Redação

 

Você acabou de ingressar no PSTU. Ou está prestes a ingressar. Ou talvez não ingresse, e permaneça como um amigo de nosso partido, nos ajudando sempre que possível. Você conhece o PSTU como uma organização de homens e mulheres ativos, que fazem constantes chamados à luta. Agora, queremos fazer um outro chamado, que quase nunca fazemos, mas que é muito importante: um chamado ao estudo.

Por que estudar?
A classe operária não tem nada. Somente suas mãos, seus nervos, seus músculos e sua inteligência. Armados com isso, os operários produzem toda a riqueza do mundo, mas não usufruem dela. Todos os dias, os operários entregam quase metade do seu tempo ao trabalho, do qual não tiram muita coisa além do mínimo necessário para sobreviver. Para o operário, o trabalho não é uma forma de expressar sua inteligência e seu talento. Ao contrário, o operário reprime sua própria inteligência e seu talento em nome do trabalho. “Isso não é vida!”, pensa. Para ele, a vida começa do portão da fábrica para fora: em casa, no bar, no estádio. E, no entanto, por necessidade, o trabalho prossegue. E no dia seguinte, ele está de volta.

Mas enquanto trabalha, se desenvolve no operário um certo “instinto”: o instinto do comunismo. O operário percebe a exploração e luta contra ela. Além disso, se solidariza com seus companheiros sempre que vê uma injustiça. Ele não sabe explicar, mas sente que um ódio contra os ricos e os poderosos o corrói por dentro. Ele é um verdadeiro comunista, sem sequer saber disso.

Às vezes ele se revolta. Mas em geral, a revolta do operário somente diz respeito às condições de trabalho: salário, PLR, equipamentos de segurança etc. A princípio, não há nada que leve o operário a lutar por um novo mundo, pois desde pequeno ele foi ensinado a acreditar que talvez seja possível mudar sua própria vida, mas não o mundo. “Mudar o mundo inteiro? Loucura!”, pensa o operário.

Mesmo quando ele procura o sindicato, em 99% dos casos, o líder sindical só o instrui (na melhor das hipóteses!) para a própria luta sindical: só lhe fala do aumento, do vale refeição e do acordo coletivo. Essas são questões importantes, mas não bastam. Se as coisas permanecem assim, o instinto comunista do operário não se transforma em ação comunista efetiva. Permanece limitado, preso. Sua revolta se esvai.

Percebendo essa estranha realidade, dois filósofos alemães do século 19 – Karl Marx e Friedrich Engels –  decidiram que era hora de transformar o instinto comunista dos operários em ação comunista real; que era preciso direcionar as lutas da classe trabalhadora não apenas contra os patrões e o governo, mas pela transformação radical do mundo, pela destruição do capitalismo e pela construção de uma nova sociedade, onde imperasse a igualdade, onde aqueles que produzem as riquezas (os operários) fossem também os senhores da Terra.

Mas como chegar a essa nova sociedade? Buscando essa resposta, Marx e Engels começaram a estudar a história, a economia e a filosofia, a fim de entender como funciona o capitalismo e como ocorrem as mudanças sociais. E eles tiveram sucesso. Criaram um novo sistema social e traçaram com nitidez o caminho até ele. O que era apenas um “instinto” virou ciência. Surgia o socialismo científico ou marxismo: a ciência da libertação da classe trabalhadora.

Ora, ciência é ciência! Qualquer um sabe que não se aprende física, química ou biologia apenas “na prática”, “olhando como se faz”. É preciso ler, estudar, adquirir uma base teórica sólida. Com o socialismo acontece o mesmo: como toda ciência, ele precisa ser estudado.

Operários intelectuais
A burguesia tem muito medo dos operários rebeldes, corajosos e honestos. Mas ela tem mais medo ainda dos operários que, além de tudo isso, possuem conhecimento. Os operários que sabem são mais perigosos porque podem convencer seus colegas, porque são seguros de si e confiam em suas próprias ideias. Um operário pode inspirar seus companheiros através do exemplo. Mas aquele que, além do exemplo pessoal, oferece argumentos, números e conceitos, alcança muito mais.

O eletricista desleixado sabe passar a fiação obedecendo o esquema elétrico. Mas só sabe isso. E nem quer saber mais. Já o eletricista dedicado sabe melhorar o esquema original e até criar o seu próprio esquema. Ele resolve problemas, supera obstáculos. Ele sabe que, por trás daquele amontoado de linhas, há uma massa de conhecimentos. E ele os domina, e esse é o seu orgulho. Com o socialismo acontece o mesmo. A luta pelo socialismo é um ofício (e dos mais difíceis!) que exige conhecimento e preparação. Por detrás de uma simples greve, há uma infinidade de conhecimentos históricos, políticos e econômicos que somente um profissional preparado é capaz de dominar. Mas todo operário pode ser esse profissional. Nenhum operário tem a obrigação de dominar todos os conhecimentos acumulados pelo socialismo científico desde o século 19 até hoje. Da mesma forma, nenhum eletricista tem a obrigação de saber absolutamente tudo sobre eletricidade. Mas tanto o eletricista quanto o operário socialista, se quiserem executar bem as suas tarefas, têm que se preparar, ler, estudar.

Assim, todo operário consciente deve se esforçar para se tornar um intelectual de sua própria classe, da classe trabalhadora. O intelectual operário não é aquele que sabe tudo, mas aquele que luta permanentemente para aumentar sua própria cultura e a de seus colegas. É todo aquele que aprende, ensina, pergunta e nunca se cansa de querer saber.

O primeiro passo
Os operários socialistas lutam para transmitir aos outros operários uma nova visão de mundo e de futuro. Nessa luta, o livro socialista é a primeira arma que o operário empunha. Daí nosso chamado: Continuem nas greves, nas lutas e nos piquetes! Mas dediquem uma parte de seu tempo ao estudo, ao seu próprio aperfeiçoamento. Organizem grupos de leitura! Cursos! Palestras! Abordem os companheiros mais velhos e peçam que lhes expliquem cada palavra, cada conceito, os fatos e personagens de cada revolução, a história de sua própria classe. E se ninguém souber, que estudem todos juntos!

É preciso um compromisso: todo operário ou operária que aprenda algum novo conceito ou algum fato histórico deve repassá-lo adiante: na fábrica, no canteiro de obras e dentro do partido. Todos devem aprender com todos. É preciso que cada um abra em si e no outro o apetite pelo saber.

Aqueles que têm dificuldade com a leitura devem começar justamente por aí: por superar essa dificuldade. Se necessário, retornar à carteira escolar. Nunca será tarde.

Ao final, teremos os melhores ativistas de nossa classe transformados em socialistas sólidos como rocha, em revolucionários profissionais, em autênticos marxistas. Será uma longa caminhada. E como toda longa caminhada, começa com um primeiro passo: abrir um livro.

Louvor ao estudo

Bertolt Brecht

Estuda o elementar!
Para aqueles cuja hora chegou
Nunca é tarde demais!
Estuda o abecê. Não basta, mas estuda!
Não te canses. Começa. Tens de saber tudo.
Estás chamado a ser um dirigente.
Aprende, homem no asilo!
Aprende, homem na prisão!
Aprende, mulher na cozinha!
Aprende, ancião!
Frequenta a escola, desamparado!
Persegue o saber, morto de frio!
Empunha o livro, faminto! É uma arma!
Estás chamado a ser um dirigente.
Não temas perguntar, camarada!
Não te deixes convencer!
Compreende tudo por ti mesmo.
O que não sabes por conta própria, não sabes.
Confere a conta. Tens de pagá-la.
Aponta com teu dedo a cada coisa e pergunta:
“O que é isto? E como é?”
Estás chamado a ser um dirigente.

Originalmente publicado no Opinião Socialista nº 487