Valor gasto em repressão poderia criar mais de 5 mil novas vagas em creches no estado

Para conter os protestos contra os gastos da Copa, o governo tucano de Geraldo Alckmin está importando uma velha receita da ditadura chilena de Augusto Pinochet (1973-1990). O governador mandou comprar, para a Polícia Militar do Estado de São Paulo, 14 veículos blindados, entre eles quatro caminhões equipados com canhões de água para dispersar multidões.

Durante a ditadura chilena, esse tipo de veículo foi amplamente utilizado para dispersar manifestações políticas.  O “cañones de água” ainda são amplamente utilizados no país contra protestos públicos (veja aqui), uma demonstração clara  do perverso legado repressor ainda vigente no país. Os jatos de água também foram utilizados na Turquia, para reprimir os manifestantes que protestava contra a demolição do parque Taksim Gezi, em Istambul.

Prioridades
Por aqui, Alckmin já ordenou a abertura do processo de licitação. Estima-se um gasto de até US$ 15 milhões com a frota, o equivalente a cerca de R$ 35 milhões.

Cada veículo com jato de água deverá custar US$ 808.476 (R$ 1,8 milhão). Os blindados terão a capacidade de atingir pessoas que estejam a até 60 metros de distância. Como no Chile e na Turquia, o canhão permitirá combinações de água com gás lacrimogêneo e tinta. Assim, as manchas de tinta serão utilizadas para a PM identificar ativistas (ou simples transeuntes) que estiveram presentes na manifestação, ou então, que simplesmente estavam próximos e foram atingidos pelo canhão de água. Uma vez “identificados”, a policia poderá sair às ruas à caça daqueles que estiverem com suas roupas manchadas de tinta. Tudo ao gosto do velho ditador Pinochet.

Esse dinheiro utilizado para a compra dos blindados poderia ser destinado em gastos sociais de grande relevância, como por exemplo, na construção de creches, reduzindo o dramático déficit de vagas para crianças.   Segundo cálculos do Ilaese (Instituto Latino-Americano de Estudos Sócio-Econômicos), para suprir o déficit total de creches hoje no país, seriam necessárias 70 mil unidades com capacidade para 120 crianças, ao custo de R$ 740 mil cada. Ou seja, com o que o governador vai gastar com os veículos para reprimir protestos, daria para construir 47 novas creches, atendendo nada menos que  5600 crianças.

Já o governo de São Paulo calcula que seria necessário pouco menos de R$ 1 milhão para construir cada creche. Assim, com que o será gasto na repressão, daria para construir 35 creches no estado, segundo os cálculos do próprio governo tucano. Mas Alckmin dá de ombros para o povo trabalhador, em particular às mães trabalhadoras. Prova disso é que o programa “Creche Escola”, lançado pelo governo paulista em 2011 para repassar verbas aos municípios na área da educação infantil, resultou na entrega de apenas 24 unidades (das mil prometidas).

Em 20 anos de governo, os tucanos sempre deixaram claro sua opção pela repressão. O Orçamento Público de São Paulo confirma isso. Dos R$ 189,1 bilhões previstos, R$ 17,8 bilhões são destinados à Secretaria da Segurança Pública, um valor muito próximo do total que é destinado a Saúde (R$ 18,8 bilhões).  

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