Assim como era esperado, CUT e Força Sindical lotaram suas festas com mais de um milhão cada, com shows durante todo o dia e sorteios. Apesar de fazer críticas à política de juros do governo, o evento da Força trouxe como principal atração o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, que foi vaiado. O ato cutista, por sua vez, fez elogios rasgados ao governo, promoveu a reeleição de Lula e elogiou o salário mínimo.

Para garantir os dois mega-eventos não faltaram recursos. As verbas vieram tanto dos patrões quanto do governo. O evento da CUT teve 19 patrocinadores, sendo 10 empresas privadas, entre elas multinacionais e privatizadas, e oito estatais federais. Combina bem com a postura da CUT promover, no Dia do Trabalhador, uma festa financiada por aqueles que exploram os trabalhadores todos os dias.

Os dois eventos governistas e mesmo a missa da qual Lula participou demonstraram a crise do governo. Na festa da Força Sindical, Severino Cavalcanti, que seria a principal atração do ato político, foi recebido com vaias e gestos obscenos, desde o momento em que seu nome foi anunciado. O repúdio foi contra a tentativa de Severino de aumentar os salários dos deputados e sua recente defesa descarada do nepotismo.

No ato da CUT, apesar da maioria dos discursos governistas e de apoio à reforma Sindical, ao salário mínimo e à reeleição de Lula, houve sinais de crise. O deputado João Paulo Cunha (PT) defendeu o adiamento do projeto da reforma Sindical. Um dos argumentos apresentados pelo deputado foi a proximidade das eleições. Apesar de isso não significar de forma alguma que João Paulo queira enfrentar o governo, significa, no mínimo, que os próprios governistas já perceberam que ela não será aprovada facilmente e pode gerar crises. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT) também falou sobre cautela com relação à reforma e sobre a possibilidade de “botar um freio na reforma”.

Lula quis se poupar dos ataques e não teve coragem de participar do evento da CUT. O presidente se limitou a participar da missa em homenagem ao trabalhador no ABC, na Igreja Matriz de São Bernardo. Todavia, isso não impediu que as críticas fossem feitas. O bispo de Santo André, Dom Nelson Westropp, fez um sermão criticando a falta de emprego no país e os “males sociais” gerados pelo desemprego. O tema era ‘Sem direito não é direito’. Em resposta, Lula fez um discurso com promessas a serem cumpridas até 2008, já contando como certa a sua reeleição.

Também o cardeal-arcebispo de São Paulo, Dom Cláudio Hummes, criticou o desemprego e o excesso de impostos no Brasil, em sermão para duas mil pessoas na Missa do Dia do Trabalho na Catedral da Sé. Em Salvador, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Geraldo Magella Agnelo, criticou o novo valor do salário mínimo. Na missa, um cartaz imitando uma carteira de trabalho gigante, onde se lia “carteira sem emprego e sem direitos” foi colocado no altar pela Pastoral Operária.