A vida dos operários da construção civil já foi relatada em verso e prosa. Músicos como Chico Buarque (Pedro Pedreiro) e Zé Geraldo (Cidadão) cantaram a dureza de seu dia a dia. Poetas e repentistas: é hora de voltar a falar deles.

Vários canteiros das grandes obras do país foram sacudidos por greves radicalizadas nas últimas semanas. Em alguns casos, verdadeiras rebeliões. Algo novo no ar: o movimento operário está de volta.

Empurrados para diante pela exploração brutal nessas obras. Embalados pelo crescimento da economia, que dá maior segurança a eles sobre seu emprego. Um exemplo que rapidamente se estendeu a outros lugares.

Começou com o canteiro das obras da hidroelétrica de Jirau, logo seguido em outro canteiro em Porto Alegre, outro na Bahia, em Pernambuco, no Rio, entre outros estados. Em um momento, quase cem mil operários estavam em greve.

A radicalidade nos enfrentamentos
Durante essas greves, está sendo muito comum a utilização de métodos radicais, com enfrentamentos com a polícia, destruição de casas e mesmo canteiros de obras.

Isso indica uma grande disposição de luta e uma insatisfação acumulada. E agora, mais além dessas obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), os trabalhadores da construção civil de Fortaleza se preparam para sua campanha salarial que já originaram greves com grande número de enfrentamentos.

O PAC questionado
As greves mostraram ao país a situação dos trabalhadores nas obras do PAC. Recebem salários miseráveis, têm condições de trabalho lamentáveis, com práticas de humilhação e opressão.

Tudo muito diferente da situação das empresas, beneficiadas com contratos milionários.

A construção civil no Brasil vem crescendo em um ritmo acelerado, com índices “chineses”, que atingem 15% ao ano. Com a perspectiva da Copa e da Olimpíada, além da expansão das moradias populares, existe uma tendência de continuidade de forte crescimento.

A combinação entre o crescimento econômico e superexploração vai criando vários barris de pólvora em todo o país.

A crise dos sindicatos
As greves revelaram também a falência da CUT e Força Sindical. Na maior parte dos casos, os sindicatos não representavam ninguém e nem eram reconhecidos pela base.

Não foi por acaso que o governo petista, que em geral só reconhece essas duas centrais pelegas teve de aceitar a participação da CSP-Conlutas na reunião nacional que discutiu a crise no setor.

Durante a reunião, a CSP-Conlutas foi a única a reivindicar a mudança real na situação dos operários, com o fim da terceirização e a contratação com salários dignos dos empregados.

Em uma luta é fundamental saber quem é seu inimigo
Mais uma vez fica claro para quem o PT governa. As empresas se beneficiam dos contratos milionários do PAC. O governo, que tem enorme poder de pressão sobre elas por estar financiando essas obras, nada faz pelos trabalhadores.

Os operários da construção civil não têm em Dilma uma aliada. As empreiteiras da construção civil são uma das maiores fontes de financiamento das campanhas do PT.

Um exemplo a ser seguido
Todos estão vendo a inflação reduzindo dia a dia nossos salários. Segundo o próprio IBGE, o rendimento médio real recebido nas seis maiores regiões metropolitanas do país caiu 0,5% em fevereiro na comparação com janeiro. Os salários começam a perder a corrida contra a inflação.

É por isso que o exemplo das greves da construção civil deve ser discutido pelas outras categorias de todo o país. É hora de começar a lutar pelos nossos salários.

É hora de se incorporar no plano nacional de mobilização convocado pela CSP-Conlutas que aponta o dia 28 de abril como Dia Nacional de Lutas. Unificar as lutas do funcionalismo público já em marcha, do movimento popular e dos estudantes em todo o país com os operários da construção civil.

Post author Editorial do Opinião Socialista Nº 421
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