A greve foi uma mobilização vitoriosa, que arrancou da empresa uma proposta mais avançada, em termos econômicos, e também de Segurança, Meio-ambiente e Saúde (SMS). Obviamente, não atendeu aos valores pleiteados nem ao conjunto da pauta, mas significou um ganho para a categoria se comparada à disposição inicial da empresa.

Além disso, apesar das principais reivindicações serem financeiras, a greve defendeu a estabilidade no emprego (questão voltada basicamente para os terceirizados) e melhores condições de segurança no trabalho. Assembleias também reforçaram os eixos da campanha “O petróleo tem de ser nosso”, reivindicando o monopólio e a reestatização da Petrobrás. Obviamente, foi muito mediado pela Frente Única dos Petroleiros (FUP), que tentou manter a blindagem ao governo Lula, como se esse estivesse à parte.

Mas o que é fundamental destacar é que a maior vitória da greve talvez tenha sido o salto organizativo que a categoria deu, realizando uma greve nacional de verdade e unificada. Por isso, acreditamos que este é um momento histórico. Devemos fazer o possível para divulgar os acontecimentos e nosso balanço sobre a mesma.

A greve poderia ter avançado mais, arrancar mais conquistas! Os governistas da direção da FUP/CUT terminaram a greve quando esta ainda estava crescendo. Estávamos com a bola no pé, o governo e o RH se curvavam à força da mobilização e foram obrigados a procurar mais negociações e uma proposta possível.

Quinta à noite, em Macaé, terminamos a assembleia com o grito uníssono de “Greve! Greve!” e “A greve continua, Petrobrás a culpa é sua!”. Outros exemplos foi a entrada da P27 no último dia e do corte de rendição no TABG.

Exemplo disso também foi a própria assembleia de Macaé na noite de sexta-feira. Havia disposição da base presente em continuar com a greve, ainda mais considerando que, na noite anterior, foram todos unânimes na continuidade e em não aceitar ameaças de punições. A intervenção da Frente Nacional de Petroleiros (FNP) na assembleia fez rachar a votação, embora não tenha sido suficiente para a vitória, principalmente contando com a assembleia de Campos, onde sequer estivemos presentes.

O visual da assembleia chegava a ser emocionante, com todos os presentes, grande número de jovens, com o adesivo do Sindipetro-RJ no peito: “Estamos em Greve”.

Não preciso dizer que um resultado diferente no Norte Fluminense poderia mudar o quadro nacional e deixaria a FUP em maus lençóis. A FUP suspendeu a greve burocraticamente. Não bastasse ter indicado aceitação na Mesa, já havia orientado seus dirigentes a desarmarem a mobilização.

Em Macaé, na manhã de sexta-feira, às 6h, estranhamos o menor número de ativistas no sindicato para o piquete no Parque dos Tubos, como tinha sido combinado na noite anterior. Depois, soubemos que não havia sido organizada a alvorada nos hotéis. Quando chegamos ao Parque dos Tubos, nenhuma tentativa de parar a unidade tinha sido realizada, diferente do dia anterior, em que foi organizado o piquetão em Imbetiba, com enfrentamento com polícia e pelegos e uma passeata pela cidade.

Ainda na sexta pela manhã, chegaram à cidade companheiros da P-53 e foram ao sindicato procurar informações sobre o que fazer. O diretor presente os orientou a embarcar. Frente à nossa reação e da própria base, ele sumiu por alguns minutos e voltou dizendo que foi um equívoco, que não era para embarcar. Depois, durante a assembleia noturna, com várias inscrições ainda para o debate, nos chega a notícia de que, na rádio, já estava sendo informado que a greve tinha acabado.

Diria que a primeira grande lição que tiramos desta greve foi que é possível fazer uma greve nacional, unificada e com controle de produção (ainda que isto não se tenha conseguido efetivar completamente). E a segunda lição é que se, por um lado, devemos ser os primeiros a convocar a unidade com a FUP, por outro temos de ser os mais alertas ao fato de que esta unidade tem limites e que na primeira curva podemos levar uma rasteira.

A unidade tem limite porque a falta de independência do governo impõe um limite à direção FUP e, por isso, sempre acabará por trair a mobilização. Temos de ter unidade de ação sim, sempre, com os trabalhadores dispostos a lutar, mas temos de ter clareza de que nossas melhores chances de vitória contra a direção da empresa e o governo se darão quando derrotarmos a FUP em suas bases.

Nenhuma novidade para nós dirigentes já escaldados, mas esta lição tem de ser bem compreendida pelas centenas de ativistas de todo o país. É uma lição tanto para a FNP, de que devemos disputar as bases da FUP com grande dedicação, quanto para os ativistas descontentes destas bases, que, podem acreditar, existem às centenas.

A greve foi vitoriosa de maneira geral. Surge, em todo o país, uma nova vanguarda, e novos enfrentamentos virão. Todos devem estar cientes dos interesses dos governistas e da diferença estratégica entre FUP e FNP.

É preciso que a maior parte dos trabalhadores de nossa base tome conhecimento do que aconteceu, por exemplo, no terminal de São Sebastião, onde foi cortado o abastecimento das refinarias de São Paulo – foi dito isso na Mesa de Negociação quando Diego Hernandes, gerente executivo de Recursos Humanos da Petrobrás, veio com uma conversa sobre flexibilizar, não radicalizar e, ao mesmo tempo, a Petrobrás forçou a barra para encostar os navios.

Ou do fechamento do Ediba – prédio administrativo para onde foi recentemente transferido o centro de operações financeiras corporativo e que, na greve, foi obstaculizada a entrada inclusive de terceirizados. Nem o Banco do Brasil funcionou, segundo relatado na Mesa pelo próprio Hernandes. Ou, ainda, os relatos que nos chegaram sobre a ocupação de salas de controle em plataformas, do desespero dos GEPLATs ou das próprias atividades na cidade de Macaé (RJ).

Também temos de fazer chegar ao conhecimento da categoria a irresponsabilidade da direção da empresa ao querer enfrentar a greve com seu exército de pelegos, o famoso contingente, expondo homens e equipamentos a um grande risco – tragicomédia exposta nos casos do tanque da Reduc que murchou e dos trabalhadores presos na balsa em pleno ar.

Ao fazer um balanço geral desta greve, ainda que tenhamos tido vitórias, não podemos dizer que a proposta foi uma boa proposta, que os valores são justificáveis ou coisa parecida. O ganho econômico foi razoável e o restante são promessas no papel em termos vagos, mas isso só foi obtido pela mobilização, senão teria sido pior.

Por último, é importante destacar o papel da FUP na indicação de aceitação do acordo na Mesa, mesmo não tendo garantido que ninguém fosse punido. A responsabilidade por futuras punições será da FUP, pois ela rompeu a unidade e deixou a guilhotina pendendo sobre a cabeça dos melhores ativistas!

*Eduardo Henrique é diretor de Relações Institucionais e Comunitárias do Sindipetro-RJ e membro da Executiva Estadual da Conlutas.