Estudantes sírios no congresso da ANEL
Foto: Erick Dau

Assentos lotados, jovens espalhados nos corredores em busca de um espaço improvisado e muita expectativa pela presença de dois estudantes sírios. Foi com esta atmosfera, em um auditório tomado por estudantes de todo o país, que o sempre apaixonado debate sobre as convulsões no norte da África ganhou terreno fértil no painel “Revoluções no Mundo Árabe e a Luta do Povo Palestino”. A atividade aconteceu no primeiro dia do 2º Congresso Nacional da Assembleia Nacional dos Estudantes Livre (ANEL).

A abertura do painel foi feita por Luiz Gustavo Porfírio – militante do PSTU, enviado ao Egito durante a revolução que derrubou, em fevereiro de 2011, o ditador Hosni Mubarak. Em sua fala, Luiz Gustavo fez um resgate da história dos conflitos na região, destacando o papel perverso desempenhado por Israel e a forma como a resistência e a experiência do povo palestino têm influenciado as revoluções que invadem os países árabes: “Para os povos que hoje se insurgem contra seus governos ditatoriais, a Palestina representa justamente aquilo que é feito de um país rifado pelo imperialismo. Esses povos lutam para que isso não se repita em seus países”.

Ainda sobre a questão palestina, Luiz Gustavo lembrou que, enquanto finge negociar tratados de paz, Israel avança em sua política militarista e colonizadora: “Hoje, existem 700 mil colonos israelenses em terras palestinas, que não são formados por barracas ou qualquer outra moradia provisória, mas, sim, por prédios de concreto e de até cinco andares. A meta de Israel é chegar a um milhão de colonos na Cisjordânia, até 2020. Está claro que Israel não pretende negociar”.

O muro do apartheid sionista
A mesma opinião foi compartilhada por Maren Manterani, da Campanha Contra o Muro do Apartheid da Palestina. Maren conclamou a juventude brasileira a assumir a campanha por boicotes, desinvestimentos e sanções a Israel, o chamado BDS (da sigla em inglês Boycott, Divestment and Sanctions). Uma campanha que já tem a adesão de diversas entidades ao redor do mundo, dentre elas a ANEL.

Maren ainda denunciou a omissão e cumplicidade de diversos governos, inclusive o brasileiro, com a política assassina de Israel. Segundo ela, o país governo Dilma é o quinto mais importante exportador de armas de Israel: “Existem no Brasil muitas empresas israelenses e o mercado de café, uma das mais importantes linhas de sustentação econômica de Israel, é apenas um exemplo. O governo brasileiro premia a política israelense ao firmar inúmeros contratos comerciais e militares com Israel. Com isso, Israel está usando dinheiro brasileiro para financiar e dar continuidade à guerra”.

Por fim, a ativista lembrou que, na juventude, parte da luta contra esta situação deve ser travada no interior das próprias universidades e no mundo acadêmico: “Existe uma política consciente do Estado israelense em reafirmar sua ideologia nas universidades, tentando fazer com que os estudantes reproduzam mentiras repetidas há anos. Os estudantes que estão reunidos aqui devem explicar em suas universidades o que significa Israel e a situação palestina. A causa palestina é uma causa global”.

A revolução Síria pelo olhar da juventude síria
Um dos momentos mais esperados do painel, a participação de dois estudantes sírios da União dos Estudantes Livres da Síria, reforçou o caráter internacionalista da ANEL, cuja solidariedade de classe tem atravessado fronteiras, como comprova, por exemplo, a presença de representantes da entidade nas lutas da juventude do Chile e revolução do Egito. Além de encurtar a distância continental entre os países, os relatos de Thaer Althale e Abdullah Alzoabi demonstraram para os estudantes brasileiros uma realidade internacional: embora os inimigos falem línguas diferentes, a nossa luta é uma só.

Thaer e Abdullah relataram a ausência de liberdade sindical e política no país e o caráter genocida da ditadura, mantida com mãos de ferro por Assad. Por outro lado, lembraram que na Síria a juventude também tem desempenhado um papel protagonista nas lutas em curso no país.

As falas dos membros da mesa, seguidas pelos relatos dos estudantes sírios, colocaram novamente em debate a polêmica que existe na esquerda sobre o caráter das revoluções no norte da África. Para muitas correntes, a maioria stalinista e castro-chavista, o que existe na Síria é simplesmente uma intervenção imperialista, o que faz com que elas se recusem a admitir o caráter revolucionário das massas contra Assad, assim como o perfil genocida de um ditador que tem massacrado e matado inocentes.

Ao longo do painel, alguns coros e palavras de ordem entusiasmadas caminharam no sentido oposto dessas correntes, reafirmando a posição da ANEL de apoio total ao povo sírio em luta. Palavras de ordem como “Oh oh oh, Síria, pode lutar, que o brasileiro vai te apoiar!” e “Síria, Egito, Espanha e Portugal, a luta do estudante é internacional” deixaram claro que, mais uma vez, a ANEL assume a responsabilidade de levar solidariedade ativa aos jovens e trabalhadores que lutam contra a ditadura de Assad. Afinal, esse papel não será cumprido, por exemplo, pela União Nacional dos Estudantes (UNE), que insiste em apoiar o ditador Assad.

O rico debate travado neste painel mostrou que a aliança entre a juventude e os povos de todo o mundo é uma aliança revolucionária. E sendo uma aliança revolucionária, é uma aliança capaz de derrubar muros e ditaduras.

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