Serra e Lula durante solenidade em junho, em São Paulo
Rodrigues Pozzebom/ABr

Blecaute e queda de viaduto mostram como política de privilégio do capital privado levado a cabo por Lula e Serra representam um desastre à populaçãoDia 10 de novembro, terça-feira. Cerca de 60 milhões de brasileiros são surpreendidos por um blecaute no final da noite, que atingiu 18 estados. Cidades inteiras ficam sem luz, o trânsito se torna um caos, pessoas ficam presas em elevadores. As quatro horas de falta de energia elétrica trouxeram de volta a memória do apagão de FHC, em 1999 e 2001, quando a falta de investimentos na área provocou um déficit na geração e transmissão de energia.

Dia 13 de novembro, sexta-feira. Três vigas de 85 toneladas e 40 metros de comprimento cada caem do viaduto Rodoanel em plena rodovia Régis Bittencourt, uma das mais movimentadas do país. Atingiu um caminhão e dois carros, ferindo três pessoas. Até mesmo o governador tucano José Serra considerou um “milagre” não ter morrido ninguém. O acidente relembra o trágico desabamento do túnel do metrô em 2007 em São Paulo, que ceifou sete vidas.

Dois fatos aparentemente sem ligação entre si, mas que mostram de forma trágica como a política econômica levada a cabo pelo governo do PT e pelo governo tucano leva a resultados desastrosos. São as duas faces de uma mesma política de privilégio do capital privado às custas da deterioração da infra-estrutura e dos serviços públicos. A um ano das eleições, o governo Lula tenta criar um clima plebiscitário para a campanha eleitoral, insuflando uma polarização artificial com os tucanos. Mas a realidade mostra, a cada dia, como na verdade são iguais.

O apagão de Lula
O recente apagão pegou muita gente de surpresa. A principal vitrine do governo eram justamente os investimentos em infra-estrutura. O generoso período de chuvas, por sua vez, deixava os reservatórios das hidrelétricas com capacidade quase máxima, afastando o perigo de falta de energia. Pelo menos era isso o que se pensava até aquela noite.

A queda de energia afetou principalmente os estados mais populosos. Soube-se logo que, pela primeira vez desde que entrou em funcionamento, a usina binacional de Itaipu teve todas as suas turbinas desligadas. O problema, porém, teria sido causado por algo nas linhas de transmissão. O governo Lula correu para tentar amenizar o desgaste político do blecaute.

O ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, apadrinhado de José Sarney, tentou jogar a culpa no mau tempo. Fortes tempestades teriam atingido as linhas de transmissão. Mas aí veio o Inpe e logo desmentiu essa versão. A última notícia é a de que teria ocorrido um curto-circuito que provocou uma pane na distribuição. A ministra e presidenciável Dilma Roussef, no entanto, já considerou o caso “encerrado” para o governo.

Curto circuito que ocorreu também entre o governo. Cada um falava uma coisa, tentando desesperadamente afastar essa batata quente. Ministério da Energia, Presidência, Aneel, entre inúmeros setores direta ou indiretamente envolvidos no caso davam respostas diferentes e contraditórias sobre o apagão. O relatório final do blecaute deve ficar pronto só na segunda quinzena de dezembro.

Pode ser que nunca se saiba o que de fato aconteceu. Mas uma coisa é certa. Após as privatizações do setor elétrico, os serviços pioraram. A própria confusão em se determinar as causas do blecaute é fruto desse processo. Se antes cabia à Eletrobrás o planejamento e gerenciamento da produção e distribuição de energia, agora ela é completamente difusa e descentralizada entre ONS, Aneel, ministério, etc.

Sob o governo Lula, esse processo de privatização continuou. Entre 2003 e 2006, as multinacionais passaram a controlar 65% das linhas de transmissão de energia que foram a leilão. Em 2006, conquistaram 84% das linhas que foram a leilão. Tudo isso, é bom lembrar, enquanto Dilma Roussef esteve à frente do Ministério das Minas e Energia.

E, coincidência ou não, o blecaute se dá ao mesmo tempo em que era revelado o erro nos reajustes das contas de luz determinado pela Aneel. Alguns cálculos mostram que os brasileiros podem ter pago algo como R$ 10 bilhões indevidamente pela energia desde as privatizações. Mesmo ciente do erro, o governo já disse que ninguém vai receber esse dinheiro de volta.

O desabamento de Serra
Se o apagão revela a política desastrosa do governo com relação à energia, o mesmo pode ser dito quanto ao desabamento do Rodoanel. Serra se esforça em apresentar o maior número possível de obras a fim de se cacifar para disputar a presidência em 2010. E para isso vale tudo.

As primeiras análises do acidente revelam um motivo absurdo para ele ter ocorrido. De acordo com o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de São Paulo (Crea), a queda das vigas ocorreu porque a obra do viaduto requeria cinco vigas e não apenas as quatro que foram instaladas. Ou seja, as empreiteiras resolveram economizar e simplesmente deixaram de colocar uma viga para sustentar a obra.

Como se não bastasse, um relatório do Tribunal de Contas da União, listou uma série de irregularidades na construção do Rodoanel. As empresas OAS, Mendes Jr. e Carioca, envolvidas nas obras, teriam substituído os materiais das vigas por outros mais baratos. As vigas que deveriam ser de concreto foram trocadas por vigas de material pré-moldado. Além disso, o tribunal aponta superfaturamento nas obras.

O laudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) deve ficar pronto somente daqui a três meses, mas o governo manteve a previsão de entrega da obra, para março de 2010. Em tempo ainda para ser devidamente inaugurado por José Serra e constar em seu programa eleitoral durante as eleições.

Duas candidaturas desastrosas
Tanto a ministra Dilma Roussef quanto o governador paulista José Serra são mostrados como candidatos “desenvolvimentistas”, comprometidos com os investimentos e o crescimento econômico. O apagão na energia e o acidente no viaduto, porém, mostram que são candidatos comprometidos com os lucros das grandes empreiteiras e multinacionais. Esses são as verdadeiras prioridades do PT e PSDB, nem que para isso se tenha que colocar vidas humanas em perigo.

Dima e Serra. Dois nomes de dois partidos cujo projeto político, para a grande maioria da população, é literalmente um verdadeiro desastre.