nós. ´ Eu tive a sorte de escutá- la. Nunca esqueci”.

Uma mulher trabalhadora, mãe de 11 filhos e militante. A boliviana Domitila Barrios de Chungara foi uma das principais dirigentes do comitê das donas de casa da mina Siglo XX, fundado em 1961, momento em que o país era obrigado a suportar o governo de Paz Estenssoro.

Nesse ano de 1961, a empresa que controlava as minas da Siglo XX não pagou os salários aos mineiros e assim permaneceram durante três meses.. Os mineiros resolveram se organizar para fazer uma marcha até La Paz junto com suas esposas e filhos. Mas o governo ficou sabendo e atacou antes. Muitas das esposas dos mineiros foram a La Paz reclamar ao governo que os soltassem, mas foram humilhadas e até agredidas sexualmente.Até que todas se uniram e foram juntas até lá.

Quando chegaram foram atacadas por mulheres que apoiavam o governo e que estavam organizadas para recebê-las. Elas enfrentaram e em seguida declararam greve de fome. Receberam o apoio dos operários das fábricas próximas e dos estudantes. Elas exigiam a liberdade de seus companheiros, o pagamento dos salários para os trabalhadores, o abastecimento dos armazéns e medicamentos para os hospitais.

A greve de fome durou dez dias, cresceu, ganhou repercussão e o governo foi derrotado. os mineiros foram libertos e a empresa teve de pagar os salários atrasados.

Essas mulheres voltaram e continuaram organizadas para lutar e fundaram o Comitê das Donas de Casa da mina Siglo XX. Sofreram repressão por parte da patronal e do governo, muito machismo por parte dos próprios mineiros. Mas seguiram firmes em seus propósitos.

Além de ter sido uma das principais dirigentes dessa experiência importantíssima de movimento de mulheres trabalhadoras, foi também liderança de lutas fundamentais nas minas da Bolívia que em 1978 acabaram provocando a queda da ditadura militar de Hugo Banzer Suárez (1971-1978).

Ela e outras três dirigentes do Comitê de Donas de Casa do Distrito Mineiro Siglo XX, em Llallagua, iniciaram uma mobilização com uma greve de fome exigindo a anistia e o retorno dos exilados políticos do regime,algo que se estendeu por todo o país, e fez com que Banzer se visse obrigado a renunciar após sete anos de ditadura.

Sua experiência está relatada no livro de Moema Vizzer :Si me permiten hablar, editado pela primeira vez em 1977. Em 2008 tive a alegria de conhecer pessoalmente Domitila Barrios, num encontro internacional de mulheres realizado na Alemanha.Uma mulher que esteve a frente de seu tempo, símbolo da luta das mulheres trabalhadoras de todos os tempos.Sua trajetória nos fica de herança,presente entre nós como um exemplo de força e superação das mulheres da nossa classe.Ela seguirá, como outras camaradas lutadoras que se foram, na vida e na luta de cada uma de nós!