A bronca com o governo e a democracia dos ricos vai tomando formas diferentes. Existem muitas diferenças entre o que aparece nos jornais e o que acontece na realidade dos trabalhadores.

Na superfície, na aparência, o governo vai ganhando espaço, com o acordão sendo costurado com a oposição burguesa. Tanto PT e PCdoB como PSDB e PFL estão de acordo em acabar com a crise e canalizar a bronca para as eleições de 2006. Com a pizza sendo preparada, Lula já ganhou a presidência da Câmara com Aldo Rebelo, e agora vai evitar a cassação dos deputados petistas com a renúncia.

O governo Lula está ancorado no crescimento da economia e no apoio explícito do governo Bush. O secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, afirmou que Pallocci é a “força da razão na economia mundial“. Não é por acaso: os bancos batem recordes atrás de recordes em seus lucros no Brasil. Já os salários dos trabalhadores seguem arrochados, como o dos bancários, aos quais os banqueiros ofereceram o ridículo reajuste de 4%, uma verdadeira provocação perante seu lucro astronômico.

Entre os trabalhadores e os jovens, a bronca explode em primeiro lugar na multiplicação e radicalização das greves. Contra a patronal, contra o governo e, na maioria dos casos, contra a direção dos sindicatos ligados à CUT, os trabalhadores estão fazendo ou fizeram greves heróicas. O funcionalismo federal da educação (Fasubra, Andes e Sinasef), segue em greve há vários dias, apesar da direção da Fasubra que torpedeou a mobilização de todas as maneiras. Os estudantes da Conlute estão buscando ampliar a greve estudantil que já está atingindo várias universidades. Os bancários entraram em uma greve difícil pela enorme desconfiança quanto à direção dos sindicatos ligados à CUT, que traíram a luta no ano passado, e estão boicotando esta também. Quando fechamos esta edição, não se sabia por quanto tempo os bancários sustentariam a paralisação, tendo que se enfrentar com tantos inimigos. Os metalúrgicos da Volkswagen estão lutando contra uma patronal decidida a derrotar a organização interna dos trabalhadores, e a direção do sindicato que não buscou a solidariedade dos trabalhadores das outras montadoras, deixando a greve isolada. Os petroleiros vão paralisar a Petrobras no dia 17, em uma política definida pela oposição, inicialmente contra a FUP/CUT, que depois teve que aceitar a luta.

Além disso, a insatisfação contra o governo , e também contra a democracia dos ricos (contra os “políticos”) vai tomando a forma da ampliação do Não no referendo sobre a proibição do comércio de armas. Pouco a pouco, o referendo pode estar tomando um caráter plebiscitário, contra e a favor do governo e dos “políticos”. Apesar do apelo dos artistas da Globo e músicos famosos como Chico Buarque, o Não vem aumentando seu peso entre os trabalhadores e jovens.

É a hora de os sindicatos e entidades estudantis e populares apoiarem as greves em curso, tomando o exemplo da Conlutas. A vitória de cada uma das greves ajuda a outra luta a vencer também, assim como a derrota de uma piora a situação das outras.

Por outro lado, as entidades sindicais e estudantis também devem se engajar na campanha pelo Não no referendo de outubro. É preciso tomar posição concreta perante a tentativa do governo de impor uma medida antidemocrática de desarmar a população. Nem os bandidos nem a polícia vão se desarmar, a violência vai aumentar, e o povo ficará desarmado para enfrentar os assaltos e qualquer tentativa de golpe militar. Por esse motivo, os sindicatos devem assumir a campanha pelo Não, também se diferenciando da Frente Parlamentar que defende essa posição na campanha.

Post author Editorial do jornal Opinião Socialista 236
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