Geraldo Batata, de Contagem (MG)

Estamos em meio à maior pandemia da história recente. Chegou-se a ter, no mundo, quase a metade da humanidade em quarentena e com restrições de locomoção. Já são meio milhão de mortos, sem contar subnotificação gigantesca promovida por governos como de Bolsonaro e Zema. O número de infectados já beiram os 7 milhões. Mas isso não é suficiente para amenizar a sede por lucro dos grandes capitalistas, especuladores do sistema financeiro.

Para a classe operária da maior parte dos países a quarentena não existiu, ou foi aplicada parcialmente a contragosto dos patrões. Isso é assim no Brasil e em Minas Gerais também. De forma escandalosa e gritante, os trabalhadores são submetidos a continuarem trabalhando extensas jornadas, em imensas aglomerações, sujeitos a rebaixamento de salários, redução de direitos e risco de morte permanentes, para si mesmos, companheiros de trabalho, familiares e comunidades.

Contam para isso com a ajuda do governo Bolsonaro, que determinou, através de uma portaria, que a mineração era serviço essencial. É como comparar o trabalho nas minas tão essencial quanto um trabalhador da saúde, por exemplo.

Resultados desastrosos para os trabalhadores

Passados pouco mais de dois meses do início da pandemia os resultados aparecem, ainda que subnotificados. Segundo reportagem do site G1 deste dia 5 de junho, as cidades mineradoras vivem aumento vertiginoso de casos de Covid-19. Abaixo um resumo dos dados do site sobre os casos na mineração:

Itabira: 440
Barão de Cocais:  44
Santa Bárbara: 77
S. Gonçalo do Rio Abaixo: 25
Ouro Preto: 62 casos, sendo 80% na mineração
Mariana: 328 casos, sendo 185 de mineradoras
Nova Lima: 184
Itabirito: 100 casos na cidade, sendo 94 nas minas da Vale
Congonhas: 32 casos confirmados
Total: 1.392

Caso consideremos os próprios prognósticos do governo do estado, em que para cada caso confirmado existem 10 subnotificados, podemos presumir que temos só nessa região 13.920 trabalhadores e moradores contaminados.

A Justiça do Trabalho acaba de interditar as Minas da Vale em Itabira (Conceição, Cauê e Periquito), em ação do Ministério Público do Trabalho, após os casos de Covid saltarem de 27 casos para 448. Outras mineradoras também estão sendo denunciadas. Empresas gigantescas colocam os trabalhadores em risco e mantém suas minas em operações com milhares de operários e operárias, entre elas, a CSN, CBMM, Belgo, AngloGoldAshanti.

Grandes indústrias também seguem a todo vapor

Mas não são somente as grandes mineradoras que espalham o vírus. As grandes indústrias do estado continuaram a produção durante toda pandemia. Valourec, Gerdau-Açominas, Usiminas, Aperam, as siderúrgicas do Norte de Minas, como Liasa, Minas Ligas, Rima, enfim empresas espalhadas por todo o estado. Todas argumentam, assim como a Vale, que seguem as orientações de higiene da OMS, mas invariavelmente esse argumento é apresentado em todos os países para que grandes empresas mantivessem funcionando a produção. Invariavelmente também essas mesmas empresas foram fatores de disseminação do contágio. Citamos aqui o exemplo da Valourec (antiga Manesmann) que anunciou em boletim interno que os casos quase dobraram entre 28 de maio e 5 de junho, saltando de 63 para 108 casos confirmados. Afirmamos categoricamente que as grandes indústrias são as responsáveis, da mesma forma que Vale e Valourec, por disseminar o vírus entre os operários e na população.

FIAT e autopeças

A FIAT, assim como as outras montadoras, paralisou as plantas entre os dias 27 de março a 21 de maio, junto com suas fornecedoras. A partir de 11 de maio aos poucos a montadora voltou a funcionar, seguida também pelas fornecedoras. Ou seja, a paralisação durou menos de um mês.

O setor implementou também uma redução de salários e jornada, em até 50% dos salários, através da MP 936, com a justificativa de que era necessário para não haver demissões. No entanto, não é essa realidade que estamos vendo. São diversos ataques contra os trabalhadores. Pequenas e médias empresas estão fechando as portas e concentrando mais ainda a produção, milhares de trabalhadores estão sendo demitidos, principalmente de terceiras. A própria redução de salários impõe uma piora considerável nas condições de vida. Na própria montadora, milhares de trabalhadores tiveram os contracheques zerados, por conta dos descontos e da redução salarial.

Riqueza extraordinára produzida nos últimos anos

Estamos falando das maiores empresas instaladas no país. Grandes conglomerados que faturam dezenas de bilhões de reais. Lucros astronômicos e polpudos dividendos distribuídos aos acionistas. Somente a Vale faturou 37,5 bi de dólares, em 2019, 36,5 bi, em 2018, e 33,9 bi, em 2017. A FIAT faturou 8,9 bi de dólares (2018), em todas as plantas instaladas no país. Seguida por grandes empresas como Vallourec, R$ 3.853 bi (2018), Aperam, com R$ 3.494,1 bi (2018), Gerdau com R$ 46,1 bi (2018), etc. Só para citar esses exemplos e se analisarmos os balanços dessas empresas veremos que essas gigantes teriam condições de garantir uma quarentena real e impedir milhões de contaminações e mortes no país.

Mas não é de hoje que essas empresas tratam os trabalhadores como bucha de canhão. A Vale tem histórico de diretorias psicopatas à frente. Os crimes das barragens de Fundão (Mariana) e Córrego-feijão (Brumadinho) são demonstrações absurdas e dolorosas disso. A direção da empresa sabia dos riscos e preferiram deixar acontecer os rompimentos que mataram centenas de pessoas, destruiu rios, peixes, matas, e a economia das cidades.

Todas essas grandes empresas também são responsáveis por milhares de acidentes do trabalho com mutilações, incluindo mortes. Esse comportamento é típico do capitalismo. Agrava-se que vivemos um processo de intensificação da exploração em graus sobre-humanos, com as reformas trabalhista, da Previdência, as terceirizações, e precarização das fiscalizações.

Bolsonaro e Zema adotam política de subnotificação e genocida

Hoje não existem mais dúvidas. Os grandes empresários deram as ordens e os governos, desde o genocida Bolsonaro, até os governadores e prefeitos, todos adotam a flexibilização da quarentena e decidiram que os trabalhadores podem se infectar e que milhares podem morrer. No dia 7 de maio, dirigentes de várias associações patronais marcharam junto com Bolsonaro ao STF pedindo para acabar com a quarentena. Por isso, esses governos subnotificam os casos para esconder dados, como a promovida por Zema, e agora Bolsonaro simplesmente decidiu que não vai divulgar o número de óbitos.

As prefeituras de grandes cidades também pouco se esforçaram para garantir uma quarentena de verdade e reabriram o comércio de forma prematura, contra todas as orientações dos especialistas. E agora, diante do aumento dos casos de Covid19, veem-se obrigadas a fechar novamente.

É preciso garantir a quarentena, estabilidade no emprego, salários e direitos

A conclusão é que estamos vivendo um período muito difícil para a classe trabalhadora. Já são quase 40 mil mortos, pais, mães, filhos de nossa classe. Segundo dados da Universidade de Washington, teremos 5.000 mortes diárias em agosto. As mortes podem chegar a centenas de milhares.

Diante disso, temos duas tarefas centrais e imediatas: garantir uma paralisação geral da produção e circulação das mercadorias por pelo menos um mês, a fim de evitar o massacre de nossa classe, com estabilidade no emprego e sem retirada de direitos. Junto a isso devemos derrubar governos genocidas, responsáveis por esse massacre, como Bolsonaro/Mourão e Zema.

É preciso discutir nas fábricas e locais de trabalho como garantir essas tarefas. Sabemos das dificuldades, do terror que a patronal impõe nesse momento, da vigilância cerrada dos pelegos e chefes, mas a classe trabalhadora está sendo empurrado ao abatedouro, junto com nossas famílias. Qual opção tem o trabalhador? Viver ou morrer? Viver sob o chicote e ver nossas famílias adoecendo e milhares de pessoas perdendo a vida, ou lutar para garantir a vida. É o momento de preparar a luta. Construir uma forte união entre os operários das grandes fábricas, das minas, das pequenas e médias empresas, do conjunto da população para impor a defesa da vida. Vamos debater, procure seu sindicato, criar milhares de grupos em fábricas, comitês de defesa da vida.

Devemos impor um governo socialista dos operários e operárias com conselhos populares

Por fim, essa pandemia demonstra claramente o grau de decadência do sistema capitalista. Sequer consegue enfrentar uma pandemia de gripe, e garantir uma quarentena de verdade. Sequer consegue acabar com a fome, o desemprego e miséria. Isso porque a maior parte da riqueza produzida fica nas mãos de um punhado de capitalistas avarentos, especuladores do sistema financeiro e latifundiários. Gente cujo único objetivo no mundo é obter o máximo de dinheiro possível, mesmo que sobre uma montanha de ossos.

Precisamos mudar esse sistema. Construir um governo socialista dos trabalhadores, organizado em conselhos populares, que garanta a utilização de todos os recursos públicos e privados para salvar as vidas da classe trabalhadora. Expropriar os bens dos grandes empresários que promovem, junto com Bolsonaro, a morte de milhares de pessoas, e o desastre econômico do país.

Um governo dessa forma pode proibir a remessa de lucros aos acionistas e usar esse dinheiro para gerar mais empregos. Pode acabar com a farra dos banqueiros que saqueiam o Estado através da dívida pública. Pelo tamanho da crise, somente um sistema socialista, pode abarcar com a dor e sofrimento que vivemos e sua tendência mais destrutiva ainda com a pandemia da Covid-19.