Amanda Gurgel discursa na Câmara de Natal
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A vereadora mais votada de Natal se candidata à presidência da Câmara defendendo a redução nos salários dos veradores. Leia abaixo o discurso de Amanda Gurgel realizada na sessão em que também tomou posse como vereadora“Senhores vereadores, senhor presidente da Câmara…
Trabalhadores e trabalhadoras de Natal.

Hoje é um dia de festa nesta Casa, mas não há o que comemorar. Neste momento toda a cidade vive um verdadeiro caos.

As montanhas de lixo amontoadas pelas ruas são só o retrato mais grotesco de um governo que saqueou as riquezas do município. O lixo é só a parte mais aparente. A vida de quem vive nos bairros mais distantes de Natal e que depende dos serviços públicos é um drama permanente. Todos os serviços mais básicos, que deveriam ser direitos fundamentais da população, estão sendo negados todos os dias.

A saúde está em estado de calamidade. Pessoas morrem esperando atendimento nos corredores. Várias unidades de saúde foram fechadas, algumas foram simplesmente despejadas, porque a prefeitura não pagou o aluguel. O caos da saúde está no rosto da mãe que passou a noite abanando seu filho recém-nascido em uma maternidade às escuras. E é agravada pelo governo Rosalba, que preserva a fila de espera para a UTI do Walfredo Gurgel como um monumento ao descaso pela vida. E, infelizmente, também pelo governo Dilma, que mantém os projetos de privatização dos serviços públicos, e vai entregar os hospitais universitários, como o Onofre Lopes, para uma empresa.

Na educação de Natal, as aulas foram encerradas quase um mês mais cedo. Falta dinheiro para tudo, até para a merenda. O ano inteiro foi assim, as mães se cotizando para comprar a merenda na creches, para que seus filhos não tivessem que tomar garapa. Agora, não há garantia de condições para que as aulas comecem em 2013.

Estão roubando agora o direito de ir e vir. Hoje a cidade completa 139 dias sem as linhas 3, 28 e 45. A Riograndense recolheu os ônibus e nada, absolutamente nada, foi feito. Onde está a mobilidade dos moradores do Nova Natal, que caminham longos trechos debaixo do sol para não pagar duas passagens?

A cidade respira hoje o fim da era Micarla. A corrupção em seu governo foi responsável pela sangria de bilhões dos cofres públicos. Muito mais do que a corrupção, sabemos que a cidade sempre foi governada para favorecer os grandes empresários através da especulação imobiliária, dos contratos milionários, dos empresários do transporte, das terceirizações e privatizações. É preciso mudar esse modelo, essa forma de governar.

Quem está pagando a conta por esta sangria é o povo pobre e trabalhador. São os professores e os alunos das escolas públicas, são os trabalhadores e usuários da saúde, são todos os que dependem de ônibus. São as mulheres trabalhadoras que não têm creches para deixar seus filhos.

A cidade faliu. Está endividada. A comparação com a crise na Europa é inevitável. Em países como a Grécia, Portugal e Espanha, os governantes estão jogando a crise nas costas dos trabalhadores, atacando direitos e desmontando os serviços públicos. A “saída” que encontram é essa. Essa será a saída de Carlos Eduardo para a crise aqui em Natal? Pedir paciência para o funcionalismo? Jogar a conta da crise para quem mais sofre com ela?

Esperamos que o próximo governo não use o caos de Micarla como comparação. Não basta tirar o lixo das ruas. Mas queremos muito mais do que isso. Exigimos que a crise não caia mais uma vez sobre os alunos, que precisam ter todas as condições garantidas para que o ano letivo se inicie, com vagas nas escolas e nas creches. Nem sobre os professores, os primeiros a serem culpados pela crise crônica do ensino. Exigimos que as unidades de saúde sejam reabertas, com condições de atendimento. Que as linhas de ônibus retornem e que não se tenha nenhum aumento na passagem.

Lá na Europa, os trabalhadores estão dando o seu recado, indo para as ruas, mostrando a sua indignação. Aqui, em Natal, o povo também deu o seu recado nas ruas e nas urnas. Estamos vivendo dias históricos. Foi nas ruas que a população lutou para derrubar Micarla e conseguiu! Foi nas ruas que os estudantes protestaram e conseguiram barrar o aumento da passagem de ônibus! E foi nas urnas que uma trabalhadora, uma professora da escola pública que denunciou o descaso da educação, recebeu 32.819 votos. Foi nas urnas que pela primeira vez na história de Natal, o PSTU, um partido de oposição de esquerda, um partido socialista, elegeu uma vereadora!

Este recado das urnas foi a voz de todos os que estão indignados com o descaso dos governantes com o povo pobre e trabalhador, mas também com o descaso da Câmara municipal que foi submissa a este projeto e ao governo Micarla.

É por isso que hoje eu venho aqui nesta tribuna me candidatar a presidência da Câmara. Eu represento aqui o recado das ruas e das urnas. Dos 32.819 indignados que votaram na professora Amanda Gurgel, mas não só isso. Represento principalmente os setores mais explorados e oprimidos da cidade, como os moradores do Conjunto Nova Natal, onde eu trabalho; das mulheres operárias da Guararapes, que recebem um salário mínimo.

Por isso, vereadores e vereadoras, é necessário neste momento ouvir o recado das urnas que não quer uma Câmara submissa, que não quer uma Câmara que funcione em base a conchavos e ao clientelismo, com privilégios. O povo está cansado, o povo quer mudança. A minha candidatura, juntamente com os meus colegas vereadores do PSOL, vem expressar neste plenário o desejo de mudança que está pulsando nas ruas e que se expressou nas urnas com a maior votação que um candidato a vereador já teve na história de Natal.

O povo lá fora não entende como pode, em meio a essa crise, os vereadores terem um aumento absurdo como esse em seus salários. Senhores vereadores, receber 17, 18 mil é um desrespeito com quem ganha um salário mínimo. Reafirmo aqui o meu compromisso de votar contra e fazer de tudo para barrar esse aumento. E quero convocar todos a fazer o mesmo, em especial os outros dois candidatos a Presidência. Vamos colocar esse reajuste como um dos primeiros assuntos dessa legislatura, com urgência. Vamos impedir esse absurdo, essa vergonha.

Quero convocar a população, a juventude de Natal, a continuarem na luta para barrar esse aumento. O meu partido, o PSTU, acredita que não é dentro dos gabinetes que as verdadeiras mudanças acontecerão em Natal, no Rio Grande do Norte e em nosso país. As verdadeiras mudanças virão das mobilizações populares, virão do povo organizado, virão dos mais explorados e dos mais oprimidos, virão daqueles que estão cansados de serem enganados com as falsas promessas, virão de mulheres e homens que se levantarão para construir outra sociedade.

Não mais uma sociedade baseada na riqueza e no luxo de poucos. Mas uma sociedade igualitária e socialista em que o verdadeiro poder esteja nas mãos daqueles que constroem a riqueza da nossa cidade e do nosso país. É desta força e deste projeto que eu sou candidata à presidência da Câmara municipal de Natal e peço o seu voto.

Muito obrigada”