Iraque é apontado como motivo da queda da votação dos trabalhistas. Renúncia de Tony Blair já começa a ser cogitadaMais um aliado de Bush na guerra do Iraque passou por maus momentos. Na Grã-Bretanha, as eleições de 5 de maio deram uma vitória apertada a Tony Blair. Com apenas 35,2% dos votos, votação inferior aos 42% da última eleição em 2001, o Partido Trabalhista obteve um inédito terceiro mandato, mas com muitos questionamentos.

As pesquisas já indicavam e os analistas são unânimes em apontar a participação dos britânicos no Iraque como o principal motivo de desgaste do governo de Blair. A opinião pública do país não engoliu as mentiras quanto à existência de armas de destruição em massa no Iraque e tem se indignado com as mortes de soldados e as imagens chocantes de torturas de presos. Além disso, não aprova os enormes gastos de seu governo com as despesas militares, enquanto outras questões são deixadas de lado. Exemplo da rejeição são as centenas de milhares de pessoas que participam das manifestações contra a guerra no país.

A disputa eleitoral na Grá-Bretanha polarizou-se sobretudo pelo debate a respeito do Iraque, ainda que os trabalhistas tentassem desviar a atenção dos britânicos para assuntos internos. Prova disso é que o partido dos liberais democratas, que se declarou contrário à guerra, foi o que mais cresceu em relação à última eleição em 2001. Blair admitiu que “a guerra do Iraque dividiu a população britânica” e afirmou que entendeu a mensagem das urnas. Entretanto, não apresentou qualquer medida concreta, e deve seguir apoiando Bush. Enquanto isso, seu novo mandato procurará dispersar a atenção priorizando temas como investimentos sociais. Mas deverá enfrentar ainda mais dificuldades, já que os trabalhistas perderam, além da confiança da população, cerca de 50 cadeiras no Parlamento.

O resultado das eleições britânicas pode ser comparado às disputas eleitorais em outros países que também participam da coalizão de Bush. Em 2004, os espanhóis não reelegeram Aznar, e a pressão da população fez com que a primeira medida do eleito Zapatero fosse a retirada das tropas espanholas do território iraquiano. Na Itália, logo após o primeiro-ministro Silvio Berlusconi ter dito – e desdito – que retiraria as tropas, os partidos governistas foram derrotados na maioria das províncias italianas, nas eleições regionais em abril. Percebendo o crescente desgaste do governo, alguns de seus aliados pediram sua renúncia.

A Terceira Via criada por Tony Blair mostrou ser apenas mais uma versão do neoliberalismo. Em oito anos de governo, a desigualdade social no país aumentou e as privatizações iniciadas com Margareth Tatcher não cessaram. Apesar da conquista do terceiro mandato, a situação não está favorável para o primeiro-ministro. Segundo o jornal Daily Mail, os estragos foram grandes. A imagem de Blair “foi destruída por uma fuga eleitoral em massa que refletiu o repúdio à guerra no Iraque e dúvidas sobre sua confiabilidade“. Para o The Daily Telegraph, o primeiro-ministro deve se aposentar mais cedo do que esperava. Tanto é assim que, logo após a vitória, vários líderes do Partido Trabalhista declararam que Blair deve renunciar, já prevendo que poderão ter mais prejuízos com o aliado de Bush à frente do governo. A ex-ministra Glenda Jackson chegou a dizer à imprensa: “As pessoas falaram. Na verdade, gritaram do fundo de seus pulmões. A mensagem é clara. Elas querem que Tony Blair se vá“. O substituto seria o ministro das Finanças Gordon Brown, que em tese estaria à esquerda do primeiro-ministro – mas declarou que, se estivesse à frente do governo, agiria exatamente como Blair quanto ao Iraque. Sinal de que nada substancial mudaria com um novo primeiro-ministro.