A maioria dos trabalhadores brasileiros acredita que o Brasil vai seguir crescendo e que escapará da crise econômica que se agrava em nível internacional. Essa falsa consciência está apoiada no crescimento econômico que ainda segue, além de ser martelada por uma forte propaganda governista.

A realidade, porém, é muito diferente. Existe uma grave crise se espalhando que vai sacudir fortemente o país. A economia capitalista funciona em ciclos, que alternam períodos de crescimento e crise.

O crescimento terminou e começou uma recessão, ainda que de forma desigual, no centro da economia planetária, nos países imperialistas.

A face mais visível da crise neste momento é a bancária. O Lehman Brothers, quarto maior banco de investimentos norte-americano, acaba de falir. O segundo deles, o Merryl Linch, foi adquirido a preços baixos pelo Bank of America porque estava também à beira da falência. A AIG, a maior seguradora dos EUA, depois de prejuízos de US$13,2 bilhões no primeiro semestre, está quase falida.

Os governos imperialistas torram bilhões de dólares para salvar essas empresas e evitar o contágio da economia como um todo. A burguesia aprendeu com a grande crise de 1929 e usa com toda a força o Estado para evitar a falência de todo o sistema financeiro.

Aqui desaparece toda a conversa fiada do liberalismo, da “confiança no mercado” e na “qualidade das empresas privadas, que é superior às empresas estatais”. Só para salvar as duas maiores companhias de crédito imobiliário nos EUA (Fannie Mae e Freddie Mac), o governo Bush liberou US$200 bilhões. No entanto, os efeitos dessas ações são pequenos, durando apenas algumas semanas ou mesmo dias.

A recessão se instalou em setores de ponta da indústria imperialista dos EUA, como a automobilística e a de construção civil. A GM, um dos símbolos do capitalismo, a maior produtora de automóveis do mundo, discute a possibilidade de falência. Começam a aparecer sintomas graves de pânico nos bancos americanos.

O segundo trimestre deste ano marcou a extensão da recessão para Europa e Japão. A economia dos EUA voltou a crescer de forma temporária, mas voltará a cair neste segundo semestre.

A crise vai ser grave
Ao atingir o coração da economia mundial, é inevitável que a crise se estenda ao conjunto e atinja o Brasil. A discussão verdadeira não é se a crise vai ou não chegar ao Brasil, mas quando e em que dimensão.
Nós queremos alertar os trabalhadores que a crise virá e será grave. Em períodos de crescimento econômico são os grandes empresários, banqueiros e industriais que enriquecem ainda mais. Para os trabalhadores sobram as migalhas, como os reajustes do salário mínimo e o Bolsa Família. Basta ver a situação das campanhas salariais de agora, com os patrões tendo lucros altíssimos e se recusando a dar reajustes decentes para os trabalhadores.

Mas, quando a crise vier, a situação vai se polarizar brutalmente. É sempre sobre os ombros dos trabalhadores que a burguesia descarrega o peso das crises, com o desemprego e a redução dos salários.

Já existem os primeiros sinais da crise. Primeiro foi a inflação, que elevou o preço dos alimentos. Agora é a queda das bolsas. A Bovespa já caiu perto de 34% desde o dia 20 de maio, quando atingiu seu pico. Ou seja, as empresas da Bolsa perderam um terço de seu valor em quatro meses. No dia em que fechávamos esta edição, a Bolsa caiu 7,59%, a maior queda diária desde os atentados do World Trade Center em 11 de setembro de 2001.

Outro reflexo é a queda do saldo comercial. O saldo da balança comercial no primeiro semestre de 2008 foi de US$11,3 bilhões, tendo uma queda de 45% em relação ao mesmo período de 2007. Com a recessão nos países imperialistas é inevitável que as exportações brasileiras sejam cada vez mais afetadas. A queda nos preços das matérias-primas exportadas já é uma de suas conseqüências.

A gravidade da situação bancária é um dos sinais de que a crise nos EUA será pior que a de 2000-2001. Alguns falam mesmo que será a pior desde a depressão de 1929. Vale lembrar que Lula deve sua eleição à crise de 2001, que desgastou profundamente o governo FHC. Como serão os reflexos políticos da nova crise sobre o governo Lula?

A atual campanha eleitoral é uma demonstração da farsa da democracia burguesa. O governo ainda lucra em cima do crescimento econômico e deve ganhar as eleições, já que os efeitos da crise só vão chegar depois de fechadas as urnas, no fim do ano.

Todos os candidatos do bloco governista e da oposição burguesa prometem o paraíso caso sejam eleitos. Isso já tem um claro conteúdo de manobra em condições de crescimento econômico. Na véspera de uma crise, soa como uma piada de mau gosto.

O PSTU não faz promessas eleitorais desse tipo. Defendemos que para mudar a vida nos municípios é preciso mudar a política econômica a serviço do pagamento das dívidas interna e externa. Mais ainda com a crise que se avizinha, é preciso parar de pagar a dívida para investir em saúde e educação.

O PSTU utiliza a campanha eleitoral para apoiar a luta dos trabalhadores, como agora nas campanhas salariais do segundo semestre, que podem ser as últimas antes da crise econômica que se aproxima. É preciso conquistar reajustes salariais de peso para repor as perdas da inflação passada e para se precaver contra a crise que está vindo.

Post author Editorial do Opinião Socialista nº 354
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