Na mesma entrevista coletiva em que anunciou ter alcançado o número de assinaturas para sua legalização, em 14 de dezembro passado, o P-SOL, por meio do deputado Babá, lançou a candidatura de Heloísa Helena à presidência em 2006.

Não se sabe, no entanto, qual será seu programa e com base em que arco de alianças será construída essa candidatura. Existe uma discussão em curso no P-SOL que possibilita uma aliança desse partido com o PDT. Um dos documentos sobre essas possíveis alianças, escrito por alguns de seus dirigentes, como Roberto Robaina e Martiniano Cavalcante, aponta para uma aliança que inclui “algumas lideranças do PDT e do PSB que defendam posições nacionalistas”.

Essa discussão já tem desdobramentos concretos. As negociações envolvem não apenas “alguns dirigentes”, mas simplesmente Carlos Lupi, o presidente atual do PDT e a maioria de sua direção. Ou seja, trata-se da direção do PDT, e não de alguns militantes sindicais desse partido.

Para mostrar a importância dessa discussão, a própria Heloísa Helena esteve no Encontro Nacional do PDT, no final do ano passado no Rio de Janeiro, e afirmou: “…aqui, no PDT, como em algumas outras poucas organizações que sobrevivem, estão os que não se dobram, os que não se curvam, os que não se ajoelham covardemente”.

Assim Heloísa caracterizou esse partido que não tem nada a ver com a luta dos trabalhadores. O PDT é um partido burguês, composto por representantes de diversos setores patronais (no Rio Grande do Sul, por exemplo, setores latifundiários), tradicional representante do populismo no Brasil. Está em ascensão eleitoral (com várias vitórias importantes nas eleições passadas), e dividido entre um setor que aponta para uma aliança com o PSDB e o PFL (em São Paulo, por exemplo, está no governo Serra), e outro que quer uma aliança com o PPS, para fazer uma oposição burguesa e limitada ao governo Lula.

Heloísa Helena, nesse encontro do PDT, apontou o sentido da aliança: “Espero que a gente consiga caminhar muitos caminhos juntos! Mas independente de qualquer futuro político, estaremos trabalhando muito para estarmos juntos, a certeza que tenho é que posso olhar olho no olho das companheiras e companheiros do PDT, querido Lupi, e dizer: me orgulho como brasileira de que vocês estão aí. Firmes, para o triunfo que mais cedo ou mais tarde virá”.

Como todos sabem, temos grandes diferenças programáticas com P-SOL. Achamos que se trata de uma tentativa de reedição de um partido eleitoral, um novo PT. Não por acaso, um evento da magnitude de sua legalização foi marcado pelo lançamento da candidatura de Heloísa Helena e não por algo ligado à luta direta dos trabalhadores.

Mas, mesmo com essas diferenças programáticas, a candidatura de Heloísa Helena poderia ter uma importância, caso se situasse num marco de frente única de esquerda, classista e socialista, que excluísse os partidos burgueses e apontasse no sentido da luta dos trabalhadores. As discussões com o PDT jogam contra essa perspectiva. Mesmo dentro do caráter limitado do programa do P-SOL não cabe uma aliança com o PDT.

Pode acabar se repetindo, de outras formas, na eleição de 2006, o que o P-SOL já esboçou na de 2004, em que apoiou o PPS em Maceió, o PT no segundo turno em Porto Alegre, o PCdoB no Rio de Janeiro e até o PTC (partido de Collor e Pitta) em Goiânia. Isso seria a reedição dos mesmos vícios do PT.

É preciso que os companheiros reflitam, interrompam as negociações com os partidos burgueses e governistas e repensem a possibilidade de uma frente de esquerda, classista e socialista.
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