Aumento do custo de vida mostra a importância das campanhas salariais em cursoNo momento em que importantes categorias como metalúrgicos, petroleiros e bancários entram em campanha salarial, levantamento do IBGE mostra que o custo de vida ficou mais caro nos últimos meses. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) disparou em agosto, passando de 0,16% em julho para 0,37% em agosto.

Nos últimos 12 meses, o acumulado do índice chega a 7,32%, sendo que a estimativa do governo era de 4,5% para a inflação em 2011, e o teto estabelecido pelo Banco Central, de 6,5%. A alta nesse período é o maior desde junho de 2005. Nada menos que 64% dos preços analisados pelo IBGE tiveram aumento. Só a inflação dos alimentos representa 45% do IPCA. A carne bovina, por exemplo, teve alta de 1,84% em agosto e 17% nos últimos 12 meses. Além disso, outros produtos que sofreram com a inflação foi o arroz, feijão e o frango.

A inflação dos alimentos, como de se esperar, impacta mais os trabalhadores com os menores salários. O INPC (Índice Nacional de Preço ao Consumidor), que mede a inflação das famílias com rendimentos entre um e seis salários mínimo, fechou com acumulado de 7,40% nos últimos 12 meses.

Carestia
Se a alta dos alimentos já representa por si só um enorme transtorno à população, a inflação se espalha para outros gastos essenciais das famílias. Levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) sobre o Índice do Custo de Vida na grande São Paulo aponta um aumento de 0,39% em agosto, puxada pela alimentação (1,17%), Transporte (0,21%) e Despesas Pessoais (0,55%).

O índice no acumulado de 2011 fica em 3,98%, com destaque para o aumento de 6,93% nos gastos com Transportes, causado pela elevação de preços como a gasolina (7,98%) metrô (9,43%) e trem (9,43%). Já as Despesas Pessoais, que incluem gastos como de higiene, aumentou 4,66% no ano, e Saúde, 4,66% (só as taxas de internação tiveram aumento de 15,7%).

Mais arrocho
O acirramento da inflação no último período revela a farsa propagada pelo governo nos últimos meses, com o auxílio de boa parte da imprensa, de que a aceleração da economia e o aumento do consumo poderiam fazer com que a inflação saísse do controle. Foi a justificativa para o aumento dos juros no começo do ano e para o corte recorde do Orçamento anunciado por Dilma, de iniciais R$ 50 bilhões (que se transformariam mais tarde em R$ 60 bi).

Pois bem, em 2011 o país vem passando por uma rápida desaceleração no crescimento. No primeiro trimestre, a economia cresceu o equivalente a 1,2% do PIB. No segundo, apenas 0,8%. A inflação, ao contrário, não só não diminuiu como aumentou.

O aumento no preço dos alimentos pode assim evidenciar uma nova bolha especulativa como a de 2007, já que outros países também registraram inflação no setor nos últimos meses, reflexo da crise econômica internacional.

O problema é que, se o “crescimento desordenado” deixou de ser o fantasma no qual se escondia o governo, a própria crise internacional passou a ser. E é a desculpa para o governo acirrar os cortes, não conceder reajuste aos servidores públicos e para os empresários endurecerem nas campanhas salariais em curso, como na greve da construção civil no Pará.

Os trabalhadores, por outro lado, sentindo o peso da inflação, não se deixam dobrar por esse argumento e se lançam em grandes campanhas salariais, como ocorre agora em Correios e em metalúrgicos em várias regiões. Daqui a pouco, bancários e petroleiros terão seu momento decisivo, e tudo leva a crer que eles não aceitarão pagar a conta dessa crise que se avizinha.

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