Alfredo Palácios, o vice de Lúcio Gutierrez, assumiu o poder na quarta-feira, dia 20 de abril, às 14h52, no clímax do processo revolucionário. A posse foi decidida pelos deputados, que tiveram de deixar a sede do Congresso Nacional e se reunir em outro edifício (CIESPAL-Centro de Internacional de Estudos Superiores para América Latina), já que as massas haviam tomado parte das instalações da sede do poder legislativo e não havia segurança na região central para os deputados.

Palácios ficou detido por três horas no edificio do Ciespal, quando tentou fazer um discurso fora do edificio. A multidão invadiu e ocupou vários ambientes do local, impedindo Palácios de sair para a sede do governo. Neste momento, vários deputados também foram vaiados, esmurrados e detidos pelos manifestantes que pediam o fechamento do Congresso. O que salvou o Congresso e Palácios foi a rádio La Luna, que convocou os manifestantes a garantir a legalidade e impedir qualquer tipo de “golpe”.

Palácios, no momento de sua posse, fez um discurso radical para justificar seu cargo “o povo deciciu refundar a República, uma República de esperança, cujas ruas, campos verdes e caminhos floresçam e onde reinem a dignidade, a esperança, a equidade e a alegria…A partir de hoje refundaremos uma República que abra as escolas, os hospitais, as fábricas e as empresas que fecharam”. Palácios também anunciou uma Assembléia Constituinte, descartando a antecipação das eleições.

Na mesma semana, estava ocorrendo a IX Rodada de Negociações do Tratado de Livre-Comércio (TLC), entre Equador, Peru, Colômbia e Estados Unidos, na cidade de Lima, e o chefe da delegação equatoriana, Christian Espinoza, declarou para os principais jornais que “não se vai interromper as negociações do TLC, pois é uma política de Estado que vai muito além da conjuntura”.

E assim foi feito. Palácios até agora não disse nada contra o TLC nem anunciou a consulta popular tão exigida pelos movimentos sociais. Ao contrário, manteve Espinoza como chefe negociador e indicou pessoas de sua confiançaa para o segundo escalão da equipe.

Palácios forma sua equipe, até agora composta por membros oriundos da Esquerda Democrática e do Pachakutik. No dia 25 de abril, ele anunciou que respeitará os acordos internacionais e manterá a base militar norte-americana de Manta, na Provincia de Manabí, e recebeu em reunião fechada, a embaixadora dos Estados Unidos, Kristie Kenney, a mesma que se reunia em segredo com Lucio Gutierrez. Kenney saiu da reunião muito feliz e afirmou “Conheci Alfredo Palácios quando era vice-presidente, temos mantido sempre um bom contato e seguiremos assim…nunca rompemos relações, seguimos trabalhando com o governo e com o povo equatoriano porque o Equador é um país de oportunidades”.

O atual presidente também convocou uma mesa nacional de diálogo para discutir as reformas do Estado que, segundo ele, sairão de um amplo acordo. O Congresso, também alvo da fúria popular, está voltando ao seu funcionamento normal sob a direção do partido de direita PSC, em aliança com a Esquerda Democrática, que governa Quito, e com Pachakutik, partido que dirige a CONAIE, a confederação indígena. E, desta forma, já começam as negociações para a composição das novas cortes de Justiça.