População do Amapá sofre com a falta de água provocada pelo apagão. Foto Prefeitura de Macapá
Redação

Sem qualquer alarde na imprensa ou ação por parte do Governo Federal, cerca de 750 mil pessoas no Amapá estão neste momento há 4 dias sem energia elétrica. O apagão provocado por um incêndio num subestação de energia no último dia 3, provavelmente por um raio, afeta 89% da população do estado, 13 dos seus 16 municípios, e vem provocando um verdadeiro caos, não só deixando a população absolutamente incomunicável, mas tirando até o acesso à água, já que a falta de energia impossibilita o abastecimento. Um verdadeiro escândalo, maior ainda que não esteja nas manchetes dos jornais.

Relatos nas redes sociais dão conta de cirurgias sendo canceladas já que os hospitais estão funcionando através de geradores, que não se sabe até quando irão aguentar. Isso quando o estado vive um pico da pandemia. Além disso, o apagão está fazendo com que mercados e supermercados só aceitem dinheiro vivo, sendo que a população não consegue sequer sacar dinheiro do caixa eletrônico. Alimentos estragam nas geladeiras das famílias. “Não tem água pra beber, não tem água mineral, os mercados lotados, ninguém tem dinheiro, começou acabar um monte de coisas nos supermercados“, relata um morador de Macapá nas redes. “São 750 mil brasileiros que estão sendo tratados como se não valessem nada“.

O governo, por parte do ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou nesta quinta-feira que demoraria até 15 dias para restabelecer o fornecimento de energia elétrica no estado, e de forma parcial, para 70% do estado, entre quinta e sexta-feira. Horas depois, prometeu resolver em “apenas” 10 dias. Além do prazo absurdo para o restabelecimento da energia, o povo do Amapá chegava ao quarto dia no escuro.

Se fosse em São Paulo ou no Rio de Janeiro seria assim?“, perguntou um morador indignado. Enquanto a povo do Amapá lutava para conseguir água e comida, Bolsonaro passeava por Santa Catarina, mostrando o desprezo do governo com a população do Norte.

Raio teria provocado incêndio de gerador de empresa

Um modelo que só serve às multinacionais

A verdadeira crise humanitária que atinge o Amapá é resultado direto da privatização do sistema elétrico. A operadora da linha de transmissão que atende o estado é a espanhola Isolux Corsán, desde 2015 responsável por ligar a região à Usina Hidrelétrica de Tucuruí. Segundo informações do próprio governo, o incêndio no dia 3 atingiu dois dos três geradores da empresa. O terceiro, que poderia ser utilizado como reserva, está em manutenção desde dezembro do ano passado.

É este modelo que o governo Bolsonaro, juntamente com os governos estaduais e o Congresso Nacional, quer generalizar com a venda completa do sistema Eletrobrás, uma de suas prioridades em sua política de entrega do país. O caos social vivido pela população do Amapá, porém, mostra bem mais do que as agruras provocadas pela privatização de um serviço básico.

A região Norte conta com duas das maiores hidrelétricas do país, que inclusive complementam o sistema nacional. Além da Hidrelétrica de Tucuruí, a de Belo Monte, cuja construção por parte do governo Lula se enfrentou com populações indígenas, ribeirinhas, e movimentos sociais e de luta pelo meio ambiente. Apesar disso, a população da região sofre com problemas de abastecimento. Roraima, por exemplo, dependia da importação de energia da Venezuela até março do ano passado, quando a crise no país vizinho forçou o corte no suprimento. Desde então, a energia no estado é garantida por termelétricas, com um custo 70% maior. O povo no estado convive com apagões frequentes. Já na Amazônia, quase 1 milhão de pessoas simplesmente não tem qualquer acesso à energia elétrica.

Essa situação mostra o verdadeiro caráter do modelo energético brasileiro. As hidrelétricas, vendidas como alternativa “limpa” de energia frente às termelétricas, têm um enorme impacto ambiental, além de social, principalmente com as populações indígenas e ribeirinhas como vimos recentemente em Belo Monte. Já o argumento utilizado pelos governos, de que tal impacto seria justificável e revertido através de benefícios à população, não se concretiza na realidade.

Quem se beneficia de fato com esse modelo são as grandes empresas, multinacionais, as maiores consumidoras de energia, além das empresas que vêm operar diretamente o sistema, como a espanhola Isolux. Para a população resta contas de luz cada vez mais altas, apagão e, como estamos vendo com o Amapá, o caos e a barbárie.

É assim que as coisas funcionam no capitalismo. O meio ambiente, a existência de povos indígenas e ribeirinhos, e um serviço tão básico como a energia elétrica, estão submetidos aos lucros e interesses das grandes empresas e multinacionais.

Toda solidariedade ao povo do Amapá! Estatização sem indenização da Isolux sob controle dos trabalhadores

É simplesmente incrível o silêncio que a grande imprensa, capitalista e privatista, faz sobre a catástrofe que ocorre no Amapá, produto direto da política dos governos neoliberais, incluindo o de Bolsonaro. É preciso exigir que a imprensa rompa esse silêncio, inclusive enviando repórteres ao estado para noticiar o que ocorre por lá. Esse é um escândalo mundial e não pode ser mais escondido.

É preciso prestar toda a solidariedade à população do estado. As organizações dos trabalhadores devem estar solidárias ao povo do Amapá, denunciar o caso e exigir que o Governo Federal, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF) e todos os estados resolvam imediatamente esta situação, usando os recursos que forem necessários, tirando dos lucros das empresas privadas que formam esses consórcios, e dos banqueiros acionistas.

Já a empresa Isolux deve ser severamente punida, obrigada a devolver cada centavo do prejuízo que causou, estatizada e colocada sob o controle dos trabalhadores.