Lendário ex-vocalista e fundador do Angra nos deixa aos 47 anos. Sua música e legado permanecerão para sempre

A notícia caiu como uma bomba no último sábado, 8 de junho. O músico e vocalista André Matos, internacionalmente conhecido no mundo do metal, e para além dele, havia morrido. De início, os milhares de fãs receberam a triste notícia com desconfiança e perplexidade, como não querendo acreditar no fim abrupto de uma brilhante carreira, mas, infelizmente, o trágico fato foi logo confirmado. O músico de apenas 47 anos morrera devido a um infarto fulminante.

Ao longo do dia, as redes sociais foram inundadas com mensagens de lamento e homenagens de fãs, mostrando a influência de André Matos ao longo dos anos e em diversas gerações. Nada mais justo a um músico de talento inigualável, que sempre prezou pela qualidade e pela técnica e que elevou o estilo a outros patamares.

Uma carreira sólida e coerente
André Matos sempre disse que entrou no mundo do metal quase que por acaso. Seu destino era a música erudita e era para ela que sempre se preparou. Estudava piano desde criança e queria se formar em alguma área da música clássica. Seu destino, porém, cruzou com outros garotos com os quais formaria a banda Viper, no final dos anos 1980. Ainda adolescente, gravou dois álbuns que fariam sucesso principalmente no Japão e na Europa.

Matos se afastou da banda para continuar se dedicando aos estudos, chegando a se formar em regência, composição e canto lírico. Mas quando percebeu que poderia unir a paixão pela música erudita com o metal, uniu-se a Rafael Bittencourt para formar a banda que o projetaria definitivamente ao mundo: o Angra.

Formação original do Angra

Três discos e nove anos na banda o transformariam num dos principais vocalistas do estilo conhecido como speed metal (metal melódico no Brasil). Dono de uma técnica vocal apurada, um agudo potente, além de composições geniais, André Matos chegou a ser cogitado para substituir o próprio Bruce Dickinson no Iron Maiden. Ficou em terceiro lugar num concurso para o posto, que acabou ficando com Blaze Bayley (algum tempo depois os músicos da donzela de ferro devem ter se arrependido muito).

A paixão de André Matos pela música o faria sofrer certo preconceito de uma cena marcada pelo sectarismo mais tosco. Logo no primeiro disco do Angra, Angels Cry, de 1993, a banda incluiu ritmos brasileiros como o baião (Never Understand), algo que aprofundaria no álbum seguinte, Holy Lands (1996). A união do metal com ritmos brasileiros era seguida por outras bandas, como o Sepultura (coincidentemente Chaos Ad e o posterior Roots saíram no mesmo ano de Angels Cry e Holy Lands).

O trabalho de André Matos no Angra rendeu três grandes álbuns. Além do Angels Cry e Holy Lands, o Fireworks. Cada um deles trouxe, além do talento de André (e justiça seja feita do restante do grupo, com destaque para as composições de Rafael Bittencourt), e também aquilo que sempre foi uma preocupação  de André em toda a sua carreira: a fuga do óbvio e do lugar comum. Fireworks, por exemplo, foi gravado num antigo estúdio com equipamentos da década de 1970 a fim de deixar o som mais “cru” e pesado (motivo pelo qual não foi tão bem recebido no Japão, mais fiel ao “melódico”).

Em 2000, André Matos, junto com o baterista Ricardo Confessori e o baixista Luis Mariutti deixam o Angra após desentendimentos por conta de grana, e formam o Shaman. Com a nova banda, eles lançam dois discos: o Ritual, de 2002, que até fez certo sucesso, e o Reason, de 2005. Com uma pegada mais progressiva, André continuava suas experimentações, mas infelizmente, a banda durou pouco, desfazendo-se pouco após o Reason.

Mostrando que seu apego não era a bandas ou a projetos específicos, mas à música e especialmente aos palcos, André participou do projeto Virgo (junto com Sascha Paeth), Avantasia e Symfonia, além de lançar nesse período três discos solos.

Legado
Nos últimos anos, André Matos esteve envolvido em turnês comemorativas, primeiro a dos 25 anos do Viper (2012), e mais recentemente a volta do Shaman. No dia de sua morte, o ex-guitarrista do Angra e atual músico do Megadeth, Kiko Loureiro, revelou em vídeo que a tão sonhada volta da formação original do Angra estava prestes a acontecer, já que Matos, poucos dias antes, teria manifestado sua vontade de um projeto nesse sentido. Algo que só aumenta o caráter trágico dessa morte precoce.

Homenagem de Bittencourt a André. 

André Matos se foi, mas deixa um legado construído ao longo de 30 anos de carreira, com músicas que marcaram a vida de muitos. Uma obra construída entre altos e baixos, em que a preocupação com a qualidade se manteve sempre presente. Dizia que o heavy metal era como a música erudita, o blues ou o jazz que, após uma época de boom, permanecia o que era relevante.  Enquanto muitos músicos do estilo choramingavam a falta de público nos shows e xingavam os fãs que só prestigiavam “bandas gringas”, André se dedicava a produzir, a tocar e a cantar como só ele sabia.